Uma olímpiada das mulheres e das quebradas

olimpíada
Raissa Leal - Juan Ignacio Roncoroni EFE

Brasil vivencia em Tóquio protagonismo feminino, nordestino e de territórios periféricos 

A comitiva olímpica brasileira alcançou a 12ª posição no quadro de medalhas, obtendo 21 no total (7 de ouro, 6 de prata e 8 de bronze). Nessa conquista, colaboraram com destaque e garra as mulheres, que estiveram nove vezes no pódio e em três no lugar mais alto; e também os moradores de quebradas brasileiras, que mostraram a importância do investimento social nas periferias. 

Suas vitórias reafirmaram que é preciso mais oportunidades, que os sonhos devem ser permitidos a todos, independente do lugar onde nascem e vivem. Em Tóquio, os jovens periféricos, quase todos advindos de algum projeto social, agarraram suas chances e revelaram para o Brasil e para o mundo que têm talento e qualidade.   

De São Joaquim da Barra, interior de São Paulo, veio Alison dos Santos, conhecido como “Piu”, descoberto pelo Instituto Edson Luciano Ribeiro – “Correndo Para Vencer”. Alison, com apenas 21 anos, além de ganhar a medalha de bronze nos 400 m com barreira, ao completar a prova em 46s72 estabeleceu novo recorde sul-americano.

Também de São Paulo, da periferia de Guarulhos, chegou o primeiro ouro brasileiro na ginástica feminina. Criada somente pela mãe, Rosa do Santos, que chegou a andar a pé para economizar dinheiro e dar à filha para que ela fosse treinar, Rebeca Andrade iniciou no esporte aos quatro  anos e aos nove já teve que se mudar sem a mãe para Curitiba. Tudo em busca de um futuro e da realização de seu sonho, alcançado com o ouro no salto e a prata no solo ao som de “Baile de Favela”, na modalidade individual geral, ambos na ginástica artística.  

O sudeste apresentou outros medalhistas, mas foi o nordeste que, no Japão, do outro lado do mundo, escapou do estigma “miséria, fome e seca”, que infelizmente ainda carrega aqui no Brasil, para ganhar as manchetes ao reunir o maior número de atletas com ouro olímpico. De Baía  Formosa, no Rio Grande do Norte, surgiu o surfista Ítalo Ferreira e de Salvador, vieram a maratonista aquática Ana Marcela Cunha e o boxeador Hebert Conceição; e para completar o trio baiano,  o canoísta, Isaquias Queiroz, de Ubaitaba.  

Ainda dentro dessa quebrada nordestina, também brilharam com a conquista da medalha de prata a skatista de apenas 13 anos, Rayssa Leal, que nasceu em Imperatriz, no Maranhão, e a boxeadora da capital baiana, Bia Ferreira. Participantes da equipe feminina, que compôs os Jogos nos mais diferenciados esportes, rompendo preconceitos e desafios, as mulheres quebraram recordes, afirmando ainda mais a presença feminina nas Olimpíadas.

Também veio das mulheres o primeiro pódio conquistado pelo tênis brasileiro. As tenistas Luisa Stefani e Laura Pigoss confirmaram que têm estrela e são competentes. A participação da dupla foi confirmada apenas no último dia para o fechamento da chave de duplas que iria a Tóquio. E assim como as tenistas, o improvável também aconteceu na seleção feminina de vôlei, que este ano não era cotada para chegar ao pódio, mas se mostrou uma equipe coesa e forte, ultrapassou muitos limites, mostrando a garra da mulher brasileira, chegando à final e conquistando a medalha de prata. 

Nestes jogos olímpicos a delegação brasileira não superou apenas barreiras do esporte,  mas sim da vida, ensinando que é preciso superar os preconceitos e estigmas para vencer as desigualdades regionais e econômicas que ainda assolam o país e impedem a democratização das práticas esportivas. Ensinamentos que não podem ser apenas momentâneos, mas que devem deixar um legado. 

Nos Jogos Paralímpicos, que acontecem de 24 de agosto a 5 de setembro, o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) criou a meta de enviar em sua delegação ao menos 40% de representatividade feminina e conseguiu cumpri-la.

A previsão é que na próxima edição dos Jogos Olímpicos, em Paris, na França, em 2024, as vagas sejam divididas pela metade, mostrando que no esporte o caminho para a igualdade de gêneros não vai retroagir.  

Matéria publicada originalmente no jornal A Voz da Favela edição (setembro/2021)

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