Contextualizando a II Marcha Nacional das Mulheres Indígenas, na linha de frente contra o Marco Temporal – 4ª parte

foto: Ramon Vellasco

O dia D da marcha Nacional das mulheres indígenas

Na sexta-feira, dia10 de setembro, pela manhã, Brasília acordou hoje ao som dos cantos e maracás de mais de 5 mil mulheres indígenas, pertencentes a 185 povos, que se preparavam para marchar pelas ruas da capital. Do acampamento, na Funarte, a Marcha seguiu até a Praça 21 de Abril, localizada na entrequadras 702/703 sul do Plano Piloto, onde o índio Galdino Pataxó foi queimado vivo e morto por jovens burqueses, em 20 de abril de 1997.

Em defesa de seus corpos-territórios e pelo fim do genocídio dos povos indígenas, a II Marcha Nacional das Mulheres Indígenas trouxe a força das mulheres guerreiras da ancestralidade na luta pela vida. O ato aconteceu de maneira pacífica, após uma semana de tensões provocadas por atos e ameaças racistas vindos de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. A marcha, que estava prevista para 9 de setembro, precisou ser adiada por questões de segurança.

A segurança da Marcha contou com uma equipe de mais de 50 pessoas, homens e mulheres indígenas, coordenados por Shirley desde o primeiro dia de acampamento, que precisou ser reforçada para garantir a segurança de mulheres e crianças durante todos os dias de atividade.
O povo Pataxó Hã-Hã-Hãe, presente na mobilização permanente indígena contra o Marco Temporal desde o Luta pela Vida, 22 de agosto e fizeram um comovente ritual em homenagem ao índio Galdino Pataxó.

A grande marcha das mulheres indígenas caminha até a Praça do Índio Galdino Pataxó, onde ele foi morto em 1997 _ foto: André matelli

Protagonismo da Juventude indígena

A juventude indígena feminina também se empodera e se faz presente. Silvinha é de Pernambuco e compõe a delegação do povo Xukuru de Ororubá e integra o Coletivo de Mulheres Xukuru. “Primeiramente, eu acho que é muito importante as mulheres indígenas estarem articuladas, estarem prontas para marcharem junto às comunidades. Nós do Coletivo de Mulheres Xukuru sempre fizemos isso, sempre presentes no processo de retomada do território, na melhoria da educação e da Saúde também. Nós já fazemos esta articulação de base porém é preciso também criar esta rede de consolidação com outros estados, criar estas redes de formações políticas. Este encontro como no acampamento, é uma formação política e a gente volta para os nossos territórios com outra visão, mais fortalecida ainda para voltar para as bases. É processo de conquista este protagonismo das mulheres, e muita luta”.

Silvinha explica ainda que no caso do Povo Xukuru as decisões são feitas a partir de instâncias de organização e gestão do território, e que o poder decisório não é concentrado só no cacique. O Coletivo das Mulheres Xucuru é apenas uma das instâncias. Existe o Conselho de Educação e o Conselho de Saúde, onde as mulheres também estão presentes na elaboração. “Sempre estivemos presentes dentro da organização interna, hoje muito mais forte enquanto coletivo de mulheres”, finaliza Silvinha.

O Povo Indígena Xukuru, habitante da Serra de Ororubá, em Pernambuco, é constituído por aproximadamente 2.300 famílias e 7.700 indígenas, distribuídos em 24 comunidades dentro do território indígena Xukuru, que possui 27.555 hectares de extensão, no município de Pesqueira.

Festas, danças e celebrações das coletividades indígenas

Com os primeiros raios de sol, a tenda principal das plenárias é ocupada por cores, cantos uníssonos e o coro do corpo coletivo de cada etnia em suas apresentações cerimoniais, que circula desde seu local no acampamento até o interior da tenda.

Os diversos povos fazem suas apresentações de danças rituais em vários horários do dia, com os corpos em adornos cerimonias e pinturas corporais próprias de cada etnia. Sob a marcação dos maracás junto às pisadas dos passos, e as artes plumárias dos mais variados matizes dançam em formas e cores, cocás, penas trançadas em fios de palha, carauá, arumã, braços e pernas adornados com missangas ou fios de palha. 

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