A falta de respeito e o descaso com os passageiros

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Já não bastasse o serviço precário que os transportes públicos do Rio de Janeiro fornecem os motoristas ainda são negligentes com a vida dos passageiros

Era uma segunda-feira quando eu esperava, à beira da noite, um ônibus para o centro da
cidade. O relógio marcava 23 horas quando o primeiro ônibus passou direto. Quinze minutos depois o próximo ônibus de linha diferente também passava direto. E assim iam acumulando as poucas pessoas que se atreviam a ter algo para fazer fora de casa tão tarde. Talvez eles estivessem indo procurar alguma diversão como eu no momento. Ou talvez eles estivessem indo para casa. Ou estivessem indo trabalhar. Mas o fato é que, mesmo depois de 30 minutos a esperar, nenhum ônibus ali parava.

Depois desse dia comecei a reparar a frequência na qual eu esperava um ônibus e ele passava direto. De início achei que fosse só uma questão de horário, porque muita gente ainda se assusta ao passar perto de comunidades em certos horários, principalmente pela forma que ela é sempre noticiada pela mídia. Mas o que me espantou é que, independentemente do horário, o motorista aqui, só para quando ele quer.

Com o absurdo preço da inflação aumentando a cada ano e influenciando o preço das
passagens de ônibus, o que se espera no mínimo, é que o motorista pare quando o sinal for solicitado. Atualmente o preço do ônibus no Rio de Janeiro se encontra em R$ 4,05.Ano passado a tarifa sofreu um reajuste de R$ 0,35, indo de R$ 3,60 para R$ 3,95. E no ano anterior, em 2017, a tarifa custava R$ 3,40. Nota-se que tal reajuste só se aplica ao valor capital, porque nenhuma melhoria pode ser de fato observada nas frotas nos últimos anos. E a tendência é piorar.

Voltando àquela segunda-feira, o ônibus que parou para mim e para as pessoas que restaram no ponto, só o fez por volta de 00:10. Uma hora e dez minutos esperando para o ônibus público parar no meu ponto. Daí surge o questionamento: devemos aceitar que isso seja normal e agora faz parte da cultura dos motoristas de ônibus que também não se sentem valorizados em suas profissões? Ou devemos problematizar a questão nos baseando nas consequências de quando um profissional do ônibus não para no ponto para quem utiliza seu serviço e ajuda a pagar seu salário? Será que nunca passou pela cabeça dos motoristas, quais as consequências de passar direto em um ponto de ônibus, independentemente do lugar? O Rio de Janeiro vive seu ápice na crise da segurança pública e diariamente vemos notícias de tiroteios, assaltos, feminicídio, sequestros entre outros problemas. E infelizmente quem fica horas esperando por um ônibus tem uma probabilidade enorme de passar por uma dessas situações.

No site do Reclame Aqui, muitos passageiros das linhas que circulam aqui na cidade reclamam da incidência de descasos dos motoristas de ônibus. Em sua maioria, o problema é o fato de não pararem no ponto e o desrespeito verbal. Faça um teste e pesquise no Google “vítimas esperando ônibus”. Vocês vão ver quantos e quantos casos de vítimas foram feitas durante uma “simples” espera. Muitos desses casos a pessoa está esperando o transporte para ir trabalhar de manhã cedo.

Agora imagine, você está no UPA ou em alguma unidade hospitalar e precisa rapidamente buscar algum documento ou medicamento em outra região e precise do ônibus para se deslocar? Provável que o internado ou internada tenha que esperar mais do que o esperado. Ou se, ao anoitecer, o seu filho (a) estiver esperando o ônibus para voltar do colégio e começa um intenso tiroteio na região e nenhum motorista para? Tudo isso para imaginar o caos que acontece na vida real e muito poderia ser evitado se os motoristas fizessem o seu trabalho de forma correta.
Se isso acontecer com frequência com você procure o SAC da empresa da linha do ônibus. Eles saberão direcionar o seu problema. O site ReclameAqui costuma ser uma boa opção.

 

Matéria exibida na edição de abril de 2019 do jornal A Voz da Favela