Rock In Rio: a química da felicidade

As relações humanas são estabelecidas por afinidades químicas. Sem a química do amor não há romance, sem a química do álcool não há explosão da felicidade, sem a química da alegria não há contágio e sem a química da música não há festival.

E o que acontece quando misturamos todas essas químicas num espaço chamado Cidade do Rock? Não procure uma resposta porque não há como decifrar milhares de pessoas desfrutando da mesma sinergia. Os corpos aqui se atraem e a energia produzidas por eles fazem com todos se unam num só desejo, num só querer, numa só vibração. Os olhares voltam-se todos para o palco, os corações palpitam na mesma forma rítmica da bateria, o sangue esquenta e o suor é produzido porque há uma adrenalina que une todos numa só voz: a voz da canção.

E por onde olhamos podemos ver vida em abundância, o Rio que é Rock transforma-se numa cidade de múltiplas cores. Aqui não há divisão de classe – exceto, claro, na área vip -, não há Polícia acharcando ninguém, não há Guarda Municipal revistando negros. Aliás, os negros e as negras também fazem parte da festa. Enfim!

E um dos momentos que mais marcou o segundo dia de Rock In Rio foi a Batalha de Slam que aconteceu no Palco Favela. As manas e os manos Maria Duda, Lisa Castro, Dall Farra, Rufino, SK, WJ, Valentine e Genesis soltaram suas vozes e seus verbos mandando papo reto contra o sistema misógino, machista, racista e opressor. Inspirados no queridíssimo Écio Salles – que nos deixou em junho passado -, a poesia falou em alto em bom tom que a cor da raça brasileira é a cor negra. Negra de quem vive no gueto, de quem vive na favela, negra como a cor do negro gari que estava varrendo o chão do Rock In Rio e parou para ouvir a negra Maria Duda declamar uma poesia que falava da remoção de uma Morro no Rio em que seus avós viveram.

(Maria Duda, segunda colocada da Batalha de Slam, Rock In Rio 2019)
Cara, me arrepiei! A mina manda bem pra caramba. De boa, eu tenho muito orgulho de ser negro.
– Por que?
– Porque o sistema pode ter ódio da gente, mas o que nos une é a química do amor e da luta por justiça.

#favelanorockinrio
#anfnorockinrio

Caio Ferraz
poeta, sociólogo, colunista da ANF