Natal da favela terá ceia menos farta, mas, não faltará amor

Aumento do preço alimentos afetou ainda mais, os já considerados caros, ingredientes da ceia de Natal - Foto: Oswaldo Forte/ Agência Belém

As festas de fim de ano em 2020 serão diferentes de todas as outras. Com a pandemia, as dificuldades recorrentes que moradores das favelas e periferias brasileiras passam ficaram mais expostas. Isolamento social, economia do pouco dinheiro e preço dos alimentos nas alturas fizeram moradores da favela se adaptarem para realizar a festa de Natal.

Patrícia da Silva Vitorino, 41 anos, cabeleireira e esteticista, moradora da favela Vietnã, em São Paulo, percebeu essa alta gradativa nos preços nos últimos tempos. “O custo de vida está muito alto para o salário, e essa situação do coronavírus só veio agravar, tem alimentos como óleo, que estão com preço absurdo. Hoje eu trabalho para comer e não para ter luxo”, desabafa.

A estudante de jornalismo, Vitória Viana é moradora do bairro Liberdade, em Salvador e corrobora com a opinião de Patrícia acerca da alta dos preços. “Eu sempre achei comida mais caro que roupa, mas não imaginava que o preço teria uma alta tão significativa”, comenta.

A percepção de Patrícia e Vitória vai de encontro com dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor, do IBGE. No índice, o maior aumento de preços em dezembro esteve relacionado aos alimentos e bebidas (2%) e o menor ao vestuário (-0,44%).

Natal da favela na pandemia

Vitória recebe o auxílio emergencial que ajuda a pagar seu curso. Para ela, dependendo da quantidade de pessoas que residem em uma casa, o benefício ajuda, mas não consegue influenciar em uma boa alimentação. No entanto, pensando no Natal, ela acha que esse dinheiro pode ajudar as famílias a desfrutar de uma ceia, por mais simples que seja.

Para Patrícia, diante desse cenário de maior austeridade, ela pretende passar o natal em casa com a família e fazer uma ceia simples. “A incerteza que vivo hoje pede para que eu economize o máximo possível”, explica.

Morador da favela Vila Nova, em Belo Horizonte, o metalúrgico Bruno, de 35 anos, diz que mesmo com a pandemia e os impactos econômicos, as coisas em sua vida se encaminharam. A ceia de Natal em sua casa será adaptada ao momento da pandemia, mas não relacionada as questões econômicas e sim aos cuidados, para evitar a transmissão da Covid-19.

“Ano passado foi muito bom, todo mundo reunido com a família, mas esse ano vai ser diferente, vamos tomar mais cuidado, prevenir, ligar um para o outro e fazer chamada de vídeo”, esclarece.

Na casa de Vitória, as comemorações de Natal e fim de ano, também contarão com número reduzido de pessoas, mas, ela não enxerga isso como algo negativo. Para ela, a pandemia trouxe ressignificação em diversos âmbitos, inclusive no familiar. “Geralmente, todos se reúnem em uma única casa, com a pandemia cada um ficará na sua, assim o natal será mais próximo da família e mais longe das aglomerações e festas”, complementa.

Mesmo com situações distintas, para alguns a falta de recursos, para outros a falta da presença dos familiares, todos os entrevistados concordam que este Natal terá fartura essencial. “As mesas do Natal 2020 serão menos fartas na favela, mas repletas de amor!”, conclui Vitória.

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