Crônica: Nada de novo no front

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E, subitamente, fez-se a guerra. Os monstros adormecidos, agora, tomam posse do homem. E dos instrumentos ordinários no destino do trabalho, se erguem armas.

Agigantados pelo som do hino bárbaro, fascinados pelo ódio do discurso fácil, que é uma fuga fácil, marcham condenados a desmembrar o inimigo. Placas escritas “compram-se almas”, logo se espalham pelo submundo.

Na retaguarda, apenas a indústria infernal do lucro. Um lamentável escombro à porta.

Como se a humanidade há tempos não assistisse um golpe, um disparo, um míssil, a cobertura midiática aponta o demônio, que nos afasta dos trilhos da civilização. A sentença dada, todos se tornam um pouco anjos para apedrejar.

A análise pari passu sobre o conflito “descoberto” há exatos dezoito dias, como já não estivesse, ao menos, oito anos no Donbass – região separatista com quatorze mil mortos, ou a questão do gasoduto, não cabem aqui relatar. Tentarei manter a sobriedade dos pilares da crônica, a que dedico.

Deixemos de lado, pois, que na geopolítica, antes das pólvoras a batalha se inicia com a informação. E que essa, tão factível a muitos de nós, vem dos monopólios da impressa ocidental. Verdadeiros aparelhos ideológicos de hegemonia, dizem-se, agências de notícias internacionais.

Um mercado também monopolizado. Fabricam, formatam, distribuem, como guia de pensamento e comportamento, segundo seus interesses, preconceitos, o que todos repetem pelas esquinas.

E também deixemos de lado que, muitas das notícias são a pura expressão de seus investidores. Quando não são eles mesmos os donos dos meios de comunicação. Como na indústria de armas, por exemplo, que financia inclusive outras indústrias, como a do cinema.

Não nos enganemos, para cada festim em filmes de ação, há sempre um dedo a mais no gatilho. E pilhas de cadáveres.

Assim como, são os mesmo que financiam campanhas políticas em amplo espectro. Como na corrida presidencial de dois partidos de iguais, de certa orgulhosa e mítica democracia. Se um analista honesto convidasse as vaidades ao fogo, diria, oligarquia. Ou, emaranhado de tubos de esgoto.

A France-Presse, a Associated Press e a Reuters Agency criam, o que imensa parte do mundo reproduz, como dados incontestáveis, manipulando emoções. E o que, geralmente, devemos abominar.

Então, eu os desafio aos números, acreditando que o efeito padrão nos confirme alguma realidade. Entre, o fim da segunda grande guerra, 1945 a 2001 houvera 248 conflitos armados, 201 foram os EUA que iniciaram. Por que não encontramos registros de demonização, por essas agências, da tão aclamada nação de Lincoln?

E por que, além da guerra tão explorada pela mídia entre russos e ucrânianos, há mais 28, sub-existindo, completamente ignoradas?

Entre bombas e golpes foram: China (1945-46), Síria (1949), Guerra da Coréia e China (1950-53), Irã (1953), Guatemala (1954), Tibet (1955-70), Indonésia (1958), Cuba (1959-61), Guatemala (1960), Congo (1960-65), República Dominicana (1961), Laos (1964-73), Vietnã (1961-73), Brasil (1964), Guatemala (1964), República Dominicana (1965-66), Peru (1965), Grécia (1967), Guatemala (1967-69), Camboja (1969-70), Chile (1970-73), Argentina (1976), Angola (1976-92), Turquia (1980, Polônia (1980-81), Camboja (1980-85), Granada (1983-84), Líbano (1982-84), El Salvador (1980), Nicarágua (1981-90), Irã (1987), Líbia (1986-89) Panamá (1989), Filipinas (1989), Iraque (1991), Haiti (1991), Kuwait (1991), Iraque (1992), Somália (1993), Bósnia (1994-95), Sudão (1998), Afeganistão (1998), Yugoslávia (1999), Iêmen (2002), Iraque (2002-03), Haiti (2004), Afeganistão (2001-15), Irã (2005), Paquistão (2007-15), Somália (2007-8, 2011), Honduras (2009), Iêmen (2009-11), Líbia (2011), Síria (2014-15), Ucrânia (2014), Brasil (2013-16), Bolívia (2019), Venezuela (2019), Guiana (2020), Iraque (2020), Somália (2020), Afeganistão (2020)… Inocultáveis crimes.

Segundo a mídia, ações heróicas, como nos devaneios de Hollywood. Assim disse Obama, único presidente que não cessou um dia sem guerra, ironicamente, no discurso de recebimento do prêmio Nobel da paz: “Há de se aceitar a dura realidade.

Não encerraremos nunca o conflito em nossas vidas”. Como tem-se constatado. E levado a cabo a doutrina do “Destino Manifesto”- Um povo predestinado por Deus a mover sua forma de vida a todo planeta, instituído por seus pais fundadores.

A banalização da violência é também um mecanismo de controle. E uma obsessão.

Aos incautos parecerá estranho um país poder tanto. Seria preciso um grande arsenal bélico. No entanto, com quase mil bases militares sufocando os cinco continentes, tudo parece mais crível. E não só existe a interferência do conflito direto, entre outras, há a guerra por procuração.

Primeiro, patrocina-se agentes internos para desestabilizar governos, com a ambição de os deporem, estabelecer outros favoráveis.

Isto posto, se arma uma nação, contra outra. Na surdina. Ou céu aberto. Invariavelmente os motivos são sempre econômicos. As justificativas, as mais lavadas, como, exportar a democracia aos incivilizados. Há a guerra. Nesta, a Ucrânia é o procurador, ou, como se diz, “a bucha de canhão”, Zelensky seu presidente, a marionete.

Temos um palco em miniatura, luzes fortes e centradas, mãos ocultas por trás da tela, um boneco manipulado por meio de cordéis. Ademais, o verdadeiro conflito é com a Otan e sua expansão ao leste, que é um ataque, sob as rédeas dos Eua, o mandatário.

Esse sistema de engrenagens de influência funcionando a pleno vapor, com: moeda, língua, cultura, política, tecnologia, monopólios, militares, sanções, golpes, balas, indivisivelmente, semeado como metástase nos demais organismos sociais é, o que chamamos de imperialismo.

E, como há tantos outros meandros envolvidos, que a hipocrisia dos jornais, maniqueístas, jamais nos informaria, mas não caberia a uma crônica, estou convencido que, se há guerra em algum lugar do mundo, fico ao lado de meu mestre Lima Barreto e seu tradicional, já naquela época, anti-imperialismo americano. “Se os yankees falam em liberdade, em paz e outras coisas bonitas, é porque premeditam alguma ladroeira ou opressão”. Como ele, esse correspondente aqui, observa, diretamente do subúrbio do Rio.

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