“Quando se aprende a escrever, aprende-se a pensar”

Crédito: Reprodução internet.

Ontem, li duas redações no pré-vestibular em que colaboro, em Manguinhos, que acontece todos os sábados, e o que chamou-me mais a atenção foi o comentário que ouvi de uma aluna: “Eu pensei que quando chegasse no ensino médio ia treinar mais redações, mas isso não aconteceu”. Fiquei refletindo por uns momentos. Depois, eu disse que ela não teve culpa por redigir uma redação melhor, pelo nível do atual sistema de ensino público e a deseducação planejada pelo opressor. Até que o texto estava razoável.

Conheço o método de ensino das escolas públicas, porque minha vida inteira estudei nelas. Isso fez com que eu mantivesse um compromisso de ajudar com um pouco do que sei sobre redações a outros alunos. Eles, assim como eu, não tivemos as provocações, nem o estímulo para desenvolver textos com críticas e possíveis soluções para os temas propostos nas redações do Enem, que na hora da cobrança não vai levar em conta se você está preparado ou não.

Faço parte de uma galera que graças a uma política pública promovida pelo governo do PT, conseguiu adentrar numa universidade, ainda que eu esteja numa instituição privada. Um grande progresso. Esse pessoal entende que há uma classe que vive em guerra para não ocuparmos esses espaços que deveriam ser públicos e democráticos. Eles se mobilizam para auxiliar estudantes da rede pública a chegar, também, numa empatia praticada em prol do menos favorecido.

Penso que o conhecimento não deve ser retido, mas transmitido para àquele que foi privado de um dos direitos prescritos na Constituição. Assim, que ele tenha educação e possibilidades de lutar por ascensão social, uma vez que Nelson Mandela disse que “a educação é a arma mais poderosa para transformar o mundo”. Sendo assim, o número de pré-vestibulares comunitário aumentou significativamente, com professor voluntário que possui até título de mestrado, doutorado.

Num país onde o povo pouco lê, fica à mercê daquilo que ouve. Acaba sendo vítima da ignorância, que se alastra, tendo no exemplo mais comum o pobre que defende privatização dos serviços públicos, mesmo não podendo pagar por esses serviços. Nosso índice de livros lidos por pessoa é inferior ao de aparelhos celulares utilizados por cada uma delas. Onde vamos chegar assim?

A guerra de classes continua, o genocídio continua, a deseducação que procura formar apenas mão de obra barata continua, o descaso com a saúde continua, a ignorância continua e se isso ainda não parou, eu também não.

“Um brinde pros guerreiros, Zé Povin eu lamento”.