Pobreza extrema aumentou 87% no Paraná em cinco anos

Imagem: Raíssa Melo

Dados do IBGE apontam que ao menos 306 mil pessoas vivem em situação de extrema pobreza no Estado

A família de Luzia Garcia Silva, 22 anos, é composta por ela, seu marido, João Guilherme Souza, 29, e seus cunhados André, 19, Felipe, 9, Leonardo, 6, e Carlos Souza, 2. Os dois irmãos maiores de idade têm trabalhos temporários na construção civil e ajudam Luzia na reciclagem. A média mensal da família é de R$ 700 para dividir entre os seis integrantes. Cada um tem cerca de R$ 2,50 para passar o dia. “Não dá para fazer nada, mas tem gente pior aqui na vila”, afirma Luzia, moradora da ocupação 29 de Outubro, no bairro Caximba, em Curitiba.

A realidade da família de Luzia não é raridade no Paraná, de acordo com o Estudo Síntese de Indicadores Sociais – SIS e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas – IBGE, cerca de 306 mil pessoas vivem na extrema pobreza, ou seja, possuem uma renda mensal inferior a R$ 145,00. Ainda de acordo com os estudos divulgados nas primeiras semanas de novembro, em 2013 eram 163 mil pessoas vivendo nessa situação em todo o Estado, o que significa um crescimento de 87,3% nos últimos cinco anos.

– As coisas têm piorado e tudo está ficando mais difícil. Há uns dois anos, eu conseguia diárias de faxina em lojas três vezes por semana. Agora, nada. As donas dizem não ter dinheiro” –, afirma Carlinda Luz, moradora de uma outra ocupação, a Dona Cida.

Apesar do Paraná ter um Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 415,8 bilhões, o equivalente a 6,35% da economia nacional, a extrema pobreza atinge 7 em cada 100 moradores do Estado. Os dados oficiais do CadÚnico, cadastro para benefícios sociais do Governo Federal, revelam que mais de 105 mil famílias do Paraná vivem com renda per capita própria (sem ajuda dos benefícios do Governo Federal) inferior a R$ 79,00 ao mês – menos de três reais por dia por pessoa da família. Embora o Brasil seja signatário dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) propostos pela Organização das Nações Unidas (ONU), que têm como principal meta erradicar a pobreza extrema até 2030, o País e o estado do Paraná estão cada vez mais longe dessa meta. Os números, embora alarmantes, são subnotificados: a estimativa é de que ao menos outras 15 mil famílias pobres ou extremamente pobres estão longe dos olhos do poder público e não estão cadastradas no CadÚnico.

Entre os 306 mil paranaenses na extrema pobreza, 56% são mulheres, 51% são menores de idade (0 a 17 anos) e 71% são negros ou pardos, segundo o CadÚnico. Metade dos adultos com menos de três reais ao dia não trabalhou nos últimos 12 meses e apenas 401 tiveram um emprego formal nos últimos dois anos.

Para o professor de economia Walcir Soares Junior, da Universidade Federal do Paraná e integrante do Observatório das Favelas, projetos de geração de renda e formação qualificada são essenciais para a superação da pobreza. – A miséria é um problema estrutural. A pessoa está na miséria e não tem perspectivas de se inserir em uma economia mais desenvolvida. O desemprego está crônico e essas pessoas acabam em situação de exploração e sem direitos” –, explica o professor. Ainda segundo ele, a vulnerabilidade socioeconômica se torna um fator determinante para a família no presente e pelo menos para duas gerações seguintes. – A falta de preparo e cuidado dos pais, ausência de recursos para desde alimentação de qualidade até leitura, contexto de violência no entorno, inexistência de uma rede pública com boas escolas… tudo isso terá impacto prejudicial no futuro desde o ingresso no mercado de trabalho até propensão à criminalidade”, aponta Soares Junior.

Realidade que Gabriela Batista, 71, conhece bem. Ela, o marido e os três filhos sempre moraram em uma habitação precária, com apenas um cômodo de alvenaria. – Só a cozinha deu para cimentar. Vi meu filho melhorar um pouco de vida (muito pouco), mas minha filha mais nova está na mesma condição que cresceu, e tem perigo de piorar. As coisas estão ficando piores” –, relata Gabriela.

Avó de cinco netos, Gabriela e sua família recebem um auxílio de R$ 220,00 do programa Bolsa Família que, junto à renda própria, soma R$ 720 ao mês. Com esse dinheiro, ela sustenta três netos além de seu marido, que não tem emprego fixo. – Gasto tudo com a comida dos meus netos –, diz Gabriela. Ela deixa seu recado para o Governo e movimentos socais. – O poder público precisa estar mais presente, oferecer cursos, lazer. Aqui não tem nada disso e os movimentos sociais precisam vir e denunciar nossa situação. Nós até chamamos a imprensa e os órgãos do governo, mas não está dando resultado. Continuamos com fome –, desabafa.

* Matéria publicada no jornal A Voz da Favela, Rio de Janeiro, dezembro 2019.