Òrun Àiyé: livro homenageia grandes griôs e auxilia na aplicação da Lei 10.639/03

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O livro Orun Àiyé- A Criação do Mundo, é a primeira produção literária da cineasta baiana, Jamile Coelho. Na tradução literal do iorubá, Òrun significa céu e Àiyé terra. O livro pretende homenagear grandes griôs.

Na tradição africana, o griô é o guardião das histórias, a biblioteca viva, o responsável por preservar a nossa memória ancestral. Em tempos de tantas despedidas, muitas bibliotecas se fecharam.

Este livro é uma homenagem a todos que partiram para o Òrun e em especial ao professor, escritor, historiador e doutor em história da cultura negra, Jaime Sodré.

Jamile, que é premiada nacional e internacionalmente, conta que essa produção faz parte dos seus primeiros passos na literatura.

Ela comenta que o livro é um desejo antigo. “Quando a gente fez o curta homônimo há seis anos atrás, percebemos a importância de criarmos produtos que nos representem, principalmente na infância. Tenho certeza que esse livro será mais uma ferramenta de combate ao racismo e intolerância com a cultura de matrizes africanas”.

O livro Òrun Àiyé

O livro também tem o objetivo de auxiliar na aplicação da Lei 10.639/03, que aborda sobre o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana, ressalta a importância da cultura negra na formação da sociedade brasileira.

“A gente discute muito sobre intolerância religiosa, mas o oposto da palavra intolerância é tolerância e, na minha opinião, é algo muito tênue. A epistemologia da palavra respeito se aplicaria melhor a essa ideia. Precisamos ser respeitados”, diz Jamile Coelho.

O público prioritário está nas escolas, estudantes, professores e coordenadores pedagógicos. A lei 10.639 é de 2003 e infelizmente até hoje não tem uma efetiva aplicação em sala de aula.

“Se tivéssemos uma difusão real acerca das contribuições das culturas africanas na construção identitária do nosso país, talvez não estaríamos presenciando tantos atos como esse da última semana, onde uma adolescente de 13 anos foi impedida de entrar na escola com roupas religiosas do candomblé por está passando pelo processo de iniciação”, relata Jamile Coelho.

Em Luanda na Angola existe o Museu Nacional da Escravatura, neste lugar tem uma pia com umas escrituras que são mais ou menos assim: aqui os escravizados foram batizados e ganharam novos nomes. Uma outra história que remonta a árvore do esquecimento é a de que homens e mulheres davam voltas nessa árvore para simbolicamente esquecerem o seu passado, o que acontecia antes do batismo para depois deste rito serem embarcados para uma nova vida de dor e sofrimento.

“Acredito que tudo tem seu tempo, tenho certeza que o tempo dele (o livro) é agora. A gente sempre quis ter uma editora. Esse é o primeiro lançamento da editora”, comenta Jamile Coelho.

Crédito: Divulgação

O público pode ter acesso ao livro está através da plataforma de financiamento coletivo Catarse no seguinte link: https://www.catarse.me/orunaiyelivro

Quem é Jamile Coelho?

Jamile Coelho, 31, Bacharel em Artes com habilitação em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal da Bahia- UFBA.

Ela é especialista em direção, direção de arte e desenvolvimentos de novas tecnologias, a partir de estudos com realidade aumentada (AR) e realidade virtual (VR), e continua procurando modos de barateamento e acessos a essas tecnologias.

A cineasta fez direção e produção de curtas premiados como: curtas “Òrun Àiyé: A Criação do Mundo”, “Corações Encouraçados” e “A Menina e o Rio” e CEO do Núcleo Baiano de Animação e Stop MotionNubas.

Crédito: ESTANDARTE PRODUÇÕES

Jamile , também dirigiu as séries “Circuito Negro” (2018) e “Aqualtunes” (2018 e diretora de arte do “Um dia com Jerusa” (2020), que estreou ontem na Netflix, com esse filme recebeu os prêmios de Melhor Direção de Arte no Festival de Caruaru e no 15º Encontro Nacional de Cinema dos Sertões.

“Honrando meus ancestrais que sobreviveram a todas essas atrocidades e que através dos anos conseguiram fazer com que as narrativas orais sobrevivessem, Òrun Àiyé é pra mim esta ligação ancestral entre passado, presente e futuro, até porque, parafraseando Emicida, enquanto ancestral de quem tá por vir, eu vou”, declara Jamile Coelho.

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