Compartilhando histórias negras pelo mundo traz literatura e afeto

Mariane Diaz traz visibilidade e protagonismo para as narrativas de histórias negras através de sua contação para crianças.

Antes da pandemia sempre em coletivo, Mariane Diaz em roda de conversa para mais uma contação de histórias. Foto: arquivo pessoal

Livros, adornos coloridos e tapete no chão são alguns ingredientes necessários para uma boa contação de história infantil. Além disso, para chamar atenção dos pequenos, usar da criatividade é a chave para abrir a imaginação e obter sucesso nesta arte. Acreditando na potencialidade e na mediação de leitura, a professora Mariane Diaz idealizou o projeto “Compartilhando histórias negras pelo mundo”, uma forma de apresentar autoras e autores negres do sul Fluminense.

O principal intuito é espalhar suas narrativas e que possam aprender a potência da autoria negra do estado do Rio de Janeiro a partir da contação de histórias. “Acredito na contação de histórias como troca de afeto, olhares. Das lembranças que tenho das contações realizadas em escolas ou espaços culturais, é justamente a troca de olhares, o brilho nos olhos, ser atravessada por alguma fala ou pergunta das crianças. Sinto muita falta dos abraços, dos comentários pós histórias, dos olhares. Acho que é uma forma de trabalhar com a contação de histórias e, principalmente, nesse momento difícil e de tanta dor, uma possibilidade de acalentar o coração e ouvir e vibrar boa energias; mas gosto mesmo é da troca, do diálogo, dos abraços” conta Mariane.  

As Josefinas Colab é uma das parcerias que Mariane Diaz encontrou na sua trajetória. Foto: Camila Loren

São muitas as vantagens de contar uma boa história para a saúde mental das crianças em tempos de Covid-19, como criar laços de afeto, diminuir a distância e estreitar vínculos de acolhimento. “Eu não experienciei ainda uma contação online com participação das crianças. Já participei de lives que as famílias interagem e dialogam a partir dos comentários, mas é outra relação. Acredito que o interessante é a possibilidade de intercâmbio. Tive a oportunidade de chegar e dialogar para além da cidade do Rio de Janeiro e isso é incrível”, opina a moradora de Bangu.

Registros da pandemia, Mariane Diaz (abaixo) na live com a Intérprete de Libras Sheila Martins (acima) aconteciam sempre as quintas-feiras no @olubayoeducacao. Foto: divulgação

Histórias negras importam 

Mariane começou a se aventurar na arte da leitura em 2019, após o curso de contação de histórias negras realizado pela Sinara Rúbia. Apesar de participar de outros cursos do mesmo gênero, a educadora não se sentia segura e a vontade. Na formação, Mariane Diaz aprendeu uma forma que dialogava mais com suas vivências, narrativas e oralidade. Em seguida começou a fazer parte do Grupo UJIMA – contadores de histórias negras.

— Eu que sou professora lido com as situações de racismo cotidianamente na escola. Eu entendo que essas narrativas, essas outras histórias, auxiliam no processo da construção das nossas identidades enxergando as potencialidades. Trazer a narrativa de uma família negra que aguarda, com muito amor e cuidado, uma criança negra que está chegando ao mundo, é fundamental. Compartilhar a história das sabedorias da erveiras, contar as histórias de lutas e resistências do quilombo, as histórias do Jongo… enfim, trazer essas narrativas ajudam a construir no imaginário das crianças, e dos adultos, outras referências; rompemos com a história única de que somos descendentes de escravos e tiramos as pessoas pretas das cozinhas e do lugar de submissão”, afirma Mariane

Antes do isolamento social, a professora periférica contava histórias negras para os pequenos utilizando imaginação e criatividade. Foto: arquivo pessoal

E completa: “Com as histórias damos protagonismo, visibilidade e humanizamos os corpos negros. O racismo desumaniza as pessoas negras, e por isso as pessoas acham que podem ser cobaias, que são corpos mais resistentes porque sobreviveram a todas as perversidades da colonização; e romper com essa visão é urgente! Essas narrativas nos ajudam a construir nossas histórias e compartilhamos com as crianças outras possibilidades. E por isso eu fiz questão de trabalhar, nesse projeto, com a contação de histórias a partir dos livros de autoria negra. Eu quero que as crianças se vejam nas fotos das e dos escritores, ilustradores e pensem: então eu posso escrever e ilustrar livros também. É isso que eu chamo a construção de outras narrativas – e realidades”.

Arte e literatura nos territórios periféricos

Produzir arte e literatura em periferias sempre é um desafio diário para os fazedores culturais espalhados Brasil afora. A importância de leis de incentivo e aporte financeiro pode ser um objeto transformador de sonhos em algo concreto. Para Diaz, “as leis de incentivo de produção de artes nas periferias são fundamentais! Obviamente, neste período de pandemia, em que muitos e muitos articuladores culturais e artistas periféricos estão sem a possibilidade de levar comida pra mesa, é urgente pulverizar as ações para as periferias colocando a territorialidade como um item de avaliação! Sabemos muito bem como a periferia é negligenciada pelo poder público e nos faltam aparatos culturais. Isso não significa que as periferias não produzem e criam culturas e não são potentes. Mas isso não é suficiente, é preciso, de fato, que as pessoas que mobilizam e produzem as artes sejam remuneradas por isso e as leis de incentivo e apoio são de suma importância”, finaliza.

Contação de histórias no colab e espaço cultural “As Josefinas”, Campo Grande, tema especial Ibejis. Ação voltada para as crianças das famílias das empreendedoras apoiadas pela casa com entrega de donativos. Foto: divulgação – As Josefinas

O primeiro vídeo da série está disponível no canal Olubayo: https://youtube.com/playlist?list=PLUWlgjXpKS4lsmXw48JAQIJX-6Gk1Iw4_

Compartilhando histórias negras pelo mundo recebe incentivo cultural através da Lei Aldir Blanc.

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