Eleição 2020: moradores de Santa Cruz, no Rio, alertam sobre “curral eleitoral” no bairro

Com mais de 200 mil habitantes, bairro é destino certo de políticos nas campanhas eleitorais - Foto: Emanuel Paiva

A expressão “curral eleitoral” é muito utilizada para que possamos entender melhor esse fenômeno político que acontece desde os primórdios da nossa democracia. Nele, um determinado político ou grupo, usando diversos subterfúgios, entre eles a própria administração pública, controla e mantém um certo número de “cabeças” votantes. Uma prática familiar e conhecida pelos moradores de Santa Cruz, bairro da Zona Oeste carioca.

Tal expressão poderia até ter surgido em Santa Cruz, durante a Primeira República, pois, o bairro é famoso pelos grandes investimentos na área agrícola desde o Período Colonial. Em 1881, o local recebeu o matadouro de bovinos, além de ter muitos currais para engorda do gado, vindo de diversos lugares para, posteriormente, serem vendidos para o abate. Ainda hoje, Santa Cruz possui uma localidade conhecida como Curral Falso.

Exercícios de imaginação sobre a origem do termo “curral eleitoral” à parte, a ideia de um bairro com 217.333 habitantes, segundo o Censo 2010, é uma potência para fazer a diferença em qualquer processo democrático. Entretanto, mesmo com esse número, transformações almejadas há anos não chegam ao bairro. Entre elas, pode-se citar: novos equipamentos culturais, mobilidade urbana, lazer, segurança, saneamento e a tradicional dobradinha de saúde e educação.

Em Santa Cruz não existe o “candidato do bairro”, mas sim, o morador do bairro, e cabe a estes ver-se dotados de poder para que mudanças estruturais ocorram. Outro aspecto da participação política na região, que chama atenção atualmente, é o aumento do ativismo não-partidário de articulações feitas por moradores que tecem novas redes, com objetivos de transformação da realidade local.  Diversos coletivos, associações e ONG’s constroem um retrato mais dinâmico e atual sobre a realidade social do bairro.

Embora tenha-se neste ano, num panorama geral, eleições com uma diversidade importante de candidaturas com pautas identitárias, ainda é cedo para afirmar se superamos essa página da história. Somente as urnas mostrarão os rumos!

É preciso mostrar aos candidatos eleitos que a lógica do “curral eleitoral” não deve perpetuar em nosso bairro. Ao contrário, deve ser reconhecido como uma região potente, capaz de eleger legítimos representantes para que trabalhem em prol da população da cidade e deste histórico, estratégico e singular bairro chamado, Santa Cruz.

  • Esta matéria faz parte da série Eleição 2020, da Agência de Notícias das Favelas (ANF), e teve colaboração de Ana Cruz.

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