O que a crise hídrica tem a ver com o Aedes aegypti, o famoso mosquito da dengue?

Aedes Aegypti
Vanusa Costa acostumada com racionamento armazena água em recipiente com tampa no quintal de sua casa - Crédito: Jacqueline Silva
Vanusa Costa acostumada com racionamento armazena água em recipiente com tampa no quintal de sua casa. – Crédito: Jacqueline Silva

Não é de hoje que a dona de casa Vanusa Costa de 54 anos, faz estoques de água em sua casa. No bairro onde mora, na favela do Vila Clara em São Paulo, é comum a falta desse recurso. “Quase todo dia o fornecimento é interrompido às 22 horas e só volta às 6 horas do dia seguinte. Minha filha também recebe mensagem da Sabesp avisando que vai faltar no dia seguinte e a gente se prepara”.

O gestor de projetos ambientais, Sandro Vinicius Ortega explica que essa prática é muito adotada e tende a aumentar devido à crise hídrica. “Os reservatórios estão muito baixos, então vai ter mais gente armazenando água com medo de enfrentar uma escassez mais severa”. Uma preocupação manifestada por dona Vanusa: “Eu quero ver se eu arrumo pelo menos alguns galõezinhos para deixar cheios, porque já pensou ficar sem água com criança? Ainda mais com esse calorão aí que vai vir”.

Mas essa solução abre espaço para outra preocupação: calor e água parada é a combinação perfeita para gerar criadouros do mosquito Aedes aegypti, explica Eduardo de Masi, Coordenador de Núcleo de Vigilância, Prevenção e Controle da Fauna Sinantrópica, setor da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo responsável pelo monitoramento desse tipo de inseto. Segundo esse especialista, basta cerca de 100 ml de água limpa parada, o equivalente a metade de um copo, para que o inseto coloque seus ovos.

Para Sandro, a estocagem de água pode potencializar a proliferação do mosquito e das doenças. “O armazenamento às vezes é feito de forma inadequada, em recipientes improvisados, sem uma proteção, e essa água limpa é a que atrai o mosquito Aedes aegypti a colocar seus ovos, que se tornam larvas e depois mosquitos transmissores de doenças”.

A importância de prevenir criadouros

O Aedes aegypti é o mosquito transmissor da dengue, zika e chikungunya, doenças hemorrágicas graves que podem levar a morte. Quando o ambiente está propício, ele pode, proliferar em maior quantidade e provocar surtos da doença, como aponta Eduardo Masi: “Cada mosquito fêmea consegue pôr em torno de 100 ovos pulando de criadouro em criadouro, 10 em um, 10 em outro e assim por diante, o que gera um descontrole de mosquitos por conta da grande quantidade de ovos que ele distribui. Por isso, a quantidade de mosquitos importa, pois quanto mais insetos, mais casos das doenças”.

Na imagem abaixo, podemos entender melhor como ocorre o ciclo de proliferação do mosquito até a transmissão da doença.

Infográfico ilustrando o ciclo de reprodução do Aedes Aegypti. Quanto mais mosquitos maior o risco de transmissão da Dengue, Zica e Chikungunya. – Crédito: Jacqueline Silva

Quando Vanusa teve dengue, ela chegou ao serviço de saúde com febre alta, manchas na pele e muitas dores no corpo. O diagnóstico e o tratamento precoce foram imprescindíveis para a melhora. Marisa Gomes, de 48 anos, moradora de Heliópolis, São Paulo, não teve a mesma sorte. A cuidadora de idosos só descobriu que teve chikungunya cinco meses depois dos primeiros sintomas e acabou desenvolvendo artrite reumatoide. Hoje, necessita de tratamento contínuo com medicações e atendimento reumatológico.

O especialista Eduardo Masi esclarece que a zika, dengue e chikungunya possuem sintomas semelhantes e orienta a busca por atendimento médico logo ao observar os primeiros sinais das doenças. “Poderia ter sido diferente se tivesse feito o tratamento desde o início. Comecei a ter muita dor, coceira e inchaço das articulações, não conseguia dobrar a perna, perdi totalmente a força das mãos e fiquei com os movimentos letificados”, desabafa Marisa.

Depois da doença, tanto Vanusa, quanto Marisa passaram a adotar medidas de proteção como armazenamento de água com tampa, eliminar pratos que ficam embaixo das plantas, colocar telas nas janelas, usar repelentes elétricos e corporais, e inseticidas para manter os mosquitos afastados e garantir uma prevenção e proteção completa.

Para Eduardo Masi todas essas medidas são válidas, principalmente aquelas que previnem ou eliminam criadouros. “Uma inspeção semanal de dez minutos da casa a fim de eliminar o acúmulo de água, além de destinar recipientes para a coleta de resíduos sólidos em locais apropriados, corrigir imperfeição de laje e telhas, limpar calhas para que elas não acumulem água da chuva são medidas simples, mas que ajudam a manter a doença sob controle”, esclarece.
A importância de métodos combinados de proteção como eliminar focos de água parada e uso de produtos que eliminam e repelem o mosquito, evitando sua picada, são muito importantes para o combate dessas doenças transmitidas pelos Aedes aegypti.

Movimento Juntos Contra o Mosquito

A marca SBP, de inseticidas e repelentes, possui um protocolo criado pela London School of Hygiene & Tropical Medicine, Universidade em Londres que é especialista em doenças tropicais, com oito passos para conscientização e educação para combater o Aedes aegypti.

O protocolo foi adaptado à realidade das comunidades vulneráveis brasileiras com o apoio da Cruz Vermelha Brasileira, parceira do SBP desde 2017, por meio do movimento Juntos Contra o Mosquito (#juntoscontraomosquito). O programa social realiza intervenções nas comunidades brasileiras por todo o Brasil, buscando conscientizar a população em alta vulnerabilidade social para a importância dos cuidados diários para combater os mosquitos transmissores de doenças, gerando um impacto positivo e auxiliando essas famílias a se manterem protegidas.

Desde o início do Movimento, que já beneficiou diretamente mais de 18 mil famílias com o protocolo completo de proteção – o equivalente a 72 mil pessoas, SBP e a Cruz Vermelha Brasileira decidem juntas quais são as comunidades que irão receber o programa, considerando números de casos confirmados das doenças, temperatura e chuvas. Dentre as atividades estão: visita às casas com orientações dos cuidados diários necessários, mutirões de limpeza, atividades educacionais em escolas, doações de produtos para proteção, entre outras. Contudo, por conta da pandemia, essas atividades estão suspensas. Para que o programa não parasse, em 2020, SBP e CVB alcançaram cerca de 100 mil famílias ao redor do país por meio de doações de produtos que protegem dos mosquitos transmissores de doenças e informação sobre os cuidados diários necessários.

Vanusa e Marisa relatam que sentem falta de mais ações por parte do poder público e dos próprios moradores para a melhoria das questões de saneamento e descarte de lixo. “Tem uma lixeira aqui em cima, e atrás, mas o pessoal tem preguiça de ir até lá e prefere jogar no córrego”, comenta Vanusa.

“Alguns locais por onde eu passo vejo móveis jogados, pneus que podem ser um foco, esgoto a céu aberto com lixo que o pessoal vai largando e isso vai gerando acúmulo de água. Eu acho que tinham que limpar, mas a população mesmo, às vezes não ajuda, tem que ser das duas partes”, desabafa Marisa.

Para Sandro, cabe aos serviços públicos garantirem direitos básicos como saneamento adequado, que evitam atitudes que podem gerar criadouros. No caso da população, ele aconselha a conhecer os equipamentos e rede de apoio, participar de espaços de discussão levando demandas do território e fazer a zeladoria do local.

Eduardo Masi também acredita que toda a sociedade (setor público, iniciativa privada e moradores) deve atuar, pois o Aedes aegypti é um problema de responsabilidade coletiva e que pode atingir a todos. “Não tem nenhuma fórmula mágica, o segredo é espírito de cidadania mesmo, saber que todos nós, ao cuidarmos da nossa casa, contribuímos para o todo. Claro, com o poder público fazendo a sua parte reduzindo o nível de preocupação e os impactos na economia e na saúde pública”, conclui.

Problemas de saneamento podem influenciar na proliferação do Aedes aegypti nas favelas, afirma especialista

Para o Gestor Ambiental Sandro Vinícius Ortega, as favelas sofrem maior impacto com relação ao vírus devido aos problemas relacionados ao saneamento básico. “A falta de pontos de coleta adequados para colocar os resíduos sólidos acaba sendo disposto de forma irregular, e aí esse local acumula água da chuva em seus recipientes. Quando tem uma drenagem mal feita, um entupimento, a água não consegue escorrer para um local correto e acumula junto com a água limpa, gerando criadouros”.

Vanusa sabe bem o que é isso, o caminhão de lixo não chega até a viela onde mora e isso faz com que ela tenha que levar seus resíduos até as caçambas e pontos de coleta. Mas ela aponta que nem todo mundo tem essa consciência e joga no córrego e que isso já causou enchentes e surtos de várias doenças como a dengue. Como mora com cinco pessoas e em seu quintal existem mais cinco casas, muitas pessoas adoecem ao mesmo tempo.

As aglomerações das casas nas favelas é um outro fator agravante segundo Sandro, pois potencializam a disseminação das doenças causadas pelo mosquito. “Ele pica uma pessoa que está contaminada e depois pica outra que não está fazendo essa transmissão, diferente de condomínios e apartamentos em locais de classe média ou classe média alta, onde as casas são mais afastadas, os condomínios são maiores, então, muitas vezes, o mosquito não consegue nem chegar na casa do vizinho”, acrescenta.

Aglomerado de casas pode favorecer a transmissão dos vírus da Dengue, Zica e Chikungunya. – Crédito: Jacqueline Silva

No entanto, o especialista aponta que especificamente nas favelas as construções podem favorecer acúmulo de água e o surgimento dos chamados criadouros escondidos, que são mais difíceis de controlar. “As construções acabam tendo vão entre as paredes, abaixo do piso, depressões na estrutura, cacos de vidro nos muros, laje desnivelada, focos inacessíveis para gente, mas acessíveis para o mosquito. É muito difícil para o morador e pra nossa equipe acessar esses criadouros para fazer a eliminação”, conclui.

De acordo com Eduardo Masi, da Coordenadoria de Vigilância do Munícipio, as doenças causadas pelo mosquito não estão atreladas à condição social, pois em períodos de transmissão, detectamos epidemias em bairros pobres e em bairros ricos. “É importante falar que a dengue não faz distinção social”.

#juntoscontraomosquito
Conteúdo desenvolvido em parceria com a marca SBP.

Acesse as redes sociais das marcas: @sbpprotege / @cruzvermelhabrasileira

Gostou da matéria?

Contribuindo na nossa campanha da Benfeitoria você recebe nosso jornal mensalmente em casa e apoia no desenvolvimento dos projetos da ANF.

Basta clicar no link para saber as instruções: Benfeitoria Agência de Notícias das Favelas

Conheça nossas redes sociais:

Instagram: https://www.instagram.com/agenciadenoticiasdasfavelas/
Facebook: https://www.facebook.com/agenciadenoticiasdasfavelas
Twitter: https://twitter.com/noticiasfavelas