Meu casebre, calibre 38

(reprodução da internet)

Era a última a me mudar

Já nem fazia mais sentido, eu sozinha, ainda morar lá.

Minhas cinco amigas já tinham ido encontrar seu destino.

Esperava aquele tal dia de ajudar meu amigo.

Minha casa ficava em um lugar por vezes apertado

Lá em cima, legalizada, em gaveta de armário.

Ele era cuidadoso, sabia a hora certa

Vi que em segundos e uns estampidos, todas elas tinham cumprido a missão correta.

Nem percebi raiar o dia

Deitada estava em minha moradia

38, era seu número

Foi quando chegou o moço que um dia já fingiu vestir aquela farda tom escuro

Pegou uns tostões de sempre, uma “ajudinha”, como se ao meu amigo não fosse muito

Ele já estava decidido, naquele momento eu seria útil

Enfim poderia seguir o meu caminho.

Sacou minha moradia, concentrou-se em mira

Eu já estava tão feliz, aquele era o bendito dia.

Mas nem ele, muito menos eu contávamos com a ironia.

Culatra era o que nos surgiria.

Meu casebre 38, o mataria.

Estilhaçada fiquei,

Tiro, munição, bala, por ter esses nomes me odiei

Nas mãos já vermelhas de um menino, filho dele, eu parei

Até aquele garotinho de dois anos entendia mais de liquidificadores que um cidadão de bem.

 

Israel Sant’Anna Esteves