Varanda

Imagem: Willian Dias.

Vale muito estar na varanda e contemplar a beleza

que desce correndo de encontro

o carro, que vende a um real,

duas bolas de sorvete.

No fundo, no ouvido esquerdo, soa baixo um elegante

jazz rock,

no outro é mais audível o agudo

que se estende entre o grave

do funk e suas delícias.

Latidos penetram em ambos, mais no fundo, como se

fossem entendidos na alma. – Aquela abstrata força

que se esvai quando

a bala

interrompe

a vida.

É preciso estar numa varanda para contemplar a cena

onde o carro dos homi esvazia

a rua

e a vizinhança.

Secos passos chiam no imaginário

como uma fuga desesperada

contra

ser prisioneiro.

Correm passos, latidos, música e beleza

e a lei

é ter uma varanda

para repousar pensamentos

e

pular atirando poemas

que perfurem as vias da existência.

 

* Matéria publicada no jornal A Voz da Favela, Rio de Janeiro, novembro 2019.