O genocídio da população preta, pobre e periférica é política de estado

Ações policiais são rotina em São Gonçalo - Foto Whatsaspp

 

Apesar das notas oficiais sobre ação policial conjunta em São Gonçalo na tarde de ontem, 18, em que morreu baleado o adolescente João Pedro Mattos Pinto, de 14 anos, o histórico de ações semelhantes é repleto de exemplos de assassinato de inocentes, sempre pretos, pobres, jovens e da periferia. Tudo leva a crer que o caso de ontem não é exceção:

“A polícia chegou lá de uma maneira cruel, atirando, jogando granada, sem perguntar quem era. Se eles conhecessem a índole do meu filho não faziam isso. Meu filho é um estudante, um servo de Deus. A vida dele era casa, igreja, escola e jogo no celular”, declarou Neilton Pinto, ainda sob o impacto dos acontecimentos.

Os familiares e vizinhos endossam as palavras do pai e estão revoltados com a operação que os movimentos sociais apontam como mais uma na política de genocídio implementada pelos sucessivos governos brasileiros. Na violência cotidiana do país foram assassinadas mais de 65 mil pessoas em um ano, em torno de 70% delas negras e pardas e moradoras de favelas e periferias urbanas.

O que chamou a atenção em especial na operação conjunta das polícias Civil do Rio de Janeiro e da Federal, através da superintendência estadual, foi a participação do COT, unidade de operações antiterrorismo da PF, o que confere à ação caráter mais urgente e grave, sobretudo considerando-se que não há nenhum grupo terrorista em ação no país – a não ser que as autoridades considerem como tal os comandos do tráfico de drogas, alvo da operação de ontem.

A polícia falar em troca de tiros, em granadas atiradas contra ela numa casa simples com crianças confinadas em isolamento social é bizarro, tosco, grotesco, os próprios moradores desmentiram com palavras e com suas vidas modestas de crentes reconhecidos na comunidade. A farsa policial é a mesma de sempre e só serve para aumentar a revolta e o repúdio.

O fato de conduzirem o menino no helicóptero policial, sem autorização da família, dá margem à suposição de que tenham presumido o terrível erro e tentassem desfazer o flagrante. A nota oficial diz que bombeiros do SAMU socorreram, em vão. João Pedro chegou morto ao hospital de São Gonçalo. Virou um número a mais nas estatísticas da violência policial, que não é fenômeno do Rio de Janeiro, mas política de governo, principalmente desde a posse de Jair Bolsonaro e de Wilson Witzel.

As entidades de defesa dos direitos humanos mais uma vez se manifestam com protestos na mídia, mas todos parecem tristemente impotentes diante da escalada que vitima a sociedade.