Carolina Maria de Jesus: luta e paz de uma favelada

Artesanato produzido por Ana Claúdia Neves em homenagem a Carolina Maria de Jesus. Foto: Ana Claúdia Neves
Artesanato produzido por Ana Claúdia Neves em homenagem a Carolina Maria de Jesus - Foto: Ana Claúdia Neves

A vida de Carolina Maria de Jesus não foi fácil. Em seu livro “Quarto do despejo”, de 1960, o que fica claro é a questão da fome e a procura constante da sobrevivência na comunidade do Canindé, localizada às margens do rio Tietê, em São Paulo. Sua rotina resumia-se em trabalhar como catadora, ouvir relatos e presenciar todos os tipos de situações na sua vizinhança.

Sendo uma mulher à frente de seu tempo, foi mãe solteira por opção e pensava constantemente na melhor maneira de educar seus filhos. Certa passagem descrita no diário, a filha caçula, Vera Eunice, encontra um conhecido, o homem abre a carteira e a menina o pede sem pestanejar: “Dá, dá pra mamãe comprar papáto”.

A exaustão por dias melhores tornou Carolina uma escritora nata e precisa. Tal qual, quebrou paradigmas no momento em que seu primeiro livro foi publicado e passou a ser aclamada em diversos países. Mostrando que não é necessário ser letrado para abrir olhos e enxergar outras esferas ao redor do mundo. 

Carolina Maria de Jesus, produziu textos curtos e longos, letras musicais e marchas de carnaval. Seu mundo foi constante, intenso, mas sem perder a essência de simplesmente querer existir.

Em 2020, passamos por uma prova de fogo com a pandemia causada pelo coronavírus. Nesta situação as “Carolinas” invisíveis aparecem nas portas dos bancos para buscar o auxílio emergencial. A última semana do ano chegou e junto com ela, apenas a certeza de que a população favelada fará resistência nesses tempos tão endurecidos.

Para finalizar, deixo um poema de Carolina Maria de Jesus, encontrado no seu livro “Meu estranho diário”, de 1996, onde desabafa as suas impressões sobre a humanidade. Encontrando-se solitária e sem dinheiro, decidiu voltar a escrever seu diário na tentativa de ser ouvida pelo grande público, mídia e “amigos” que existiam na época de seu sucesso. 

Humanidade 

Depois de conhecer a humanidade

Suas perversidades

Suas ambições

Eu fui envelheçendo

E perdendo

As ilusões

O que predomina é a maldade

Porque a bondade:

Ninguém pratica

Humanidade ambiciosa

E gananciosa

Que quer ficar rica!

Quando eu morrer…

Não quero renasçer

É horrível, suportar a humanidade

Que tem aparência nobre

Que encobre

As péssimas qualidades.

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