A Casa Branca e o quintal

Foto riachueloemação

Tudo indica que Bolsonaro reconhecerá Joe Biden presidente dos Estados Unidos no minuto seguinte ao reconhecimento oficial de Donald Trump, e essa demora só trará mais problemas para o Brasil nas relações entre os dois países, sobretudo porque os americanos não se esquecem facilmente do que fazem a eles. Fernando Gabeira que o diga: sequestrador do embaixador Charles Burke Elbrick no Rio de Janeiro, em setembro de 1969, às vésperas das comemorações da independência pela ditadura militar, está proibido de entrar nos Estados Unidos até hoje e assim permanecerá pelo resto da vida. Nem mesmo quando era deputado federal e tinha passaporte especial, Gabeira teve o visto para visita parlamentar. Os americanos não se esquecem, mesmo depois que o embaixador deu entrevista praticamente elogiando o idealismo dos sequestradores e foi admoestado pelo governo brasileiro. “Embaixador americano fala demais”, estampou em manchete o Correio da Manhã, à época editado por Zuenir Ventura.

Embora o governo atual siga a linha de Trump, a Agência Brasil, da estatal EBC, chama Biden de “presidente eleito”, tradução literal da expressão americana “president elect”, como ele é referido lá. As semelhanças terminam aí. A mídia americana não depende do governo como a nossa, já considera Biden e Kamala Harris a dupla que mandará no país a partir de 20 de janeiro, e mesmo quando ainda se contavam os votos desta eleição conturbada chegou a tirar do ar o presidente Trump em plena coletiva ao vivo porque ele repetia mentiras e fake news ao vivo para toda a nação. E dá cobertura aos atos de Biden como sempre fez em todas as eleições. Quem atrapalha de verdade é o atual presidente, que não abre os dados à equipe de transição nem admite discutir o assunto, convicto de que poderá reverter o resultado das urnas na justiça.

O máximo que nossa imprensa ousa, por enquanto, é a postura ufanista muito duvidosa em notas de coluna sobre a bolsa de estudos que o economista Donald Harris curtiu no Brasil em 1990/91, pela Fundação Fulbright. Biden também tem parentes por aqui e pode ser considerado pessoa das relações de Dilma Rousseff, a quem visitou oficialmente quando vice do Barack Obama. Tenho minhas dúvidas, no entanto, de que o conhecimento do Brasil seja sinal de boa vontade com o país nas relações bilaterais ou diplomáticas. Assim como não devolverão a base de Alcântara, não deverão nos liberar de visto para entrar nos Estados Unidos. Brasileiros, mexicanos e todos os demais da América Latina ainda são considerados inferiores, como retrata anedota no Facebook: convencido a responder à altura a ameaça brasileira de usar pólvora contra eles, o governo americano decidiu destruir a capital do Brasil. foi assim que Buenos Aires foi varrida do mapa.