Comunicação Comunitária: as microrrevoluções na periferia de Sobral/CE

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10 de maio de 2021

Há agências positivas, solidariedade, engajamento, redes de relações entre a comunidade- Crédito: Movimento Social FOME

Comunicação, obviamente, todos entendem que é a ação de transmitir mensagem, e eventualmente, receber outra como resposta. Mas será que as formas de repasse dessas informações são capazes de afetar todas as pessoas de modo que gerem mudanças de posturas e práticas sobre o que está sendo comunicado?

É possível que algumas informações recebidas hoje talvez não gerem efeito de imediato, sensibilização e conscientização, dada a enxurrada de falas e imagens diárias que nos são direcionadas a todo instante.

Inclusive, há falas que as vezes parecem abismais, parecem não fazer parte do cotidiano geral das pessoas, não se situam no tempo e no espaço de muita gente, tais falas parecem ser privilégios quando pensadas na prática.

Isto posto, cabe ressaltar que as periferias, as vezes tão estigmatizadas, marginalizadas e criminalizadas, estão tomando as rédeas de suas agências; é que a periferia não se atrofia diante das negatividades que lhes assolam.

Comunicação Comunitária

Há agências positivas, solidariedade, engajamento, redes de relações entre a comunidade.

Dessa forma, foi que o Movimento Social FOME em Sobra/CE, situado no Território I, que compreende os bairros Terrenos Novos, Vila União e Residencial Nova Caiçara, organizou a BIKE SONORA, uma estratégia de comunicação comunitária nesse território periférico.

De acordo com as informações contidas no card de apresentação a BIKE SONORA é um veículo de “Comunicação Comunitária no Território I (Vila União, Terrenos Novos e Caiçara) do município de Sobral para prevenção da Covid-19 nas periferias através de uma bicicleta sonora conduzida por três jovens da própria comunidade. Os jovens percorrem a comunidade para transmitir alertas de higiene e direitos. Esse material depois é distribuído nos grupos de WhatsApp da comunidade”.

Os jovens percorrem a comunidade para transmitir alertas de higiene e direitos- Crédito: Movimento Social FOME

Permeia os objetivos dessa iniciativa “Comunicar de forma comunitária, acessível e territorial as vinhetas de áudio de prevenção COVID 19”, além de “Promover de difundir narrativas periféricas que não perpetuem a cultura da violência”.

Bike Sonora

Sobre a dinâmica da BIKE SONORA, Renan Dias, um dos articuladores do projeto e membro do Movimento Social FOME, enfatiza que “A comunicação circula e passa de bike pelas ruas, becos e vielas dos bairros onde a Bike Sonora consegue chegar com o seu som móvel, que comunica e afeta a rotina corriqueira de quem passa e quem está dentro de suas casas. Não precisa sair de casa para ouvir as informações passadas pelo Bike Sonora o som ultrapassa as barreira e chega com força ao pé do ouvido para alerta sobre os cuidados com o coronavírus”. (http://frutosderesistencia.blogspot.com/2020/05/projeto-bike-sonora.html)

Renan Dias ainda cita e agradece a colaboração de parceiros nesse projeto de sensibilização e conscientização num momento tão difícil como é o caso da pandemia da COVID 19. Nesse processo, os Articuladores e Articuladoras da Unidade de Gerenciamento de Projeto de Prevenção de Violências – UGP/PV, foram essenciais, pois todos estes têm o papel de articular e mediar ações com a comunidade.

Jovens comunicadores divulgando mensagens na Bike Sonora nos três bairros do Território I- Crédito: Movimento Social FOME

A construção dos conteúdos de informação gravados e transmitidos, têm a colaboração da Escola de Formação em Saúde da Família Visconde de Sabóia. Ainda conforme Renan Dias, “As ações do Bike Sonora contam também com o apoio de muita gente da nossa sociedade que optam pela não apresentação frente as redes e a compreensão é salutar e os agradecimentos pelo apoio sempre serão divulgados com todo afeto e carinho por acreditarem na luta autônoma da periferia por dias melhores”. (http://frutosderesistencia.blogspot.com/2020/05/projeto-bike-sonora.html).

Renan Dias ressalta que, “O Bike Sonora se tornou a cada dia uma nova inspiração para novas possibilidades de trabalhar saúde, comunicação, prevenção e geografias de afetos que ultrapassam os territórios mapeadas pelos sentidos do campo de atuação do Movimento Social FOME. Desse modo, podemos reafirmar que a comunicação comunitária transita pelas cartografias das micropolíticas, ou seja, as informações circulas no Bike Sonora potencializam diariamente as chamas vivas das microrrevoluções periféricas”. (http://frutosderesistencia.blogspot.com/2020/05/projeto-bike-sonora.html).

Não precisa sair de casa para ouvir as informações passadas pelo ***Bike Sonora***– Crédito: Movimento Social FOME

É sobre esse agenciamento positivo que o texto se refere logo no início. Tais agências rompem com a “lógica” preconceituosa sobre o espaço periférico e seus moradores, reconfigurando desse modo, a periferia como um lugar de microrrevoluções, com micro políticas efetivas que afetam diretamente a vida de todos, numa forma de organização solidária e colaborativa.

As pessoas agenciam diretamente visando seus pares e suas realidades, se utilizando de códigos e símbolos linguísticos específicos, acessíveis a todos.