Flor da Mina: tradição no carnaval do Andaraí

Escola nasceu no morro do Andaraí e já somam quase 90 anos de carnaval. (Créditos: Eliane de Carvalho / Riotur)

 

Neste carnaval de 2018, o Clube Carnavalesco Escola de Samba Flor da Mina do Andaraí homenageia São Cosme e São Damião com o enredo: “Hoje Tem Doce! Tem Cosme! Tem Alegria! Tem Damião! É Dia de Festa e Fé no Andaraí!”. A escola busca com este carnaval resgatar o passado e se reaproximar da comunidade.

O autor do enredo da C. C. E. S. Flor da Mina do Andaraí para 2018 é o diretor de carnaval da escola Fabio de Deus. A Flor da Mina é a 14ª escola a desfilar no domingo, 11, na Estrada Intendente Magalhães. Segundo ele, o enredo é contado pela ótica de uma criança.

– Viveremos este dia tanto pela parte cultural como pela religiosa com o sincretismo dos terreiros de Umbanda e de Candomblé, mas tudo isso com pureza e alegria, porque todas as crianças são iguais. É uma atmosfera que faz do Andaraí um lugar mais que especial, conta Fabio.

A escola, hoje presidida pelo fundador Pedrinho da Flor, quer se fortalecer e se reaproximar ainda mais da comunidade. Para isso todas as fantasias serão gratuitas para quem quiser desfilar.

Depois da extinção da Escola de Samba Floresta do Andaraí, que desde a década de 1930 desfilava junto a outras grandes escolas da época, como Portela, Mangueira, Deixa Falar, entre outras, a comunidade sentiu a necessidade de criar uma nova agremiação que representasse o Andaraí.

Em 1962, um grupo de moradores criou o Grêmio Recreativo Bloco Carnavalesco Flor da Mina do Andaraí – um deles era Carlos Luiz do Nascimento. Naquela época, eram organizados também concursos de sambas de terreiros e shows de passistas, sempre com uma grande união entre integrantes da escola. Somente nos anos 1990, já com outra diretoria, foi criada a escola de samba, passando o grupo a se chamar C. C. E. S. Flor da Mina do Andaraí.

A tradição carnavalesca do Morro do Andaraí vem de longe. A moradora Almirene, que já fez parte da diretoria da Flor da Mina, relata que um bloco chamado Rapa da Dona Antuérpia, fundado por sua avó, saía pelas ruas da comunidade na noite de Natal, fazendo, de casa em casa, uma grande confraternização. O grupo confeccionava seus próprios instrumentos usando latas, jornais e cola.

A família de Dona Antuérpia era muito grande e juntava vizinhos e amigos em um grande quintal, onde foram criados vários eventos locais, como times de futebol, festas juninas e grupos musicais como o CP4. Também foi ali que fizeram várias reuniões para a própria fundação do bloco que deu origem à Flor da Mina – nome inspirado pela mina de água cristalina que abastecia os moradores da comunidade, onde também existia uma roseira.

Nos primeiros tempos, a agremiação mobilizava muitos moradores e comerciantes, que chegavam a contribuir financeiramente para a existência da escola. A quadra estava sempre cheia, como relata Waldir da Mina, que já foi compositor, vencedor de vários sambas-enredo, puxador durante 16 anos e também presidente do Bloco.

Hoje, a C. C. E. S. Flor da Mina luta para trazer de volta a comunidade – a moradora Sonia Guida vê a necessidade da criação de projetos que envolvam as crianças da comunidade, como a criação de oficinas de ritmo, teatro, dança ou qualquer outra atividade cultural capaz de criar os novos cidadãos do samba. Ela termina seu relato solicitando o apoio de todos os devotos de São Cosme e Damião nesta linda homenagem que será feita pela Escola: “Venham nos prestigiar com sua fé e sua força”.

 

Créditos: Eliane de Carvalho / Riotur
Créditos: Eliane de Carvalho / Riotur

São Cosme e Damião no Andaraí

No dia 27 de setembro, é comemorado o dia de São Cosme e São Damião, os santos gêmeos da Igreja Católica.  A única paróquia da Arquidiocese dedicada a estes santos na cidade do Rio de Janeiro fica no bairro do Andaraí, na mesma rua da quadra da C. C. E. S. Flor da Mina do Andaraí. A igreja guarda uma relíquia: um pedacinho dos ossos dos santos.

Segundo a tradição católica, São Cosme e São Damião eram irmãos gêmeos e médicos. Eles viveram na Ásia Menor e ficaram conhecidos por curar pessoas e animais sem cobrar dinheiro. Morreram por volta do ano 300 d.C, vítimas da perseguição do imperador romano Diocleciano. Segundo o Catolicismo, Cosme e Damião são santos e mártires do Império Romano. Eles são considerados os padroeiros dos farmacêuticos, médicos e das faculdades de medicina.

A comemoração popular de São Cosme e São Damião, assim como no Candomblé e na Umbanda, continua a acontecer em 27 de setembro, apesar da alteração da data em 1969 pela Igreja Católica para o dia 26. Nas religiões de matriz africana, eles são conhecidos como orixás gêmeos, filhos de Xangô e Iansã. São Cosme e São Damião também são considerados protetores das crianças. Por isso, as pessoas criaram o costume de distribuir doces para homenagear os santos ou cumprir promessas feitas a eles.

A corrida pelos doces de São Cosme e Damião costumava ser uma tradição que movimentava as cidades. Hoje, ainda vemos muitas crianças buscando os saquinhos com as guloseimas, mas muito menos que em tempos passados.

Publicado na edição de fevereiro de 2018 no Jornal a Voz da Favela.