Transcendência e Impacto

Hoje, nas metrópoles, a arte resiste. E ela tem que resistir em sua transcendência, essência e impacto. Vegetação da arte versus vasos pomposos. Arte daninha, capim, trepadeira e todo solo jamais será monsantado. A Comunicação, este império, esta Côrte, essa laranja pseudo-seleta da produção subjetiva humana, é o trator no matagal dos símbolos. Mas os seres, a imensa tribo esparsa de absorção e regurgito do mundo; espaços de liberdade do pensar, sentir, expressar, em suas autônomas forças atávicas de encantamento-adensamento, das percepções e vivencias; abrem clarões e despejam seus próprios trovões, sinergias, rituais.

Sob a inspiração do Camelô Universal dos Símbolos, os traficantes de impressões e influencias, abordam, na rua, a cidade que passa. O rito do ser-roda faz feira-livre. Extrapolamos-nos e provocamos os esbarros sísmicos das diferenças. Ciganos, berimbaus, trombetas, suadouro tribal da dança e dos licores. Contraltos varam os arcos, bonde de tenores já tocados, enquanto Cronos vem montado num surdo. Essa calçada, travesseiro de tantos. Tantãs provocam tupã. Inexistem carros e fardas e insígnias do medo, que já nos atravessaram, e nos moldam novos desejos, anseios, busca. E quem busca gera enredos e envolver-se nos enredos é a ininterrupta estrada do aprender.

Lenta escultura de ser e tribo, busca atenta de preservação e reinvenção. Os troncos contorcem-se numa recusa e inventam uma dança. Há nova esperança na cidade. Velhos saberes em densas vestes e também carnaval, desapego, escracho e improviso. Prometeu brasileiro do fogo das tribos. Guardião inexorável, sagaz. Desdenhoso do design do Império e suas salsichas. Mas também somos salsichas,mortadelas e banquete antropofágico. Por que as tripas deliciosas do outro e sua carne invadida pelas arcadas são sofregamente digeridas por nossa combustão estomacal do Variado.

Um pajé dá a deixa. Ele canta instiga e olha céus e atiça miolos, crinas. Misteriosas nuvens negras, imprevisíveis, e ventanias. Olho no céu coragem. E todos os pajés correm aos arcos, algo-irmanados, e cada voz se abre e contagia. Cada voz se abre e contagia. Todo poder à polifonia. Nós também é cacique-democracia. Patio, encontro, olho no olho, corpo livre, verve, palavra, canto, cores, panos, mais cores, mais cantos! Mais e mais e mais cantos! Todos e cada um dos cantos! Todas e cada voz. Que pulsem todas as gargantas. Somos carnudos instrumentos de sopro! E somos bichos do grude no outro, e vamos cheirar os outros, cães pesquisando a empatia.

Semeai-vos uns aos outros. Destilem-se on the rocks and rolling. Stone sagrada salvaguardada. Amuleto, respeito e audácia. Tolerância interação engrandecimento. A Arte é uma lua artificial a influenciar nossas marés sanguíneas. Lapa coração pulsão. Se for sangue, corra. Se for água, aqueduto. Se for fogo, acende. Se for ar, respiremos com força, vibrando narinas. Muitas imagens! Dilatemos as pupilas! Pelas veias sempre abertas da pólis indomável e inventiva! Curvas, becos, vielas, avenidas de artérias. Somos circulação. Somos anti-gangrena e nossa metologia é erva, chá, canto e roda.

Deixem o coração repulsar nas mentalidades. Que a Cidadela das Palavras cerque e proteja a Pedra da Intuição Tácita.

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Marcus Galiña
Dramaturgo, diretor teatral, ator, educador e ativista cultural. Escreveu e dirigiu o espetáculo "Mundo Grampeado - Uma ópera tecno-tosca" entre outras produções da Cia Monte de Gente, fundada em 2006. Participa ativamente do movimento Reage Artista e foi um dos articuladores do Ocupa Lapa. É também idealizador do Facedrama, ferramenta de dramaturgia coletiva online. É autor das peças "Entregue seu coração no Recuo da Bateria", "Um de Nós - A Saga quase olímpica de um judoca iraniano" e do musical infantil "Aninha contra o Feiticeiro de Lixoxxx"