Oito perguntas ao Haddad

Fernando Haddad na Maré / Créditos - Charlotte Dafol

Aconteceu aquele encontro com Haddad na Maré, na terça-feira passada, com a expectativa de que ele responderia às perguntas do público – ou até mesmo que a gente conseguiria uma entrevista com ele. Eu não achei muito que isso fosse acontecer… mas mesmo assim, indo pra lá de ônibus, presa no trânsito da av. Brasil, comecei a pensar sobre as perguntas que eu gostaria de fazer, se acaso surgisse a essa oportunidade.

Vêm aqui então, lançado a esmo, o meu roteiro de entrevista – papo reto! – com o Haddad.

1. Seu plano de governo tem enfoque importante na saúde e educação. No entanto, caso seja eleito, você será restrito pela PEC 241, legado do governo Temer que limita os gastos públicos, e sem poder contar com o apoio do Congresso. Como você pretende lidar com esses dois elementos? Qual será sua margem de manobra?

2. O PT foi alvo, nos últimos anos, de uma imensa campanha midiática “anti-corrupção”, que acabou criminalizando ele muito mais do que qualquer outro partido. A tal ponto que boa parte dos antigos eleitores do Lula e até da Dilma, associam hoje o PT a um “partido-ladrão” e por isso não querem mais votar nele. O que você tem a responder a eles?

3. Os seguidores de Jair Bolsonaro acreditam que os problemas da insegurança e do tráfico se resolvem com mais armas e mais operações policiais/militares nas favelas. Sabemos que você não concorda com esse ponto de vista. Mas como enfrentar então essa questão da violência urbana, em especial em territórios dominados por poderes paralelos?

4. A igreja evangélica tem crescido muito nos últimos anos, no seio da população brasileira, ocupando também agora a Câmara dos Deputados com uma bancada poderosa e influenciado cada vez mais o resultado das eleições.
Você ainda acredita na laicidade do estado? Como defendê-la nesse contexto?

5. O Brasil tem a maior área florestal e uma das maiores reservas de água do mundo, o que coloca ele na mira de interesses estrangeiros. Por outro lado, a poluição das águas, o desmatamento, o consumismo irresponsável, a produção de lixo, a falta de saneamento básico, têm se tornado problemas urgentes e fundamentais para o nosso futuro. Quais são as primeiras medidas que você tomaria em relação ao meio ambiente, se for eleito?

6. Bolsonaro diz que quer acabar com o ativismo “esquerdista”. Alguns anos atrás, o Lula foi criticado por “aparelhar” os movimentos sociais. E a Dilma por não saber se comunicar com as ruas.
Qual relação você queria ter com os movimentos sociais – de moradia, de sem terra, negros, lgbts, estudantes, sindicatos… – e o que você espera das ruas?

7. O consumo de droga, e principalmente do crack, tem piorado muito nas últimas décadas, causando um grave impacto social em termos de segurança e saúde, principalmente nas grandes cidades.
Como foi a sua experiência em relação a isso quando era Prefeito de São Paulo?
Como você acha que se deve combater (ou reduzir) o consumo de drogas?

8a. Num vídeo de propaganda eleitoral sobre Educação, lançado na semana passada, o PT responde à proposta de Jair Bolsonaro de generalizar o ensino fundamental a distância, levantando as seguintes críticas contra ela: “1. [Com o ensino a distância] o seu filho não vai mais receber camiseta da escola e nem merenda. 2. O seu filho não terá mais contato com o professor. 3. Milhares de professores e funcionários do ensino público serão desempregados.”
Você realmente acha que o principal papel da escola é dar camiseta e lanche para as crianças (ou então, seria essa a visão que você queria transmitir para os pais dos alunos)?
8b. Arriscando aqui a minha opinião, o que eu mais vejo nas favelas é um povo muito trabalhador que costuma acumular vários empregos, dia e noite, de segunda a domingo. Dito isso, me parece que o principal problema do ensino a distância para essas famílias seria arranjar alguém para ficar em casa com os filhos durante o dia e incentivá-los a estudar. Mas já que estamos tocando no assunto e sabendo que você defende essa ideia: você acha possível, em termos de estrutura e recurso, implementar a escola em tempo integral em todo o Brasil?

Agradecendo a sua atenção, lhe desejo boa sorte para o segundo turno das eleições.
#EleNão

Fernando Haddad – Foto: Charlotte Dafol