Ministério da Saúde quer Brasil sem tuberculose antes da meta mundial

Ministra da Saúde, Nísia Silveira, no lançamento da campanha contra tuberculose
Ministra da Saúde, Nísia Silveira, no lançamento da campanha contra tuberculose. FOTO: Divulgação

Nesta entrevista exclusiva ao jornal impresso Voz da Favela, editado pela equipe da Agência de Notícias das Favelas (ANF), a ministra da Saúde, Nísia Silveira, afirma que trabalha para que o Brasil elimine a tuberculose até 2030, cinco anos antes da meta mundial. Para isso, o país precisa recuperar os índices de vacinação, que caíram nos últimos anos.

Até 2018, a cobertura se mantinha acima de 95%. A partir de 2019, não ultrapassou 88%. “Reverter esse quadro é urgente e precisamos de todos, dos estados, municípios, Governo Federal e sociedade civil”, diz a ministra.

No ano passado, a tuberculose atingiu 78 mil pessoas no Brasil. Três municípios lideram os casos: Rio de Janeiro, São Paulo e Manaus. Para combater esse quadro e avançar na imunização, o ministério da Saúde lançou a Campanha Nacional de Combate à Tuberculose.

Há ações de comunicação, com transmissão de vídeos na televisão aberta e segmentada, inserções em rádios e internet. Estão acontecendo ações presenciais em locais de grande circulação de pessoas em todo o Brasil, com foco nas regiões prioritárias com maior incidência da doença, como Manaus, Belém, Rio Branco, Recife e Rio de Janeiro.

Na entrevista a seguir, Nísia Silveira detalha como agir nas cidades brasileiras, articulando políticas nacionais e internacionais – o Brasil é considerado prioritário pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para combater a tuberculose no mundo.

Quais os principais objetivos da campanha da tuberculose recentemente lançada pelo Ministério da Saúde?

A eliminação da tuberculose no Brasil é prioridade de um esforço conjunto do Governo Federal. Nós temos hoje um Comitê Interministerial para Eliminação da Tuberculose e outras doenças determinadas socialmente. Esse Comitê, criado pelo Presidente Lula, será coordenado pelo Ministério da Saúde e inclui mais 8 pastas, dentre elas o Ministério da Justiça e Segurança Pública, o Ministério da Igualdade Racial, e outros estratégicos. Iniciamos essa gestão empenhado em alcançar uma país livre da doença até 2030, cinco anos antes da meta mundial. Sabemos que, em 2021, a tuberculose alcançou número recorde de mortes já registradas no Brasil: 5 mil no total. É inadmissível que a gente ainda tenha esse dado de óbitos por uma doença que pode ser prevenida. Nossa meta  é alcançar as populações prioritárias e mais vulneráveis, como pessoas em situação de rua, pessoas privadas de liberdade, pessoas vivendo com HIV/aids, imigrantes e comunidades indígenas, além de reforçar a importância de medidas de prevenção, do diagnóstico e do tratamento correto.

A tuberculose tem cura e o diagnóstico e tratamento são feitos pelo SUS e é isso que nós queremos transmitir também. Mas grande parte da população geral não sabe disso. Pelo contrário, a tuberculose é cercada de preconceito. Deixamos claro, com a nossa campanha, que a tuberculose tem cura quando o tratamento é feito até o fim e que o apoio dos profissionais de saúde, da família e dos amigos faz a diferença.

Brasil é prioritários no combate à tuberculose pela OMS. FOTO: Divulgação

Entre as pessoas mais vulneráveis à tuberculose estão aquelas privadas de liberdade. Como superar barreiras que não dependem diretamente do Ministério da Saúde, como as más condições de presídios, que favorecem a transmissão?

Com a criação do comitê interministerial, nós teremos o componente de qualificação, capacitação e treinamento para unidades prisionais. Isso já foi feito no passado. Existem diretrizes, para o caso das pessoas privadas de liberdade, para garantir o acesso ao diagnóstico e ao tratamento no momento de entrada, durante a permanência e na saída do ambiente prisional. Portanto essa articulação entre Saúde, Justiça e Segurança Pública é fundamental para a implementação das medidas previstas e cuidar das pessoas privadas de liberdade, dos trabalhadores que atuam no sistema prisional e da comunidade que está envolvida no mesmo território.

Do ponto de vista das informações, que quando erradas ou mentirosas, prejudicam o combate à tuberculose, qual a estratégia do Ministério da Saúde?

O estigma associado à doença e à discriminação das pessoas com tuberculose são causados por informações erradas ou mentirosas. Ainda persistem na sociedade ideias equivocadas sobre sua transmissão e seu controle. A estratégia do Ministério da Saúde tem sido a articulação com o Ministério da Cidadania e dos Direitos Humanos na elaboração de diretrizes e materiais para capacitação de profissionais sobre a temática e em ferramentas para identificação e combate de fake news ou situações de discriminação, e paralelamente, os esforços também têm sido na área da comunicação, de forma a disseminar informações corretas e ter canais seguros junto ao público geral.

Sobre os equipamentos públicos de atendimento à saúde, há diferenças significativas entre as regiões brasileiras. Quais locais estão mais preparados e onde é preciso melhorar?

Em 2022, os municípios com maior número de casos de tuberculose no país foram Rio de Janeiro (com 6.450 casos), São Paulo (com 6.440 casos) e Manaus (2.570 casos). No Brasil todo, foram cerca de 78 mil casos novos de tuberculose em 2022. É importante considerar que a tuberculose se concentra principalmente nos grandes centros, mas que ela ocorre em todos os estados brasileiros, devendo ser considerada a estrutura dos equipamentos públicos de saúde para a sua prevenção, diagnóstico e tratamento. Por isso, é muito importante a discussão tripartite, de União, estados e municípios, sobre a organização e estruturação das redes de atenção à saúde, com avanços na regionalização e no fortalecimento da Atenção Primária à Saúde. Em relação ao que o Ministério da Saúde tem realizado para promover essas melhorias, é possível destacar – na questão laboratorial – a habilitação de laboratórios de referência nacional e regionais.

Como enfrentar o retrocesso dos últimos anos em relação à eficácia de tratamentos de saúde, como vacinas?

É importante destacar que a vacina BCG, que previne formas graves da doença, é eficaz e segura. Aumentar as coberturas vacinais de todos os imunizantes, inclusive para a vacina BCG, tão importante para o controle da tuberculose, é prioridade. Por isso, lançamos o Movimento Nacional pela Vacinação. Nos últimos anos houve uma redução importante da cobertura vacinal. Até 2018, o índice de vacinação se mantinha acima de 95%. A partir de 2019, a cobertura não ultrapassou os 88%. Reverter esse quadro é urgente e precisamos de todos, dos estados, municípios, Governo Federal e sociedade civil, é uma missão de todos nós. Precisamos também da ciência para o desenvolvimento de novos medicamentos para que sejam possíveis tratamentos mais curtos. O comitê interministerial terá um papel fundamental no incentivo a pesquisa e inovação e no aprimoramento do centro tecnológico e industrial do país, colocando as doenças de determinação social, incluindo a tuberculose, como prioridade. O Ministério da Saúde espera promover, em parceria com a pasta de Ciência e Tecnologia, editais de pesquisa em tuberculose; assim como já foi anunciada a retomada do complexo econômico industrial da saúde.

Índices de cobertura vacinal precisam ser recuperados. FOTO: Divulgação

Qual a situação do Brasil na comparação com outros países onde a tuberculose também precisa ser combatida? Estamos à frente, atrás, em condições similares de combate e superação da doença?

O Brasil é considerado prioritário pela Organização Mundial da Saúde para o combate à doença no mundo. Estamos na lista da OMS dos 30 países com maior número de casos de tuberculose e de coinfecção TB-HIV. Somos os responsáveis por um terço de todos os casos de tuberculose das Américas, apesar disso nossa taxa de incidência, ou seja, número de casos por 100.000 habitantes, é a menor dentre os 30 países de maior número de casos.

Existem países de alta carga, como a Índia, que possuem desafios diferentes em relação ao controle da doença. O Brasil se diferencia dos demais países prioritários justamente devido à existência do Sistema Único de Saúde, nosso sistema com acesso universal, com as vacinas, exames e medicamentos disponíveis e gratuitos para a população, é uma fortaleza.

Além disso, o Ministério da Saúde tem diretrizes bem estabelecidas e coordenadas com estados e municípios. Temos um sistema nacional de vigilância e protocolos clínicos nacionais e recomendações nacionais. O nosso país terá a oportunidade de discutir esses desafios e mostrar as estratégias de enfrentamento na Reunião de Alto Nível pelo Fim da Tuberculose, que acontecerá em setembro, em Nova Iorque, de forma paralela à Assembleia Geral da ONU. A eliminação da Tuberculose como Política de Governo visa acelerar e intensificar as medidas para reverter esses retrocessos e intervir nos determinantes sociais da tuberculose e nas barreiras de acesso à prevenção, diagnóstico e tratamento.

É possível ter algum balanço, mesmo que parcial, da campanha do Ministério da Saúde no combate à tuberculose?

A Campanha foi lançada no dia 24 de março, com a transmissão de vídeos na TV aberta e segmentada, inserções em rádios e internet. Ainda foram realizadas ações em locais de grande circulação de pessoas em todo o Brasil, com foco nas regiões prioritárias com maior incidência da doença, como Manaus, Belém, Rio Branco, Recife e Rio de Janeiro.

Esse ano ainda foi possível realizar uma parceria com a Agência de Notícias das Favelas (ANF) nas comunidades da Cidade de Deus, Complexo da Maré, Complexo da Penha, Vigário Geral, Complexo do Alemão, Manguinhos e no Complexo de Acari no Rio de Janeiro e nas favelas Caçote II e Imbiribeira, no Recife. Nessa ação da campanha do Ministério da Saúde em parceria com a ANF, 125 famílias foram beneficiadas. Esse é um exemplo claro de como essas ações coordenadas, envolvendo toda a sociedade civil e entidades, são fundamentais para a eliminação de doenças.

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