Grande Rio presta desserviço ao exaltar consumo de álcool

Quem conhece o alcoolismo porque tem a doença ou convive com quem tem, entenderá este texto. Seria importante que mais gente entendesse. O álcool é uma droga perigosíssima, destruidora. E não tem graça nenhuma exaltar bebedores famosos, como Zeca Pagodinho, tema da escola de samba Acadêmicos do Grande Rio.

Falta muito para a sociedade entender a importância do debate, aliás, do combate ao álcool. O primeiro obstáculo: ele não é visto como droga. Campanhas de pretensa conscientização insistem em usar a expressão “álcool e drogas”, criando dois mundos, como se as bebidas alcoólicas não fossem muito mais prejudiciais do que outras substâncias proibidas.

Colocado à parte, o álcool é vendido livremente, a mais barata das drogas, qualquer um compra, de jovens a idosos, em todo lugar, sem controle. O alcoolismo é tema de músicas tidas como engraçadas; provoca piadas; vira combustível para personagens humorísticos; pessoas brincam com quem, na turma de amigos, bebe mais, exaltando a capacidade daqueles que engolem mais litros de álcool.

Seria preciso lembrar de quantas mulheres são espancadas por sujeitos alcoolizados? De que os acidentes de trânsito são causados, na maior parte, por pessoas bêbadas? De quanto jovens começam a usar drogas não pela maconha, mas pelo álcool? E que o álcool é a mais traiçoeira das drogas, pois seus efeitos prejudiciais demoram muito para aparecer, e, quando aparecem, pouco se pode fazer?

Alguns dados recentes, preocupantes:

– Estudo divulgado semana passada pelo Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa) informa que, em 2020, duas mulheres morreram por hora no Brasil pelo uso nocivo do álcool; o consumo entre elas aumentou 4,25%;

– De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) com estudantes de 13 a 17 anos, a experimentação de bebida alcoólica chegou a 63,2%, com aumento maior entre as meninas;

– A mesma pesquisa apontou que o consumo excessivo de álcool chegou a 26,2% entre os entrevistados;

– A iniciação no álcool ocorre cada vez mais cedo, em média aos 13 anos de idade segundo a Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas (Abead);

– O Instituto Brasileiro do Fígado (Ibrafig) informa que 17,2% dos brasileiros aumentaram o consumo de álcool durante a pandemia de covid-19, associado a quadros de ansiedade graves por causa do isolamento social;

– De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o consumo de álcool pode causar mais de 200 doenças e lesões.

Alguns problemas de saúde causados pelo álcool são hepatite, cirrose, hipertensão, aumento do risco de acidente vascular isquêmico, distúrbios sexuais diversos, demência, abstinências severas, depressão, ansiedade e psicoses.

A desinformação é tão grande que, dois dias antes da Acadêmicos do Grande Rio realizar seu desfile homenageando Zeca Pagodinho, tivemos o Dia Nacional de Combate ao Alcoolismo. Mas em plena embriaguez carnavalesca, quem quer pensar nisso?

Um brinde àqueles que escolheram data tão imprópria, e outro aos que consideram suficiente combater o consumo excessivo de álcool somente em um dia do ano.

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