“Essa Coca é Fanta”: a homofobia precisa deixar de ser brincadeira

Apesar de alguns avanços, a lgbtfobia ainda é tratada por parte da população brasileira como algo “natural”, sejam em bairros luxuosos ou em favelas. Principalmente entre homens heterossexuais e entre os meios religiosos/tradicionais, os padrões de masculinidade, a repulsa e a discriminação com a população LGBT e a naturalização da lgbtfobia são externalizadas desde piadas e trocadilhos, até a violência física, levando muitas vezes ao extermínio desses corpos que fogem da regra heterossexual.

A tentativa de negar e desqualificar orientações sexuais que fogem da heterossexualidade está presente em vários setores da vida em sociedade: no trabalho, na família, nas instituições religiosas, na política e até mesmo nas formas em que tais questões são tratadas na mídia corporativista.

Apesar disso, já se vê nas redes sociais um embate em relação a esses tipos de discriminação tendo de um lado pessoas que afrontam a lgbtfobia como uma forma de pensamento arcaico, ultrapassado, criminoso e que deve ser exterminado das relações sociais, e do outro pessoas que insistem em naturalizar tais tipos de violência, chegando a categoriza-las como “brincadeirinhas inofensivas”.

Os que rotulam como “brincadeirinha” violentam os indivíduos que se põem na linha de frente contra essa forma acéfala de fazer humor (que inclusive tem sido rotulados de “mimimi”) fazem parte de uma geração que não aceita mais um “humor” que viola, que diminui, que menospreza e que inferioriza. “Humor” este que serve para reforçar uma masculinidade tóxica e estereótipos excludentes dentro das relações sociais.

Quem aqui nunca ouviu a estúpida frase: “Essa coca é fanta?”  Seja por falta de conhecimento ou por força do hábito, torna-se necessário o enfrentamento a tais trocadilhos. Principalmente quando o Brasil ainda lidera o ranking de países que mais matam LGBT’S no mundo.

Piadas como: “Isso é coisa de veado”, “é o fresco é?” ou até “duas mulheres se beijando me agradam, mais homem é nojento” não são só preconceituosas, maldosas e intolerantes, como também contribui para uma cultura que mata existências, ou seja, elas são também responsáveis pelo sangue derramado.

O que a Agência de Notícias das Favelas tem a ver com isso? Tudo! Principalmente porque a negação do debate sobre gênero e orientação sexual no Brasil atinge de forma massiva os nossos territórios. Sendo essa falta de conhecimento (negligência) fator importante para que pessoas pobres, negras e faveladas tenham pouco acesso acerca do assunto e naturalizem falas como: “morreu porque escolheu uma vida assim”. Não é a toa que a violência para com pessoas negras e faveladas que fazem parte da população LGBT é mais frequente no nosso país.

É um absurdo em uma sociedade que se pretende à modernidade, existirem pessoas se sentindo a vontade ou no direito de violentar LGBTs por meio de risos, piadas e brincadeiras constrangedoras que reforçam a cultura homofóbica e naturalizam o extermínio dessas vivências.

Já que a política vigente não tem se voltado a encarar a lgbtfobia como um problema, é importante garantir a conscientização e o embate entre os nossos. Não basta levantar a bandeira de um “humanismo” que só acontece quando nos convém. As pessoas heterossexuais precisam compreender que não estamos mais em tempos onde o armário e as escuras boates ou becos eram a nossa única saída. Estamos adentrando o campo profissional, o campo político, o campo artístico, cultural, e ainda que as nossas vivências venham a chocar o tradicionalismo fadado ao fracasso, a lgbtfobia não passará.

Não se trata de negar a heterossexualidade, mas sim de afirmar que no rap ou no frevo, no jornal ou na rádio, na escola ou na universidade, em qualquer contexto, a diversidade sexual deve ser um direito e não apenas “uma questão de ponto de vista”.