Uma guerra declarada em meio a uma população encurralada

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Fomos acordados e surpreendidos mais uma vez com uma dessas Mega Ultra Operações Militares aqui no Complexo do Alemão, que dizem ser pacificado por ter a UPP. De forma vergonhosa, o Estado tenta provar que ele tem o domínio do território, fazem umas cenas teatrais, de muita pirotecnia e cobertura midiática, afinal de contas, isso rende dividendos.

Muitos homens dos mais diversos tipos de fardamentos, camuflagens, todos com FUZIL em punho e uma pistola na cintura, protegidos por Coletes à prova de balas, muitos munidos de binóculos, toucas ninjas ainda na testa e tantas outras parafernálias militares, além de cães farejadores da companhia do Batalhão de Ações com Cães, o BAC.

Nos becos e vielas, entrando em vários barracos, sem mandado, sem autorização dos moradores para adentrarem em suas casas e barracos, muitos ainda dormindo, outros tantos desistindo de irem para seus trabalhos, pois na favela, pais saem para trabalhar e seus filhos inúmeras vezes ficam em casa. Abordagens truculentas e sem nenhum critério, pois no gueto a lei é sempre ludibriada.

Muitos veículos e nas caçambas homens trepados com os bicos dos fuzis para fora, curiosamente três blindados circulavam sem destino certo dentro da favela, parava em um ponto e depois seguia, gastando combustível de forma alheia à falta que está fazendo nos batalhões, uma encenação de demonstração de poderio bélico, a impressão que tivemos aqui hoje é que era 7 de setembro e que aqui estava havendo uma Parada Militar fora de época e local, pois sempre é na Presidente Vargas, enfim, era o Estado tentando dizer: “Estamos aqui”, oh coitados.

Dia de muita Tensão e preocupação com a possibilidade de haver um intenso CONFRONTO a qualquer momento, e o maior desespero é que estamos em período de FÉRIAS ESCOLARES, as crianças estão em pavorosa, loucas para irem para rua, soltar pipas, andar a cavalo, jogar bola, brincar e brincar, mas como? Sem nenhuma possibilidade, pois a favela ficou sitiada, está tomada por policias de Forças Especiais prontas para o enfrentamento a qualquer custo.

A segunda grande preocupação era com a segurança de todos de modo geral, é que observo que o Estado tem todos os aparatos, homens ditos preparados, bem munidos e equipados, com coletes e veículos blindados, o lado adversário do estado também tem armamentos pesados, tem disposição para guerrear e tudo mais. E nós? Simples mortais, que somos desprovidos de tudo, não temos casas blindadas, não temos nem um revolver 22 velho enferrujado para nos defender, não temos coletes à prova de balas, não temos nada, só a PROTEÇÃO DIVINA, e mesmo assim algumas vezes parece que falha, que temos presenciados várias pessoas sendo alvos de balas que nunca foram PERDIDAS.

O sentimento é de total IMPOTÊNCIA, de frustração e medo, de saber que no meio disso tudo estamos aqui. A impressão que temos ás vezes é de que não passamos de escudos humanos dessa guerra escrota e suja, em que os interesses nunca são da grande maioria da população, aliás nunca é para nenhum de nós…. Vivemos em meio aos CAOS, ao sofrimento de uma TRAGÉDIA mais que anunciada, e ainda somos subjugados por viver assim, por morar na favela.

O Complexo do Alemão é um grande Barril de Pólvora, onde o pavio foi acesso quando instalaram a UPP e quando passar as Olimpíadas esse pavio cumpre o seu destino…. Até lá salvem-se como der, salvem-se quem puder.

Cléber Araújo – Morador do Complexo do Alemão.

UPP fuzil alemão
Foto: divulgação