O desastre socioambiental em Boa Esperança

Tragédia em Boa Esperança, Niterói. Foto: TV Globo

Mais uma tragédia. Mais uma tragédia relacionada às pessoas mais pobres. Mais uma tragédia relacionada à falta de política habitacional eficiente. 14 pessoas mortas. 11 vítimas encontradas com vida, até o início da noite do dia 10. Das vítimas fatais, 2 ainda não haviam completado 2 anos. 4 não haviam chegado aos 20 anos. A vida de crianças e jovens interrompida muito cedo por uma tragédia. A história não para de se repetir.

Em abril de 2010, o deslizamento de terra registrado no Morro do Bumba foi responsável pela morte de 48 pessoas. Após essa tragédia, a Prefeitura de Niterói realizou maiores estudos acerca das áreas de risco do município. Porém, segundo o prefeito Rodrigo Neves, o Morro da Boa Esperança não foi classificado como área de alto risco.

O prefeito afirma que a tragédia não se relacionou ao deslizamento de encosta. Em nota oficial divulgada nas redes sociais, a Prefeitura reitera que a Defesa Civil e o Departamento de Recursos Minerais do Estado do Rio concluem que se tratou do rompimento do maciço na comunidade de Boa Esperança.

“Desde 2013, a Prefeitura de Niterói fez cerca de 70 obras de contenção de encostas, entregou mais de 3 mil casas populares e está desenvolvendo um trabalho específico, focado em áreas de alto risco geológico. Foram investidos mais de R$ 200 milhões no Sistema Municipal de Defesa Civil de Niterói, considerado pela ONU uma das cinco melhores do Brasil. Nos últimos seis anos, não tivemos nenhuma tragédia com deslizamento de terra em encostas na cidade.” –declara a nota. No entanto, alguns especialistas atestam erro na atualização das áreas de risco, indicando que o Morro da Boa Esperança não representava uma área segura.

O problema da habitação continua sendo ignorado pelo poder público. E não se trata apenas de Niterói. No período em que o Sudeste registra o maior volume de chuvas, deve-se estar alerta para a proteção das populações que vivem em áreas de risco. Moradia não se trata de um privilégio, mas de um direito constitucional. Enquanto não houver uma preocupação com políticas habitacionais, tragédias como essa continuarão acontecendo. E sabe-se bem quem são as vítimas fatais.