Retorno do CONDRAF tem participação inédita de organização de Matriz Africana

O Governo Federal recriou o Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável – CONDRAF, que fortalece a agricultura familiar e as ações dos Povos e Comunidades Tradicionais, com relevância na produção de alimentos no Brasil.

Nos dias 29 e 30 de junho, foram escolhidas as organizações que irão compôr o CONDRAF, como: Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST, Movimento dos Atingidos por Barragens-MAB, Associação Nacional dos Atingidos por Barragens- ANAB, e a primeira organização dos Povos Tradicionais de Matriz Africana, o Fórum Nacional de Segurança Alimentar Nutricional dos Povos Tradicionais de Matriz Africana – FONSANPOTMA, eleita com 32 votos.

Cronologia 

Em 22 de março de 2023, por meio do Decreto nº 11.451/23, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, recriou o Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável CONDRAF.

Já em 24 de maio o edital de chamada das organizações foi lançado.

Diversas organizações nacionais da agricultura familiar, povos e comunidades tradicionais e instituições de pesquisa participaram do processo de seleção.

O CONDRAF

Os movimentos rurais se mobilizam durante a constituinte (1986-1988) para discutir os problemas de exclusão social advindos do modelo de política agrária vigente no país, advindos do latifúndio e da monocultura.

As reivindicações principais dos movimentos àquela época eram os direitos trabalhistas no meio rural e uma política específica para a agricultura familiar.

Foto: Ricardo Stuckert/PR

Em 1995 foi criado o PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, linha de crédito para agricultores familiares. Para receber os recursos do PRONAF os municípios precisam elaborar planos de desenvolvimento rural; estes, por sua vez, devem ser aprovados por Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural.

A gestão do programa exigia a constituição de novas estruturas: conselhos de âmbito local, estadual e regional. A maioria dos conselhos de desenvolvimento rural sustentável formou-se a partir de 1997.

A PRIMEIRA ORGANIZAÇÃO DE MATRIZ AFRICANA NO CONDRAF 

O FONSANPOTMA é o Fórum Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional dos Povos Tradicionais de Matriz Africana. Um fórum com 11 anos de existência que debate e promove ações e propõe políticas públicas para garantir uma alimentação que dê segurança biológica e mítica ao seu povo, respeitando as diferenças regionais da diáspora forçada, e que busca mais do que segurança, busca Soberania Alimentar.

Com a recriação do CONDRAF, o governo federal pretende voltar a discutir questões da reforma agraria brasileira e por a agricultura familiar no centro da discussão do combate à fome.

De acordo com o parágrafo único do Decreto Federal nº 11.451/23 – O Condraf é órgão colegiado com a finalidade de propor diretrizes para a formulação e a implementação de políticas públicas estruturantes destinadas ao desenvolvimento rural sustentável, à reforma agrária, à agricultura familiar e ao abastecimento alimentar.

Ligado ao Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar – MDA, o CONDRAF, terá o papel fundamental de tirar o Brasil do mapa da fome.

Segundo Caramuru Paiva, Gerente Executivo da Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural – ANATER, o CONDRF é o lugar que passará os debates que qualifica e delibera sobre as políticas públicas para o campo, para os povos das águas, dos campos e das florestas. O conselho tem a função de ser a escuta do MDA, que foi recriado pelo Presidente Lula.

Caramuru Paiva – Gerente Executivo da ANATER.

O Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar – MDA, foi reestruturado para potencializar os seguimentos da agricultura familiar, dos povos das águas e da floresta e dos povos e comunidades tradicionais.

“A agricultura familiar corresponde cerca de 20 milhões de brasileiras e brasileiros, mais da metade da produção de alimentos que chega na mesa do povo brasileiro é da agricultura familiar”, comenta Caramuru Paiva.

Com mais de 100 milhões de pessoas em insegurança alimentar e outras 30 milhões em extrema pobreza. Politicas como essa são de suma importância. ” O Brasil tem potencial de ser o líder mundial na produção de alimentos saudáveis, uma tendência que a sociedade moderna procura, boa alimentação. A agricultura familiar brasileira em sua magnitude apresenta reais chances desse feito”, enfatiza o Gerente Executivo da ANATER.

Para Kota Mulangi, Coordenadora Nacional da Ancestralidade do FONSANPOTMA, a volta do CONDRAF foi importante e significativa para todos os Povos e Comunidades Tradicionais, em especial os Povos Tradicionais de Matriz Africana.

“Primeiro o reconhecimento que somos Agricultura Familiar, que somos também rural e principalmente estamos para o desenvolvimento do país. Somos visíveis. De matriz africana sim somos os primeiros no CONDRAF”, fala Kota Mulangi.

Kota Mulangi, Coordenadora Nacional da Ancestralidade do FONSANPOTMA. Foto: Arquivo EMBRAPA

“Nossa organização defende a terra saudável, à água como primeiro alimento biomitico e defendemos mais que segurança alimentar, defendemos e lutamos pela soberania alimentar do nosso povo”, complementa.

Clique no link abaixo e confira a lista das organizações selecionadas no CANDRAF.

Edital

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Doté Olissassì
Graduado em Pedagogia, Pós-graduado em Gestão Pública Ambiental, Roteirista, Produtor Cultural, Comunicador e Consultor de Projetos. Autoridade Tradicional (Doté) da Fraternidade de Matriz Africana S'aganmà Zùn, Povo Tradicional de Matriz Africana Jeje Mahi. Coordenador Geral do escritório da Associação Mundial Naziafah no Brasil, Coordenador Nacional de Articulação Política do Fórum Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional dos Povos Tradicionais de Matriz Africana - FONSANPOTMA, Coordenador de Comunicação da Teia Nacional Legislativa em defesa dos Povos Tradicionais de Matriz Africana, Dirigente do Núcleo Nacional dos Povos Tradicionais de Matriz Africana do Partido dos Trabalhadores, Conselheiro Fiscal da Cooperativa dos Povos Tradicionais de Matriz Africana - COOPTMA, membro do Movimento Negro Unificado - MNU-RN, Coordenador Estadual do Setorial de Segurança Alimentar do PT-RN, Conselheiro Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais do Ministério do Meio Ambiente, Conselheiro Nacional de Igualdade Racial do Ministério da Igualdade Racial, Consultor de Projetos da Associação Multicultural Azumatar, Consultor Pedagógico da Antropos Consultoria Socioambiental, um dos autores do Livro Negritude Potiguar e Colaborador da Agência de Notícias das Favelas - ANF.