O privilégio de ser branco em uma sociedade racista

Recepção do Hospital Geral do Estado (HGE), em Maceió, no início da pandemia com pessoas com e sem o vírus juntas - Foto Arquivo Pessoal

Já faz algum tempo que tenho buscado estar em outros lugares que não aqueles que o mundo me condiciona enquanto mulher preta: trabalhar nos serviços mais precarizados e menos remunerados, para que um grupo muito pequeno de pessoas tenham acesso não somente a altos cargos, mas também o autocuidado não por via da medicina capitalista. O autocuidado significa tirar um tempo para olhar e curar nossas feridas, perceber o que está doendo, o que nos causa culpa, medo, ansiedade, tristeza, enfim, é cuidar integralmente de quem somos nas dimensões física, mental, emocional, psicológica, ambiental e sexual, visto que em nós cabe tudo isso e muito mais.

Porém, a busca da saúde não como cura de doenças, mas sim como uma relação harmoniosa de todas aquelas dimensões, exige condições essenciais para uma vida digna: habitação com esgotamento e saneamento, energia elétrica, alimentação saudável, trabalho e educação. Isto é, ter saúde significa acessar um conjunto de políticas públicas que permita o pleno desenvolvimento humano.

Ao entender a saúde nesse contexto, fica muito fácil compreender por que não é coincidência que a maioria da população que se cuida integralmente é branca de classe média, classe média alta e a alta burguesia. Essas pessoas podem pagar, por exemplo, 500 reais em uma consulta de ginecologista natural, que pode ir semanalmente ao atendimento psicológico, que pode acessar medicamentos florais, homeopáticos, etc.

O simples fato de ser branco em uma sociedade racista é símbolo de privilégio, pois a cor da pele não os impede de sequer entrar em qualquer lugar, de acessar os serviços sociais públicos, de viajar, ou seja, de estar vivo. Em tempos de pandemia estar vivo é o maior desafio da população negra que é a que mais tem morrido pelo Covid-19.