Zeca Pagodinho: 60 anos de puro talento!

Reprodução da internet

O meu saudoso irmão, Rodrigo Ferreira,  cavaquinista dos bons e fã incondicional do Zeca Pagodinho, falava ao telefone. Quando  desligou, perguntei com quem estava falando: “Com o Zeca!” Ele me chamou pra almoçar com ele lá em Xerém. Não me lembro bem a data, talvez tenha sido em 1995, época do Lp ‘Samba pras Moças’. Eu também tinha crescido ouvindo os bambas do samba e logicamente não queria perder essa oportunidade.
Pegamos um Busão na Central do Brasil, rumo a Xerém.
Quando chegamos no sitio, o próprio Zeca nos recebe no portão com a pergunta: Vocês querem beber o quê? Timidamente e com a alegria de estarmos diante uma figura mítica, que ouvíamos dia e noite sem parar, devo confessar, muito mais o meu irmão, que montou até fã-clube: O Jeito Moleque. Lembro do meu pai dizer: “Essa agulha vai furar o disco.”
Respondemos: Queremos beber água! Ele riu e brincou… água?! Mas aqui só tem cerveja! Ele nos apresentou a sua esposa Mônica e os seus filhos: Luizinho e Eduardinho, ainda eram pequenos. Depois pude revê-los mais tarde, no aniversário do Zeca, já rapazes. Foi um dia inesquecível… falamos sobre samba da antiga e os seus passos no mundo do samba…
Os versos improvisados no Cacique de Ramos. Ele  nos disse que nunca imaginou chegar até onde chegou. Depois de anos, fico pensando: chegou muito mais além!
Lá conhecemos um cachorro chamado Talarico,talvez por conta da música, claro! Montei pela primeira vez a cavalo, com um medo que só… e o Zeca com um cuidado paternal, segurando as rédeas: “É melhor descer! Ele já notou que você tá cabreiro!”
Depois ele nos levou pro seu escritório, com fotos antigas e instrumentos na parede. Eu disse que tocava cavaquinho e mandava bem. ” Toca um samba aí !” Meu irmão relutou, embora não fosse de se intimidar… naquela manhã declinou do pedido.
No auge da conversa, pude dizer pra ele que o considerava a expressão máxima do jeito carioca… que ele sabia como poucos retratar o cotidiano do bom malandro, com sua ginga e amores retratados nas letras.
Ele sorri e timidamente diz: vou pegar mais uma cerveja!
Logo depois, a sua esposa Mônica nos chama pra almoçar. Almoçamos um dos pratos preferidos do Zeca: Galinha com quiabo.
Tempos depois, volto ao sitio do Zeca com essas lembranças na mente… Um filme passa, mas sem a presença do meu irmão. Levei dois discos de seresta pra ele. Ele me agradeceu e disse, num tom jocoso: deixa eu esconder, senão meus filhos pegam! O Luizinho e Eduardinho estavam numa roda de samba. Reencontro o irmão da Mônica, o Binho – todos o chamam de “Minho”, mas pra mim sempre foi Binho, então ficou! ,  que me abraça e ficamos olhando um pro outro, emocionados.
Num dado momento, vou pra frente do sitio,no canto no portão, e fico olhando a escola de música montada pelo Zeca. O muro é desenhado com rostos de outros bambas do samba. Vejo um senhor com um saco gigantesco nas costas e maltrapilho. Com a aparência não muito convidativa para uma festa. De repente,sem me ver, o Zeca surge no portão e pergunta ao senhor: tá vindo de onde? Tô por aí- o senhor responde. Tá com fome? – pergunta o Zeca. Tô, sim senhor!  O Zeca, sem fazer alarde, levanta o dedo e chama um dos garçons da festa: Sirva ele, como se ele fosse da minha família. Pegou os pertences do senhor com todo cuidado e colocou no canto do quintal. Obrigado! Muito obrigado!O transeunte estupefato.
Não precisa agradecer… só saber chegar!
O Zeca olha pro lado e me vê.Eu fiquei olhando aquela cena. Fiz um tudo ok!, com o polegar.

Ele me olha e dá uma piscada de olho, como quem diz:
Normal! O Zeca que conheço é um pai de família e hoje avô! E que deu conselhos importantes na minha vida e na vida do meu irmão: “Cresçam com responsabilidade. Respeitem os seus pais.”
Hoje ele completa 60 anos. O tempo passou, mas a simplicidade só aumentou. Ele tem o seu nome na história.  Os grandes são sem afetações, como dizia meu pai.
Zeca não tem comparações. Eu poderia chamá-lo de o novo Noel Rosa – como o fiz há anos atrás, na primeira vez que estive com ele. Mas ele é o Zeca. O seu nome está gravado em letras garrafais na galeria dos mestres do Samba! Ele completa 60 anos, mas ainda com o seu jeito moleque!Recentemente Nelson Motta declarou: “Ele é a voz da alegria do Brasil; Peço licença aos que já se foram, para dizer que também sou um dos poetas do samba, diz um samba interpretado por ele”. E que poeta!!! Vida longa ao Zeca! Parabéns!

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Ronaldo Ferreira de Almeida
Ronaldo Ferreira de Almeida nasceu em Niterói e mora em São Gonçalo. É poeta e escritor. Tem uma forte identificação com a favela, pois seus pais nasceram em uma das Favelas cariocas (Pavão-Pavãozinho). Ele trabalhou durante anos dentro do complexo do Salgueiro (Bairro das Palmeiras-SG) implantando diversos projetos sociais. É um apaixonado pela vida, a despeito de toda desigualdade social, acredita que dias melhores virão; através de força, foco e fé. Ele acredita que a escrita é um agente motivador de ação para mudar o status quo social.