Da margem ao centro: o protagonismo feminino na transformação da sociedade

Mulheres negras atuam na promoção de cultura, esporte e atividades sociais em regiões periféricas.

créditos: ONG Anjos da Tia Stellinha

Ao longo da história, as mulheres foram subjugadas pela sociedade. Muitas conseguiram conquistar seu espaço, enfrentando preconceitos e diversas dificuldades, mas ainda faltam muitos lugares a serem ocupados, muitas batalhas a serem vencidas, como aponta a assistente social Stella Maris Monteiro Moraes, de 35 anos, fundadora da ONG Anjos da Tia Stellinha. A iniciativa realiza cerca de 800 atendimentos mensais e conta com uma equipe com 3 funcionários e 34 voluntários-técnicos.

“Não se vê, em espaços de discussões de direitos humanos, mulheres negras, de periferia, e muito menos que não tenham no mínimo uma especialização ou mestrado. Precisamos, enquanto mulher negra, utilizar de políticas afirmativas para nos colocar em espaços universitários ou lutar em espaços de controle social para sermos ouvidas”, afirma.

Stella Moraes | créditos: Anjos da Tia Stellinha

Mãe de cinco filhos, Stella é uma das muitas mulheres que vem promovendo ações de impacto para mudar a realidade de territórios e seus habitantes. Há quase 20 anos ela realiza trabalhos sociais, há seis criou a ONG Anjos da Tia Stellinha, que atua junto a mães do Morro dos Macacos, em Vila Isabel, na Zona Norte do Rio de Janeiro, oferecendo a elas e suas famílias meios para saírem da situação de pobreza e alçarem emancipação financeira, emocional e social. 

Para a historiadora especializada em arte, Gisele Castro, ser mulher, preta e periférica no Brasil sempre foi motivo para sentir a morte precoce rondando o tempo todo. “Refiro-me não somente à morte de corpos pretos, mas também à morte de nossos sonhos. É contra isso que venho lutando. Não há um dia em que não pense nisso. E é certo que farei isso até o meu último sopro de vida”.

Gisele ajuda a alimentar o sonho daqueles que participam do projeto social Golfinhos da Baixada, em Queimados, do qual é coordenadora. A ONG busca, desde 2011, tornar acessível a prática da natação para crianças e jovens da região, fazendo do esporte um meio de transformação social. 

“As ações no Golfinhos sempre buscam valorizar esse território, despertando a importância da coletividade. Acreditamos que é possível fazer mais. Tem que se ter direito à educação, arte, lazer, saúde e o que mais for preciso para viver dignamente”.

Gisele acredita que é preciso continuar batalhando, mesmo diante de tantas adversidades. “Nós, mulheres, temos feito um trabalho lindo. Mesmo que pareça que avançamos pouco e que não faz sentido seguir lutando, é preciso continuar. As vitórias de uma mulher preta nunca são individuais, mas coletivas”.

A cineasta Andressa Hygino, moradora do Parque Anchieta, segue na luta e também tem impactado a vida dos pequenos. Ela leva a magia da sétima arte a crianças e adolescentes de 9 a14 anos com o Cinelab Infantil, laboratório itinerante  de experimentação de cinema e do pensamento. 

“A ideia nasceu de um olhar sobre a carência de iniciativas que tragam a experiência do cinema para o nosso território. Com esse projeto, queremos democratizar o cinema, começando pelas bases, isto é, voltados para a infância, onde as habilidades criativas do sujeito estão em expansão”.

Segundo Andressa, garantir direitos relacionados à cultura nas periferias é um grande desafio. “Primeiro, pela falta que ainda temos de um investimento dos nossos governantes no que é mais básico: alimentação, moradia e educação. Nesse contexto, o incentivo às práticas artísticas acaba sendo deixado para depois”.

Para ela, as artes são “extremamente importantes no desenvolvimento da subjetividade e servem como instrumento de expressão e comunicação capaz de amplificar as vozes das periferias”.

A cineasta também incentiva outras mulheres a assumirem lideranças locais, nacionais e globais, destacando o protagonismo feminino negro. “Como disse o intelectual Silvio Almeida, as mulheres negras foram e são responsáveis por desenvolver tecnologias de sobrevivência em condições adversas à vida do seu povo. Essas tecnologias são a nossa herança, devemos fazer uso delas para prosseguir em nossas estradas”.

Matéria publicada originalmente no Jornal A Voz da Favela em Março de 2021.

Escrita por Beatriz Carvalho e Maria Clara Salvador como coautora.

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