Os últimos filhos de Sião: Marcola Bituca canta um novo mundo

Marcola Bituca, oriundo do bairro Pirajá, Subúrbio de Salvador- Crédito: Arquivo pessoal

“Os últimos filhos de Sião”, é um disco onde estou tentando propagar uma idéia multirreligiosa, no sentido das práticas religiosas que realizamos no dia-a-dia. Ações que fazemos quando ninguém está vendo, quando não tem palco, platéia, quando seu ego não aparece. O momento quando é só você e você mesmo ajudando seu semelhante”, explica João Marcos Mota, 27 anos, sobre seu novo trabalho, intitulado “Os últimos filhos de Sião”. Marcola Bituca, é o nome artístico de João Marcos Mota, que nasceu no bairro de Pirajá, Região do Subúrbio de Salvador.

A música é um importante elemento de resistência na sociedade e dentro da cultura negra não é diferente. E é sobre a relevância da luta do povo negro que o projeto de Marcola Bituca, foi revelado mais uma vez ao público, lançado em junho deste ano, dessa vez em formato digital devido a pandemia. O artista se debruça na história dos seus ancestrais e tem procurado beber na fonte, fazendo resgate histórico para fortalecer a causa da negritude dentro da sua trajetória profissional e adquirir conhecimentos para criar suas canções.

Capa do CD “Os últimos filhos de Sião”- Crédito: Arquivo pessoal

Considerada um dos relevantes instrumentos de propagação da cultura africana, a música sempre representou uma parte da criatividade do povo preto, que ainda na África marcava a época de trabalhos coletivos, e dessa forma ela foi passada de geração para geração, com objetivo de não deixar a cultura não morrer.

Marcola demonstra a influência que a cultura negra tenha no seu repertório, unindo com sua versatilidade nas construções musicais. A mistura de ritmos é contagiante, e as referências ancestrais presentes nesse álbum são diversas, o que deixa ainda mais evidente que arte é sim coisa de preto. Consolidando sua identidade musical que já foi apresentada ao público em 2019 quando lançou seu primeiro CD, intitulado Yat (jovens à frente do tempo, em inglês).

Neste recente trabalho, Marcola conta com a produção de Aquahertz, e percussão de Herverton Didoné. Participam também artistas reconhecidos, como Rincon Sapiência, Caboclo de Cobre, MCDO da banda Afrocidade e o rapper Cristal, que traz sua instrumentalidade na música “Filhos de Sião”, faixa de trabalho que inclusive é o nome do projeto.

O artista fundamenta sua carreira e vida pessoal, na ideologia da Fé bahá í, uma religião monoteísta que enfatiza a união espiritual de toda a humanidade.

Três princípios estabelecem a base para os ensinamentos e a doutrina Fé bahá’i: a unidade de Deus, que há apenas um Deus que é a fonte de toda a criação; a unidade da religião, que todas as maiores religiões têm a mesma fonte espiritual e partem do mesmo Deus; e a unidade da humanidade, que todos os seres humanos foram criados igualmente e que a diversidade racial e cultural deve ser apreciada e aceita.

“Vejo o mundo como um único país, apenas um povo, uma maneira de autorreconhecimento e ser enxergar no outro. Esse novo trabalho é um resgate histórico, resgate das religiões de matrizes africanas, um trabalho elaborado em cima de um ritmo dito e visto como marginalizado, que é o pagode baiano”, comenta Marcola.

O projeto é a prova de que tudo pode ser visto de uma outra forma, e a entrega é sensacional, é o dia-a-dia de Marcola Bituca cantado em nove faixas, de maneira singular, uma nova forma de viver, de ver o mundo. É a reflexão sobre o que queremos deixar para a futura geração, é sobre o que vamos deixar como um propósito verdadeiro.

Para Marcola, um dos maiores problemas da sociedade é a falta das pessoas se colocarem no lugare da outra, precisamos de empatia, e parar de pensar que o problema é sempre de fora para dentro.

“Pra mim, a origem de todos os problemas recorrentes na sociedade, é o que surge de dentro pra fora, por isso a gente não consegue resolver, pois não percebe. Achamos que o problema está sempre no outro. A gente precisa sempre das mesmas terapias, mesmos estudos, mas não conseguimos olhar pra dentro e fazer uma reflexão, autoavaliação, internalizar e ver o que poderíamos mudar”, concluí o artista.

Marcola Bituca faz parte de uma nova geração de artistas, independentes, que ousa em inovar, não ser diferente apenas como estratégia de marketing, para entrar no mercado da música, mas pela filosofia de vida. Sua pretensão é tocar a vida do outro através das suas melodias.

No canal do youtube tem o clipe oficial da música Sinos de São José. ://www.youtube.com/watch?v=KPsNvCwReKg

Para conhecer mais sobre a história do artista, é só visitar suas redes sociais Facebook: https://www.facebook.com/marcolabituca/ e Instagran @marcolabituca.