Um luar de dança e festa na Baixada Fluminense

Crédito: Charles Monteiro

Dança, arte e comemoração em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. O aniversário de 28 anos da Sociedade Cultural Projeto Luar foi comemorado no último domingo com apresentações das turmas de dança infantil, jovens e adultos, que ao longo de sua existência tem criado novos talentos, desenvolvido valores e formando cidadãos críticos e conscientes.

“A gente fazia esquetes na igreja e tinha um frei que conhecia uma bailarina no Rio de Janeiro, chamada Rita Serpa. Ele convidou essa bailarina pra fazer esse trabalho aqui por três meses, quando a gente ia se apresentar no Fórum de Violência contra a Mulher. Depois, ela decidiu continuar com este trabalho”, conta o professor, coreógrafo e coordenador do Luar, Deco Baptista, como foi o início do projeto.

De acordo com Deco – que também é professor de uma das turmas chamada Luarte – , as pessoas tinham medo de ir à Duque de Caxias, porque a ONU, na década de 90, tinha considerado a Baixada Fluminense o lugar mais violento do mundo. Ele, também, foi um dos primeiros alunos a ser formado pela bailarina Rita e, da mesma forma que ela, tem “formado novos formadores”.

“Ela decidiu criar um projeto de ‘formar formadores’. Ela pegou esse primeiro grupo e devagar ia formando os primeiros professores. Eu fui o primeiro a ser formado pela Rita e devagar outros alunos vieram. Outros professores já foram meus alunos e hoje estamos na quarta geração”, diz o coreógrafo.

O projeto Luar também homenageou a bailarina Valéria Souza, que faleceu há três meses, formada na primeira turma de professores junto com Deco, que durante o evento fez um solo em homenagem à Valéria Souza.

A aluna Ellen Sousa, de 14 anos, leu um poema, feito por ela mesma, em homenagem à Valéria. (Leia o poema ao final deste post).

A comemoração teve início com a turma infantil, formada por crianças de 7 a 12 anos, que ensaiam de segunda à sexta, das 9h às 19h.

As coreografias “Tropicália”, com a música de Caetano Veloso, e “Nada Mais Importa”, com a música da banda de rock Metallica foram um dos destaques do dia.

Promovendo a inclusão, a turma Luar Sem Limites, coordenada pelo professor Mário Junior, apresentou como um dos destaques o cadeirante Wallace, provando que a dança é para todos e com superação não há barreiras.

A comemoração ainda contou com as performances dos alunos Dayse Alves, Eduardo Joseph e Lorrayne, além  da dupla Larissa e Raquel, que apresentaram coreografias de autoria própria.

O grupo hip hop MJPOP, formado por jovens da Baixada, encerrou à noite.

As comemorações seguem até o final do mês, todos os domingos a partir das 17h, com muita dança, arte e o sonho da democratização da arte para todos.

Poema de Ellen Sousa

Ser bailarina é
Usar saia rodada
É ter sapatilhas furadas
A meia rasgada
É ouvir o professor dizendo
“Quero esse ponta esticada
Queixo pra cima
Olha esse cabelos
Cadê o coque?”
Ser bailarina é saber que
Sua barriga precisa estar grudada
Sempre melhorar a sequência que saiu errada
Ser bailarina é saber que o pilé é uma rotina
Primeira posição
O olhar acompanha a mão
Mas, não é apenas isso
São sensações, melhoras, desejos
É querer buscar o melhor em cada passo
A melhora em cada aula
Fez errado
Vamos lá
Repita
Você consegue melhorar
É saber que cada movimento acompanha a música
É acreditar que sempre há uma forma de melhorar
É um eterno vai e vem
Com todo esse vai e vem
Hoje, aqui,
Ecoa uma grande falta
Valéria será eternamente lembrada
Bailarina
Mulher incrível
Artista
Sorriso contagiante
Ela foi e sempre será radiante
No coração de todos, fez morada
Foi lindo vivenciar sua caminhada
Mulher de garra
Negra com orgulho
Olhar mais que puro
Saudade resume tudo
Hoje, aqui, eu danço pra vida, pra lembrança que nunca será perdida
E desse jeito a vida dança pra mim
Idas e vindas que nunca serão perdidas .
Eu amo isso, essa coisa brusca e desenfreada
Essa coisa que comove, move, orienta e desorienta!
As lições aprendidas, as faltas cometidas e obtidas
Hoje eu danço e festejo a vida.