“Preta de Ébano” chega a Zona Norte para contar a história de uma princesa do nosso tempo

Natália Balbino (diretora) e Luelem de Castro (atriz) - foto: divulgação

Graças ao Prêmio de Montagem Teatral da FUNARJ, “Preta de Ébano” – que estreou em julho no Teatro Glaucio Gill, em Copacabana – o espetáculo agora terá quatro sessões nos dias 3 e 4 de setembro (sexta e sábado), no Teatro Armando Gonzaga, em Marechal Hermes, espaço da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa/FUNARJ. E, ainda em outubro, o espetáculo vai ter uma temporada on-line.

A peça parte do ponto de que já se foi o tempo dos contos de fadas em que princesas esperavam por príncipes encantados para salvá-las, e o final feliz para elas era o casamento. Assim como já foi o tempo em que princesa tinha de ser branca como a neve.

Hoje a princesa é negra e tem mais com o que se preocupar do que casamento e príncipe salvador. Ela, sim, é a salvadora. E não de uma vida, mas de toda uma comunidade. Ou um reino, como é o caso de Preta de Ébano, personagem-título do livro de Gisela de Castro, que escreveu a obra inspirada no questionamento da filha: “Existem princesas negras?”.
O livro virou peça, que agora chega à Zona Norte do Rio de Janeiro.

A autora busca trabalhar as subjetividades e a representatividade negra no mundo encantado das princesas. Para isso, dialogar com as crianças se mostra indispensável, pois no momento da primeira infância é onde vão se formando os valores do indivíduo.

Representatividade e o imaginário para a construção de novos mundos 

Em entrevista à Agência de Notícias das Favelas, a diretora Natália Balbino e a atriz Luellem de Castro contaram um pouco sobre o processo do espetáculo e a importância da fantasia e da imaginação para criação de novos futuros.

Para Natália, a fantasia tem o poder de ampliar os horizontes, dentro de uma sociedade que cria estereótipos e narrativas que limitam o que cada ser humano pode ser, além dos seus sonhos. Nesse contexto, a fantasia vem para extrapolar esses conceitos e mostrar que é possível imaginar novos futuros.

Luellem comenta que acredita que a fantasia seja algo do próprio ser humano, pois todos os grupos trabalham e precisam da fantasia para tudo. “Nosso cérebro imagina e cria, ele funciona dessa forma, seja para organizar pensamentos, ou discernir sobre o que é bom ou ruim. Esse lugar mágico e poético é muito mais interessante do que nosso mundo adulto. Para as crianças, podemos falar sobre assuntos que são grandes tabus para a sociedade, e que pela fantasia elas escutam, entendem e não julgam”, finaliza.

A diretora discorreu sobre a importância de mostrarem mulheres negras nesses papéis que, ainda hoje, são ocupados majoritariamente por mulheres brancas, visto que os personagens possuem o poder social de discutir caráter, de fazer as pessoas se reconhecerem, se identificarem, refletirem sobre coragem e sobre seus papéis na sociedade. A narrativa se aproxima das pessoas, traz elas para dentro da história e gera empatia.

Dentre as referências para criação do espetáculo está o livro “Pensar Nagô”, que trata sobre a construção de arquétipos a partir de orixás. A partir desse ponto, a equipe busca fazer com que a representação dos personagens se aproxime da cosmologia africana.
Além disso, o texto parte da história da Branca de Neve, subvertendo o enredo da princesa e aplicando ela nos contextos sociais atuais.

A peça traz reflexões essenciais sobre igualdade de gênero, racismo e respeito à ciência. Valores importantes para formar novas gerações com menos preconceitos e mais conscientes. Preta de Ébano representa várias mulheres negras: mães, filhas, professoras, sábias, cientistas, heroínas.

Resgate do saber tradicional e ancestral

Preta de Ébano é muito mais do que uma princesa. Com suas perguntas, ela é capaz de salvar a si e ao seu reino, mas não fará isso sozinha. Ela vai contar com o poder da orientação ancestral das Três Senhoras. Juntas, elas vão pesquisar a magia das ervas, do tempo e do mistério.

Natália lembra que a história ainda faz mais um paralelo com a situação que estamos vivendo agora. A princesa se isola com as sábias para encontrar – por meio dos saberes ancestrais sobre o poder de cura das plantas – a salvação para os problemas do reino. Exatamente como os pesquisadores debruçados sobre a ciência para produzir vacinas capazes de vencer a Covid-19.

Sobre “olhar para o futuro mirando para atrás” e o resgate da ancestralidade, a diretora lembra que quando não sabemos para onde ir, voltamos para a natureza” e Luellem complementa que nossa formação está no poder de amar o antes, para avançar saudável.
E continua, dizendo que “se a gente voltar ao passado, vai ver que tudo que é de início é de suma importância para que a gente consiga organizar as coisas que estão fora do eixo; e isso só acontece com aqueles que estavam aqui antes, junto a consciência de que somos parte da natureza.”

Propósito

Pensando na mensagem que o espetáculo quer levar à todas as crianças, amigos e familiares que assistirem, ambas acreditam que o principal é criar não só representatividade, como pluralidade, e contribuir para a construção desde cedo desse reconhecimento.

O objetivo é mostrar simplesmente a história de uma princesa com final feliz, só que uma princesa preta, e com diálogos que acompanham os atuais vividos pela sociedade; inseridos sempre uma atmosfera colorida, divertida e lúdica, que seja como um respiro para os tempos atuais. E Luellem finaliza: “Ainda não encontramos espaço com os adultos para falar de reis e rainhas pretas. Por isso, no infantil, é onde esse lugar é possível .”

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