Acidente no metrô do Recife: uma tragédia anunciada

Dois trens que fazem a linha Centro do metrô Recife colidiram na manhã desta terça-feira (18), na estação Ipiranga, sentido Jaboatão. Cerca de sessenta pessoas ficaram feridas. Além do transtorno gerado para milhares de passageiros que voltam para casa no fim do dia.

Recentemente o jornal A Voz da Favela e o portal da Agência de Notícias das Favelas publicaram uma matéria falando sobre a situação do Metrô do Recife (Metrorec), gerido pela Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), empresa pública pertencente ao Governo Federal que também administra os sistemas de transporte deste modal em Belo Horizonte (MG), João Pessoa (PB), Maceió (AL) e Natal (RN).

O acidente ocorreu por volta das 5h40min, no bairro de Afogados, onde fica a estação Ipiranga, que faz parte da linha central do metrô. A linha é a mais utilizada na capital pernambucana, ligando Recife às cidades de Camaragibe e Jaboatão. Além da população destas duas cidades, cidadãos de São Lourenço da Mata, Moreno e Vitória de Santo Antão também fazem uso diário da linha, através do sistema de integração com os ônibus metropolitanos. Um dos trens se encontrava estacionado na estação quando possivelmente uma falha no sistema de sinalização eletrônica permitiu a aproximação do outro veículo, que se chocou contra o primeiro.

 

Segundo a Secretaria de Saúde do estado, o SAMU metropolitano socorreu 37 vítimas, enquanto o Corpo de Bombeiros avaliou a situação de 25 pessoas, das quais 4 foram socorridas. Uma maquinista que conduzia um dos trens ficou em estado de choque.  Segundo funcionários do próprio Metrorec, a tragédia só não foi maior porque o sistema de frenagem diminuiu o impacto entre as duas composições.

O barulho causado pelo impacto dos trens assustou não só passageiros, mas também moradores da localidade que correram para ver o que tinha acontecido e se acumularam no entorno. Segundo pessoas que estavam dentro do vagão, só foi possível avaliar o tamanho do problema quando desceram do trem, pois ficaram desnorteadas. “Em um momento estavam bem e no outro havia gente no chão e sangrando” disse uma passageira que não se identificou.

NÃO É A PRIMEIRA VEZ, MAS TEM DIFERENÇAS

Embora a CBTU tenha declarado que este seria o primeiro acidente em 35 anos de operação, nossa reportagem identificou pelo menos um outro incidente, ocorrido em 2012, na estação Coqueiral. Uma idosa passou mal e o maquinista saiu para socorrê-la, quando outro trem se aproximou e colidiu com o veículo que estava alinhado na estação. Naquele incidente, porém, o sistema utilizado ainda era outro e as pessoas foram imediatamente socorridas pela Polícia Ferroviária Federal, que hoje não atua mais no metrô.

BADERNA – EMPRESA É NOTIFICADA PELO PROCON

Com o ocorrido, a Procuradoria do Consumidor de Pernambuco (Procon-PE) decidiu notificar a empresa quanto aos serviços e pedir explicações sobre o acidente. Segundo o Secretário de Justiça de Pernambuco, Pedro Eurico, “Na verdade, infelizmente, hoje o metrô do Recife é uma baderna”. A afirmação, infelizmente, encontra eco na realidade: Estações sujas, sem vigilantes, com milhares de trabalhadores informais arriscando as vidas, passageiros em situação desconfortável e muita, mas muita exploração do espaço público por membros de cultos religiosos que contribuem para a situação de poluição sonora, seja gritando, seja utilizando equipamentos de som que, muitas vezes, atrapalham a circulação dentro dos vagões. As principais estações se transformaram, assim como os trens no lugar onde milhares de pessoas “ganham a vida”, num comércio informal que cresce na mesma medida das taxas de desemprego. São verdadeiras feiras-livres onde se pode comprar desde gêneros alimentícios até produtos eletrônicos e serviços, como o de corte de cabelo ou de design de unhas.

Para discutir os problemas identificados, o Procon aguardará a resposta da CBTU, que tem 24 horas para se manifestar e no dia 27 haverá uma audiência pública.

MENOS RECURSOS E TARIFA CADA DIA MAIS ALTA

A situação é resultado da diminuição de recursos de investimentos e manutenção do metrô, que necessita de uma urgente recomposição de seu orçamento, aprovado anualmente e que vem sofrendo sucessivos contingenciamentos. Ao invés disso, o Governo Federal resolveu abrir um estudo para a privatização do sistema, enquanto implementa o aumento tarifário autorizado pela Justiça e que elevará o preço das passagens unitárias ao patamar de R$ 4,00.