Escola de samba da periferia de Guarulhos atua como quilombo urbano

À esquerda, "Véio", patrono da escola de samba Império Jardim Presidente Dutra. FOTO: Divulgação

A escola de samba Império Jardim Presidente Dutra leva no peito o nome do bairro da periferia de Guarulhos, que começa onde termina a pista do Aeroporto Internacional da cidade. Na lista dos que fazem o corre cultural e social pela quebrada, está a escola de samba, promovendo desde distribuição de alimentos até corte de cabelo, sem esquecer do samba.

O Jardim Presidente Dutra tem 50 mil habitantes vivendo entre a passagem de uma das principais avenidas, a Papa João Paulo, e as margens da rodovia Presidente Dutra. Há casas boas e asfalto, mas o bairro não escapa, em algumas partes, do rodízio de água e asfalto esburacado.

Algumas ruas alagam e, muitas vezes, a água invade a casa dos moradores, principalmente nas áreas mais empobrecidas do Jardim Presidente Dutra, como na rua Maria Paula Mota.

Conhecida como Rua 100, nela rolam bailes funk, um dos principais fluxos da cidade. É ali que está instalado o galpão da Império Presidente Dutra. A escola de samba foi fundada em agosto do ano passado. É a primeira do bairro, com o intuito de trazer mais cultura e contribuir com a comunidade.

“Eu não preciso desenvolver um trabalho no Lago dos Patos, na área nobre de Guarulhos, preciso desenvolver um trabalho onde o governo parou de fazer”, explica o presidente da escola de samba, Hendrix William Freitas Barbosa.

Quilombo com cultura, respeito e paz

Através de doações de pessoas, de uma empresa de aço e de comércios do bairro, como adegas e pequenos mercados, a escola de samba distribui cestas básicas e criou projetos para aumentar a autoestima da população, como apresentações artísticas. Recentemente, o instituto GIGGA, de ginástica artística, este por lá.

Cortes de cabelo estão entre as ações da escola de samba. FOTO: Divulgação

Fizeram também a distribuição de kits de beleza para mais de 800 mulheres e cortes de cabelo, com apoio da Neandro Hayr Academy. O patrono, Sérgio Luiz Guedes da Silva, pai de Hendrix, apelidado de “véio”, vê a escola de samba como um quilombo, lugar onde as pessoas podem encontrar cultura, respeito e paz.

Ativo e forte

Véio, líder comunitário, é uma espécie de paizão e peça importante politicamente. Apesar da longevidade, vive correndo atrás de espaços para eventos, entre outros corres. Sérgio conta que sente discriminação com a escola de samba, como na festa de inauguração, quando oito viaturas quiseram acabar com o evento alegando perturbação pública.

A festa aconteceu no sábado à tarde e na principal rua da favela. “Será que a gente invadiu alguma coisa de alguém, ou quebramos alguma coisa muito cara?”, pensou Sérgio, quando viu as viaturas. Independente dos percalços, a escola de samba é uma grande vitória, tanto para periferia quanto para os antepassados do patrono.

Alertando contra a politicagem

Ultimamente, Sérgio anda pelo bairro alertando a população para não cair no papo de charlatões políticos, que aparecem para comer pastel na feira e pedir voto. “Muitos prometem e, no final, não fazem nada.”

Logicamente, políticos o procuram. Dia desses, vieram atrás de Sérgio perguntando do que ele precisava. O preto rebateu questionando o que iam fazer para a comunidade.

Quilombo significa cultura, arte e ações sociais. Escola de samba atua com e na comunidade. FOTO: Divulgação

Eu vim de lá pequeninho

Sérgio Luiz mora há cinco anos no bairro. Ajudou a criar a escola de samba que, mesmo a pouco tempo na quebrada, procura maneiras de desenvolver a cultura da região. Isso é um reflexo da história de vida do patrono.

Nascido no Rio de Janeiro, no morro do Borel, e criado na zona leste de São Paulo, Sérgio vem de uma família de sambistas que ajudaram a criar a Unidos da Tijuca, uma das mais tradicionais escolas de samba da capital fluminense.

Ele me conta que, desde criança, as festas do bairro eram na sua casa. “Já nascia no sangue com samba e rap”, define Sérgio. Na zona leste de São Paulo, foi diretor da Unidos do Peruche, escola de samba criada na década de 50.

Em Calmon Viana, presidiu a escola de samba Vai Quem Quer Futebol e Samba, por quase 23 anos, onde começou a tocar seus primeiros projetos sociais. A família mora lá até hoje. “Para ajudar, não pode ter fronteiras”, diz Sérgio, que é babalorixá e ajudou a tombar diversas casas de axé, conseguindo documentos para virarem associações e institutos.

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