Massacre de Realengo: 10 anos da tragédia que chocou o Brasil

Relembre na reportagem os principais fatos do caso e o que foi feito a partir dessa data pela memória das vítimas e por seus familiares.

foto: Agência Brasil

O dia 07 de Abril de 2011 ficou marcado na história do Brasil com um dos maiores massacres escolares vividos até hoje, o Massacre de Realengo. A tragédia aconteceu na Escola Municipal Tasso da Silveira, no bairro de Realengo, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, ex-aluno da escola, entrou afirmando ser um palestrante. Com um revólver em cada mão, ele matou 12 crianças, deixou muitas mais feridas, e a dor no coração de tantas famílias, e na memória do povo brasileiro. 

Adriana de Silveira, mãe de Luiza Paula da Silveira, uma das vítimas, se juntou às outras famílias e uniram forças para fundar a ONG “Anjos do Bem”, onde buscam manter viva a memória de vida de seus filhos, através, principalmente, da luta contra o bullying, pela segurança nas escolas públicas e inclusão ao atendimento psicológico. Ela também dá palestras para pais e alunos sobre como prevenir a violência em escolas.

Em memória às vítimas, foi fundado, em 2015, um memorial com esculturas em bronze de todas as crianças, ao lado da escola Tasso de Oliveira. Todos os anos, familiares e pessoas solidárias ao ocorrido, vão até o local e prestam suas orações e homenagens. Este ano, assim como no ano passado, o evento não poderá ser de forma presencial para evitar aglomerações.

Apesar disso, a data não passará em branco, pois a memória da importância dessas vidas que foram perdidas, precisa ser mantida. Hoje (07/04), acontece uma homenagem no santuário do Cristo, com uma missa guiada pelo padre Omar e uma celebração que contará com a presença do cantor Mumuzinho e da cantora Elba Ramalho. Ao final, a estátua do Cristo Redentor será iluminada de verde, representando a esperança.

O dia de hoje, apesar da triste lembrança, traz também uma boa notícia. A vereadora Monica Benicio e os vereadores Tarcísio Motta e Chico Alencar apresentaram, nesta quarta-feira, à Câmara de Vereadores do Rio, um projeto para autorizar a concessão de uma pensão vitalícia às famílias das vítimas do Massacre de Realengo. O objetivo do projeto é levar algum apoio material às famílias, que até hoje precisam arcar com custos de tratamentos para manterem sua saúde mental e física.

Adriana Silveira, presidente da Instituição Anjos de Realengo, junto à outras mães das vítimas, em frente ao monumento criado em homenagem _ foto: Marcos Arcoverde

Superação 

 Thayane Tavares, que na época do atentado tinha 13 anos, levou 4 tiros na perna e ficou paraplégica. Ela conversou com a Agência de Notícias das Favelas e contou como se sente hoje, 10 anos depois, em relação ao acontecimento. 

Após 10 anos sigo com minhas lembranças intactas de cada detalhe daquele dia. Ao lembrar desta data me passa um filme na cabeça, tudo que precisei passar para chegar até aqui, tantas noites em claro sentindo dor, percebendo a diferença entre noite e dia, dentro do CTI, por uma janela escondida que refletia a claridade e pensando: será que vou lá fora um dia? Parecia tão distante. Esse dia me remete a dor, desespero, mas principalmente minha fé e minha relação com Deus, foi uma experiência de “quase morte” que, após 10 anos, ainda sigo estudando para compreender completamente o momento que tive com Deus através de tudo isso, conta Thayane.  

A estudante de Direito conta que ainda mantém contato com quase todos os antigos colegas de escola e alguns familiares, além de já ter participado de vários programas que trataram sobre o caso, e já ter dado palestras sobre a história dela e como transformou a dor em força interior. Ela também afirma que encontrou nos esportes, estudos e na fé os grandes alicerces para sua superação. 

— Hoje tenho o esporte como um hobby. Amo praticar paracanoagem, é um esporte que me ajudou muito e me ajuda até hoje. Recuperei boa parte do meu controle de tronco, meu equilíbrio, força nas pernas e nos braços, o que é ótimo também para tocar a cadeira sozinha sem precisar de ajuda, e melhor ainda, uma terapia para a mente. É maravilhoso estar no mar e não se sentir limitada por não ter movimentos nas pernas; dentro da canoa não existe deficiência, limitação, estamos de “igual pra igual” e isso é incrível. Eu me divirto muito, mas profissionalmente o Direito está no meu coração.

paracanoagem Thayane Tavares Realengo (Foto: André Durão / Globoesporte.com)
Thayane praticando o esporte que a auxilia na melhora da saúde física e mental _ Foto: André Durão

e continua sobre seus sonhos dentro da profissão:

Pretendo trabalhar como advogada e ainda estou indecisa quanto a área mas sei que quando nasce um advogado, no início a gente trabalha em todas as áreas até se encontrar, então não estou preocupada com isso, Pretendo prestar concurso para juíza após um tempo como advogada. Minha dedicação está no meu desenvolvimento profissional e pessoal. Acredito que existe um tempo para tudo e quero curtir mais um pouco minha solitude, concluir a faculdade ano que vem e ainda tem OAB. Estou numa fase muito boa e quero aproveitar cada momento desse novo ciclo na minha vida, conclui Thayane.

Sobre o assassino

Wellington havia estudado na mesma escola em que cometeu o assassinato alguns anos antes, na mesma série em que estavam as crianças que matou, e a mesma em que ele relatou, por meio de cartas, que sofria diversos tipos de bullying, sendo os feitos por meninas, aqueles que mais o marcaram.

Não por acaso, seu ataque se deu, sobretudo, sobre as meninas da sala, deixando muitas feridas e sendo a maioria entre os mortos. Além de cartas,  o assassino também deixou gravações, em que dizia muitas vezes fatos contraditórios; não se responsabilizava pelo crime e buscava justificar a ação que iria cometer, pela série de atitudes violentas, de ordem física ou psicológica, que ele e muitos outros haviam sofrido durante a vida. 

Objetos encontrados na casa dele, e relatos colhidos por uma série de reportagens e investigações sobre o caso, admitem que se tratou de um crime realizado por uma pessoa com transtornos psicológicos, provavelmente esquizofrenia. Wellington, que foi abandonado pela mãe e adotado por uma familiar, sempre foi uma pessoa isolada, sem muitos amigos, e após a morte de sua mãe adotiva, buscou ainda mais o isolamento.

Era fascinado pelo Islamismo, terrorismo, pela figura de Bin Laden e, motivado pelo ataque às torres gêmeas, e outros atentados em série realizados tanto no Brasil quanto em outras partes do mundo. Ele planejou todos os passos do que acreditava ser um ato heróico e que foi, na verdade, uma grande tragédia mundialmente conhecida e nunca mais esquecida. 

foto tirada por Wellington, onde mostra a carta que levava no dia do ataque à escola _ foto: Folha de São Paulo

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