BBB: racismo não é entretenimento

João Luiz, participante do BBB 21, é vítima de racismo no programa- Crédito: Divulgação Rede Globo

O Big Brother Brasil é conhecido por ser um dos programas de entretenimento de maior audiência no país, mas a edição atual, sua vigésima primeira, se tornou um compilado de gatilhos e preconceitos que transformaram diversão e alienação em crises de ansiedade.

Essa edição do BBB já pautou as redes sociais sobre violência e abuso psicológico, sobre machismo, sobre homofobia e na última segunda-feira retratou ao vivo um caso de racismo como nunca havia acontecido na história do programa.

Mas o que poderia ser uma oportunidade de bater de frente com esse tipo de crime foi resumido pelo apresentador como: mágoa e fogo no parquinho. No jogo do entretenimento, vale tudo por audiência?

O acontecimento

A dinâmica da segunda-feira no BBB é conhecida como reunião de condomínio ou o dia do jogo da discórdia. É, realmente, o dia de colocar fogo no parquinho. Entretanto, nesse último dia 05, as coisas foram mais além.

Depois de uma prenda do monstro com fantasias de homens das cavernas, o cantor sertanejo e participante Rodolffo apontou que enxergava semelhança entre a peruca desgrenhada e suja da fantasia com o black power do professor de geografia e também participante João Luiz.

A fala atravessou o João e tocou em feridas abertas desde cedo pelo racismo estrutural existente no Brasil. Na “reunião de condomínio”, o João expôs isso e ao invés de receber um pedido de desculpas e retratação, teve que ouvir a mesma comparação outra vez.

A omissão

João chorou. Camilla de Lucas chorou. Eu chorei. A negritude chorou. As lágrimas do João falaram não apenas pela situação em questão, mas por todo um histórico racista que toda pessoa negra possui desde o momento em que nasce.

O discurso do Rodolffo é só mais um replicado por tantas e tantas pessoas que pelo comodismo de não precisar entender, não o fazem. O momento foi sim uma aula sobre racismo dada pelos participantes, mas ofuscada pela necessidade de manter a audiência e o cronograma do programa.

O BBB teve a chance de não fazer mais do mesmo e por tanta necessidade de fazer história, não fez nada. Foi conivente. Reduziu a polêmica e seguiu o baile.

Infelizmente o ao vivo não mostrou o show de argumentação que Camilla de Lucas apresentou, o Brasil da TV aberta não viu e nem ouviu a coerência com que a influencer explicou o racismo ali – mesmo quando não precisava explicar, ela fez.

O Brasil da TV aberta pode até ter se incomodado, mas saiu do sofá depois de ouvir um “o João tá magoado” e outro “hoje foi dia de fogo no parquinho”. O racismo, mais uma vez, serviu de recreação e entretenimento na televisão. Mas não, BBB, racismo não é entretenimento.

Este texto contém opinião do autor.

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