Dez anos depois: o legado da ocupação policial no Complexo do Alemão

Em maio de 2020, mais de 10 pessoas morreram em uma operação policial no Complexo do Alemão - Foto: Ricardo Moraes/Reuters

Neste sábado, 28, é marcado os 10 anos da ocupação das polícias militar, civil e federal no Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio de Janeiro. A data é constantemente relembrada pelas imagens onde criminosos correm por uma estrada de terra, em fuga. Uma operação, vista na época com esperança, que teve como resultado a implementação de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) no complexo de favelas dois anos depois.

A primeira UPP foi inserida no Morro Santa Marta, Zona Sul do Rio de Janeiro, em novembro de 2008. Com o intuito de estabelecer um policiamento comunitário, próximo ao cidadão e de abrir caminho para serviços públicos do Estado dentro das favelas, o projeto obteve êxito nos indicadores de violência nesses territórios. No entanto, este fator perdurou apenas durante três anos.

Legado da ocupação

A calmaria que adentrou o Complexo do Alemão e a repercussão internacional após a invasão, fez com que o comércio local passasse a crescer. Projetos de educação e cultura e o turismo passaram a fazer parte da realidade dos moradores. Assim como a implementação do Teleférico do Alemão, inaugurado em 7 de julho de 2011, que facilitou a vida dos residentes.

No entanto, com o passar dos anos a violência voltou a fazer parte do local e o conceito de polícia comunitária não era visto pelos moradores, que passaram a relatar diversos abusos dos agentes. Com isso, iniciativas deixaram de entrar no morro e o Estado voltou a operar como de costume, na bala. O Teleférico, que ainda levava o turismo até o Complexo, está com o funcionamento interrompido desde o dia 14 de outubro de 2016, pela falta de pagamento por parte do Estado ao consórcio, além do desgaste de um dos cabos de tração.

Por que não deu certo?

Segundo especialistas, a implementação da força policial em uma UPP no Complexo do Alemão, aconteceu ainda baseada no enfrentamento. Diferentemente do que era prometido pelo projeto, a construção de uma polícia cidadã.

Ao G1, a assistente social, Lucia Cabral afirma que o outro motivo para não ter dado certo, foi a falta de investimento em educação. Segundo ela, muitas crianças e adolescentes tinham que ir para fora do complexo para estudar.

Além disso, a UPP social, não se fez presente nas favelas do Complexo. Muitos serviços públicos continuaram sendo faltosos no território, como: investimentos em infraestrutura e saneamento básico.

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