Não existe “dívida do coranavírus”, e sim um governo que não gasta com pobres

Paulo Guedes resiste a políticas públicas, mas defende grandes fortunas - Foto: da internet

Antes mesmo da epidemia do Covid-19 o crescimento da economia não alcançava as expectativas das principais potências do mundo. Desde o colapso imobiliário nos Estados Unidos em 2007, seguido do desequilíbrio da zona do euro em 2010, a economia capitalista já se mostrava em crise e o coronavírus apenas acelerou o empobrecimento de famílias, o número de desempregados e a vulnerabilidade social da população. Porém, enquanto a população pobre tem ficado ainda mais pobre as inúmeras crises vem favorecendo bilionários.

De acordo com a ONG Oxafam,que realizou uma pesquisa onde segundo o relatório gerado toda a riqueza no mundo produzida entre os anos de 2017 e 2019, cerca de 85% foram para apenas 1% dos mais ricos do mundo. Ainda segundo o relatório a riqueza dos bilionários aumentou em 13% ao ano enquanto os salários dos trabalhadores cresceu em média 2% em todo o planeta, e que oito homens possuem a mesma riqueza que 3,6 bilhões de pessoas em vulnerabilidade por todo o mundo. Esses dados nos mostram que o crescimento dos bilinários é inversamente proporcional a melhora da vida dos trabalhadores.

Com a “coranacrise”, os governos foram obrigados a lidar com a população pobre de seus territórios, países, estados e prefeituras foram obrigadas a gastar o dinheiro público para proteção de vida e não para geração de lucro através da mercadorias. O coronavírus trouxe a tona o debate fiscal para o mundo, principalmente para o Brasil que vinha de uma agenda de reformas tributárias e perda de direitos desde que sofremos o golpe parlamentar de Michel Temer. Nesses quatro meses de quarentena foi quase “consenso” por economistas, movimentos sociais, população que é necessário investir e gastar com saúde e políticas de assistência social e apoio aos trabalhadores e pequenas e médias empresas. Mas mesmo com o “quase consenso” o ministro da economia Paulo Guedes não cedeu ao apelo de cientistas, governantes e população e assim a crescente da pobreza e vulnerabilidade só aumentou no país. E mesmo sem investimentos significativos as palavras do ministro giram quase exclusivamente em torno de “pagar as contas da crise”.

Guedes repete demagogicamente sobre gastos governamentais como se fossem gastos familiares, sendo assim o governo não pode gastar e é inteligente investir em uma poupança. Essa comparação não é apenas simplificadora mas como equivocada, porque diferente das famílias brasileiras o governo tem a capacidade de definir o seu próprio orçamento. A arrecadação de impostos é fruto de uma decisão política, por exemplo, o governo pode tributar grandes fortunas e importações de bens de luxo para investir na compra de equipamentos de saúde, remédios, hospitais e políticas de assistência social.O governo pode sim definir quem gasta e quem recebe, diferente dos trabalhadores e trabalhadoras.

Outro ponto que não é comum entre chefes de família e chefes de governo é que quando o governo gasta parte desse valor volta em forma de impostos, enquanto famílias não tem a devolutiva do que gastam nas mesmas proporções que o governo. E a principal diferença é que trabalhadores e trabalhadoras não emitem moeda, não decidem taxas de juros e não tem o poder de perdoar dívidas, situações que os governos têm autonomia para agir. Definitivamente governos e famílias não são iguais e o abismo entre um e outro só piora a vida das famílias vulneráveis.

Paulo Guedes não pode dizer que acabou o dinheiro, que não terá mais auxílio e que não há mais o que fazer, pois ao dizer isso, ele afirma que o Estado não tem capacidade de taxar, de se endividar ou de imprimir dinheiro. Ao invés de não investir em gastos públicos de assistência social para proteger grandes fortunas e interesses de multinacionais, Guedes opta por vender reservas e riquezas nacionais, sacrificar o serviço público e ameaçar a soberania nacional. A imprensa aliada aos interesses da parcela mais rica da população se esforça para mostrar que qualquer repasse para população vulnerável causará abstinência e sacrifícios para a futura geração, que as despesas hoje virarão impostos amanhã e que temos que ceder as privatizações e reduzir os direitos sociais e funcionalismo público. Também frisa que a “conta do coronavírus” será paga pelos trabalhadores quando na verdade ao gastar os governos aumentam a renda da população que consome e mantém a economia e ao se endividar basta o governo taxar grandes fortunas e terras e deixar dívida a rolar.

Não podemos ter medo da dívida, países com dívidas públicas são o “novo normal”. O que não podemos normalizar são tetos no gasto com saúde e educação, aumento da carga tributária de produtos e não de grandes fortunas. O fim do auxílio e aumento de impostos são a cloroquina da economia: receitados sem eficácia e apresentando um monte de efeitos colaterais, principalmente para os mais pobres.