Bibliotecas comunitárias mostram a potência da mobilização cultural nas favelas e periferias

Iniciativas são opção de educação e lazer para milhares de crianças e jovens do Rio.

O escritor Jessé Andarilho, idealizador da biblioteca Marginow, junto a crianças da favela Antares. _ foto: divulgação

As bibliotecas comunitárias rompem estigmas e ampliam o acesso ao conhecimento. Preenchem a ausência de equipamentos públicos de cultura em territórios periféricos e conscientizam sobre a importância da leitura. Opções de espaços literários têm se multiplicado em favelas e periferias, mesmo com a pandemia. Antares, Complexo do Caju, Ladeira dos Tabajaras e Inhoaíba são alguns dos locais onde os livros têm ganhado mais espaço.

As parcerias e a mobilização comunitárias foram fundamentais para que essas bibliotecas saíssem do papel. Apoio dos vizinhos, da associação de moradores, de doadores de livros anônimos e famosos e de projetos como o Favelivros, que tem como foco capacitar os moradores das favelas e periferias na abertura de bibliotecas populares.

Marginow

Pensar nas bibliotecas comunitárias como lugares que minimizam as desigualdades na medida que permitem acesso a diversos conhecimentos e promovem a interação social é um dos objetivos da biblioteca Marginow, idealizada pelo escritor Jessé Andarilho.

Instalada na favela Antares, em Santa Cruz, a Marginow começou a funcionar em uma banca de jornal em maio de 2020. Hoje, ocupa também um antigo posto policial, cedido temporariamente pelo 27° Batalhão de Polícia Militar.

O projeto conta com aproximadamente 10 mil títulos de diferentes gêneros literários. Cerca de 200 livros são emprestados por mês, principalmente a crianças e adolescentes da comunidade na Zona Oeste do Rio.

“Quando a gente montou a biblioteca, começou a aparecer um monte de crianças. Percebi que não seria eu quem iria escolher o que as pessoas iriam ler, e sim o público que vinha com a demanda. Começamos então a dar mais ênfase na literatura infantil e juvenil”, diz Jessé Andarilho.

A Marginow também oferece atividades de dança, esportes e música e planeja construir um estúdio para gravar artistas locais, além de ampliar as formas de contar as histórias de vida dos moradores da comunidade e localidades vizinhas.

Biblioteca Hélio de La Penã

A Biblioteca Hélio de La Penã também foi inaugurada durante a pandemia, em fevereiro deste ano. O ator e escritor foi escolhido para dar nome ao espaço por ser da periferia, negro e por sua luta pela redução das desigualdades socioeconômicas. É a primeira biblioteca popular do Complexo do Caju, Zona Norte da cidade, se tornando uma opção de lazer para crianças e adolescentes, com atividades que vão além dos livros, como sessões de cinema.

“Por estarmos na pandemia e dentro de um complexo de favelas, a biblioteca ajudou bastante. Em vez de ficarem nas ruas brincando sem proteção, as crianças ficam na biblioteca de máscara em dois horários para que não tenha aglomeração”, diz Aldari Marques, presidente da Associação Filantrópica Arte Salva Vidas, onde está localizada a biblioteca. Elas também foram instruídas, com atividades lúdicas, em como manter todos os cuidados necessários para se protegerem do coronavírus.

Doação de livros 

Sem esperar ajuda do poder público, Vanessa Chagas resolveu abrir as portas da sua residência em Inhoaíba, na Zona Oeste, para receber doações de livros e compartilhar com os vizinhos o seu amor pela literatura. Ela disponibiliza as obras em frente ao portão de casa.

“Descobri que existem muitos leitores escondidos no bairro. A leitura é algo para ser incentivado cada vez mais em todos os locais do mundo”, diz a fundadora da biblioteca comunitária I Love Literatura.

Mundo da Lua

Aos 12 anos, Raissa Luara de Oliveira, a Lua, também resolveu, por iniciativa própria, montar uma biblioteca popular após visitar a Bienal Internacional do Livro em 2019. “Percebi que crianças que foram à Bienal com projetos sociais e escolas públicas não compraram livros. Isso me deixou triste”. Ela então publicou nas redes sociais um vídeo pedindo doações de livros para montar a biblioteca pública Mundo da Lua na Ladeira dos Tabajaras, em Copacabana, Zona Sul do Rio. Em menos de 20 dias, conseguiu mais de 2 mil livros.

Desde outubro de 2019, a Mundo da Lua ocupa um espaço da prefeitura na Associação de Moradores, mas em breve vai mudar de local. No meio da pandemia, Lua fez uma vaquinha virtual em que arrecadou R$ 124 mil para levar um acervo de mais de 10 mil livros para uma sede própria. “A leitura nos leva a lugares inimagináveis. Nos faz fortes e livres”, diz a destemida adolescente.

Novos projetos

O movimento das bibliotecas comunitárias não para. Em abril, mês em que se comemora o Dia Nacional do Livro Infantil (18) e o Dia Mundial do Livro (23), novos espaços literários estão previstos para abrir, como uma sala de leitura para moradores de rua em Jacarepaguá e outra no Conselho Tutelar de Santa Cruz da Serra. Já a cantora Fernanda Abreu emprestará seu nome para uma biblioteca comunitária na favela Faz Quem Quer, em Rocha Miranda, mais uma iniciativa que contou com o apoio da Favelivro.

matéria publicada originalmente no jornal A Voz da Favela em Abril de 2021

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