Favela Vertical é atacada e suspende transmissão ao vivo

Coletivo vítima de ataques virtuais - Reprodução

O Coletivo Favela Vertical teve que encerrar a transmissão de uma das mesas da Semana da Profissão por causa de ataques coordenados, na noite da última quarta-feira, 5. No twitter, o fundador do coletivo, Rafael Oliveira disse que enviaram vídeos pornográficos e atacaram os professores presentes. “Uma rapaziada acabou de entrar em uma das mesas da Semana de Profissão e aloprou, tacou pornô, xingou os professores… Mesa teve que ser adiada. Se alguém souber como rastrear, dá o papo. Parece ter sido um monte de crianças mas internet não é terra de ninguém”, denunciou.

A mesa atacada fazia parte do evento online da 1ª Semana de Profissões do Pré-vestibular Social Conceição Evaristo, inaugurado este ano e um dos braços principais do Coletivo Favela Vertical. Os coordenadores do Pré-vestibular contaram do ataque e do sentimento de ver o trabalho atacado:

“No dia 5 de agosto, logo no início de nossa mesa sobre Economia, Direito e Relações Internacionais, fomos surpreendidos com ataques de um grupo organizado para acabar com eventos que têm acontecido em plataformas online. Sofremos alguns insultos, tivemos a tela compartilhada com conteúdo impróprio e fomos atacados com simultâneos acessos fora de nosso controle. Por isso, com bastante tristeza, tivemos nossa mesa suspensa.

As contas de acesso apresentam nomes comuns e imagens comuns para serem confundidas com os interessados. Dessa forma, como nossa intenção é que o evento alcance o maior número de pessoas, permitimos a entrada de todos que solicitam sem antes termos a ideia de que poderia acontecer um incidente tão cruel. De primeira, os participantes já se mostraram diferentes por abrirem seus microfones e começarem uma interação gradual com cumprimentos de “Boa noite”, mas, conforme alguns minutos passaram, começaram os insultos com vozes altas e, em sua maioria, masculinas. Ao percebermos o ocorrido, começamos a retirar os participantes da transmissão, porém, como já haviam sido aceitos uma vez, conseguiram retornar para o evento com ameaças do tipo “Vocês tiram e a gente volta.”, mostrando que a real intenção daquele ocorrido era acabar com o nosso evento.

Foram momentos de desespero, em que nos tornamos reféns do que acontecia nas nossas telas. Não sabíamos como agir e não conseguíamos também reagir para parar o ataque; tudo o que fazíamos não adiantava. Os interessados na mesa começaram a sair e muitas outras contas começaram a entrar, tornando o ambiente ainda mais confuso com diversas notificações, com o espelhamento da tela com vídeos de pornô, com músicas tocando em máximo volume e com palavras de baixo calão.

A coordenação continuou reunida na plataforma, tentando buscar uma solução para a organização da mesa. Outras contas começaram a querer acessar e, para tentar entender de alguma forma o que havia ocorrido, aceitamos a entrada desses novos ataques e tentamos estabelecer uma conversa. Cumprimentamos os nomes falsos que são apresentados e questionamos como conseguiram nosso link, se sabiam do que se trata o evento e tudo mais o que pudesse nos trazer resposta. Foi assim que soubemos, por um integrante com nome de “Juliana”, o que não garantia ser realmente uma mulher, que o link foi obtido pelo Twitter de uma de nossas coordenadoras que postou ao fazer a divulgação da mesa.

Diante, então, desse contato, buscamos no Twitter algum indício de um culpado, mas, como é de se esperar, os envolvidos nesses ataques usam contas falsas com nenhuma informação pessoal e ficam escondidos por trás das plataformas digitais. Em uma pesquisa rápida sobre invasão de eventos, podemos notar que têm sido corriqueiro eventos como esse em aulas, conferências e diversas outras situações que utilizam de vídeo-chamadas. Informação essa que foi acrescentada com algumas das falas que foram ouvidas pela coordenadora que permaneceu ainda no Google Meets, prestando atenção nos diálogos para tentar obter mais pistas. Os “hackers” falaram sobre existir um grupo no WhatsApp para envio e troca dos links a serem invadidos e ainda citaram que tinham acabado de conseguir um para uma aula EAD.

O sentimento é de impotência e muita decepção. Há muito trabalho e organização envolvidos em um evento como o nosso e outros que também são vítimas desses ataques. Foi uma noite de muita indignação e de questionamento sobre a internet ser uma terra de ninguém. Qual a intenção desses grupos? Qual a utilidade nisso que fazem? O que leva a mais de uma pessoa ter esse tipo de atitude? Como as plataformas podem melhorar para evitar isso?

Por fim, ficou a sensação de insegurança e uma mudança de comportamento geral para evitar que as próximas mesas sejam alvo desse mesmo problema. Vamos continuar trabalhando e vamos continuar com nosso evento, porque não iremos nos render ao egoísmo de pessoas que fazem o oposto de nós. Nós somos resistência”.