Política e religião não se misturam

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Não confio em quem mistura política com religião. Ou pior, quem acredita que ter uma religião garantirá uma boa gestão ao candidato que for eleito. O caso do Prefeito da cidade do Rio, Marcelo Crivella (PRB), na última quarta-feira (4), ilustra bem tal afirmação.

A tarde era ensolarada, mas Crivella ofereceu sombra e facilidade para os fieis num encontro fechado, entre os áudios vazados ouviu-se soluções para o problema com o IPTU e para operar a catarata, mesmo que o tempo de espera hoje esteja acima dos 100 dias para quem é paciente do Sistema Único de Saúde (SUS), haja paciência.

“Vamos aproveitar esse tempo que nós estamos na prefeitura para arrumar nossas igrejas.” Disse o Prefeito.

Em nota a Prefeitura falou sobre a isenção no IPTU de templos religiosos, entretanto, na gestão do atual prefeito, a casa de Jongo ficou fechada desde que se consolidou como ONG em 2000, por falta de subsídios após o investimento da prefeitura ter sido cortado. Não bastasse, em Junho deste ano vetou o projeto de lei 346, que declara o Quilombo da Pedra do Sal, na Zona Portuária, como patrimônio imaterial da cidade.

Na manhã desta segunda-feira (9), foi protocolado um pedido de impeachment de Crivella pelo Vereador Átila Nunes (MDB-RJ), que será analisado por crime de responsabilidade por parte do Prefeito, que tem favorecido integrantes da Igreja Universal, segundo Nunes.

Em entrevista publicada pelo Jornal do Brasil no último domingo (8), a Professora do Departamento de Sociologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), Antropóloga Christina Vital declarou que Crivella lidou com a repercussão na mídia de forma calculada:

“Para efeito de análise, cabe comparar as gestões de Crivella e de seu antecessor, Eduardo Paes. Paes, que foi o prefeito da cidade no contexto dos megaeventos, usava a diversidade artística e cultural presente na cidade como uma moeda para apresentar o Rio como uma capital moderna e cosmopolita. Crivella, por sua vez, age na direção contrária. Em diferentes ações, desde o início de seu mandato, vem se contrapondo a eventos, festividades, expressões culturais, artísticas e religiosas desse segmento urbano que se apresentava justamente sob a chave da diversidade. Assim, o baile charme, o Jongo da Serrinha, o Instituto dos Preto Novos, o Cais do Valongo, o samba, enfim, diversos patrimônios culturais e artísticos ligados à cultura negra e popular, perdem o financiamento ou o incentivo da prefeitura. É um cálculo arriscado, sem dúvida. Mas na vida política tal como está, o que importa é agradar à maioria ou a segmentos estrategicamente mais poderosos.”

Espero que a gestão do Prefeito sirva de aprendizado para que a população entenda que entre a religiosidade e a prudência, existe um abismo.