Como atua o fotojornalista de conflitos urbanos em tempos de índices de violência mais elevados

Imagem: Arquivo pessoal.

Conflito urbano em foco

Procure no Google a frase “dados de violência nas favelas” e verá que sempre se repetem as frases: “violência aumenta nas favelas” e “parem de nos matar”. De acordo com os dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), só no Rio de Janeiro, a morte nas favelas por agentes da polícia aumentou 127% em quatro anos. Todo dia é noticiada uma operação diferente em alguma favela ou mais uma família chorando pela morte de algum parente. O fotojornalista Betinho Casas Novas assume essa função de noticiar através de imagens de muitas dessas operações.

Na profissão há 11 anos, Betinho diz ter começado a se interessar por fotojornalismo por não concordar com a visão que a grande mídia dava sobre a favela em que morava. “Eu quis me formar em fotografia e me especializar na área de conflitos urbanos, para que, através do meu olhar de morador e de quem convive com a violência, as pessoas vissem o que realmente acontecia”, declara o fotógrafo.

A notícia está ali para alertar algo, ela está para incomodar e esse incômodo pode muitas vezes trazer riscos ao porta-voz dessa notícia. No caso do fotojornalista de conflitos urbanos existem dois lados do risco: o primeiro da própria área de conflito que está sendo coberta; e o segundo de uma possível censura de suas imagens, quando não se vive em uma democracia. Betinho afirma que lembra de todos os confrontos que cobriu nos seus 11 anos de profissão e que, nesse tempo, buscou fazer cursos de especialização não só na área de fotografia, mas, também, de segurança no seu trabalho. “Eu uso colete à prova de balas registrado e autorizado pelo Exército Brasileiro, além de sempre levar curativos, alguns remédios e até torniquetes. Infelizmente, temos que trabalhar como se fôssemos parte dessa guerra”, completa.

Ele fala do confronto policial que mais o marcou, no Morro dos Macacos, em 2017. Na ocorrência, os moradores tinham chamado o fotojornalista para registrar um conflito no local. Betinho diz que assim que chegou ao morro viu muitos policiais, viaturas e lojas começando a fechar. Ele relata ter tido uma mistura de sentimentos quando ficou no meio do fogo cruzado e, também, por ter visto baleado justamente um policial que o havia alertado sobre o risco da operação. “Eu sempre penso na população, pois cada operação que vou, sei que vai ser sempre a mesma coisa, o mesmo “enxugar de gelo”. Vai haver feridos e mortos, mas nada vai mudar”, lamenta.

Mesmo assim, Betinho não pensa em mudar de profissão ou de área de atuação no fotojornalismo. A prestação de serviço para os moradores das favelas o faz continuar, ter fé e não desistir da cobertura de conflitos urbanos. “Eu não consigo mais largar, ainda mais sendo morador de comunidade. Já ganhei esse status e essa responsabilidade de continuar”, declara convicto de sua missão e compromissos social.

* Matéria publicada no jornal A Voz da Favela, Rio de Janeiro, janeiro/2019.