Majur, o novo nome baiano na música popular brasileira

Majur, cantora baiana, se identifica como não binária - Foto Vinícius Moreira

“O governo diz para quem mora na favela: ‘É aqui que vocês têm que ficar, não saiam daqui’. Mas cada criança tem que sonhar e fazer esse sonho se tornar realidade, entender que não existe papai noel. Vocês precisam estudar e correr atrás de seus sonhos. Não adianta só querer que a oportunidade chegue. Você tem que estar preparada para ela”. A declaração, forte e decidida, é da cantora e compositora baiana Majur dos Santos Conceição, 23 anos, moradora do Uruguai, região da Cidade Baixa, na periferia de Salvador.

Majur nasceu Marilton Conceição Júnior e se identifica como de gênero não binário. “Desde os quatro anos de idade, me olhava no espelho e não conseguia me encaixar no binarismo de homem ou mulher”. Ela teve uma infância muito conturbada, perdeu contato com o pai ainda criança e precisava acompanhar a mãe catadora de materiais recicláveis onde fosse. Seu primeiro contato com a música foi aos 5 anos no coral da Orquestra Sinfônica da Juventude de Salvador. Aos 12, foi finalista do Festival Anual de Canção Estudantil, promovido pelo MEC.

Depois de fazer parte de uma banda, seguiu carreira solo e em 2018 lançou o primeiro trabalho. Foi convidada por Emicida para participar do Rock in Rio, onde cantou AmarElo. Ainda em 2018 desfilou no Afro Fashion Day, evento anual em Salvador que dá visibilidade a modelos negros, sendo a primeira pessoa geneticamente masculina a desfilar com roupa feminino na história do Afro Fashion Day.

A canção Náufrago é atualmente seu maior sucesso, que conquistou Caetano Veloso, seu padrinho musical, e Paula Lavigne, atual empresária de Majur. A artista se identifica e se apresenta como uma pessoa trans que se reconhece entres o masculino e  o feminino, abordando relações afetivas e empoderamento. No carnaval passado, Majur cantou nos trios elétricos de Daniela Mercury, Psirico, Marcia Castro e no Expresso 2222.