Conferência Nacional de Cultura promove resistência e diversidade

Começou na última segunda-feira (4), a quarta Conferência Nacional de Cultura (CNC), evento realizado pelo Ministério da Cultura (MinC). Representantes de diversos estados do país, ativistas, artistas e gestores se reúnem em Brasília para discutir políticas públicas para o fomento da cultura. O evento é também aberto ao público.

Com atividades até dia 08 de março, o evento garante atividades e discussões sobre os diversos setores que envolvem a cultura, de painéis com discussões sobre economia criativa a apresentações de danças regionais e shows com atrações como: Fafá de Belém e Diogo Nogueira.

Após 11 anos, a Conferência volta a reunir e discutir cultura sob a luz do tema Democracia e Direito à Cultura. O ministério, atualmente administrado por Margareth Menezes, foi extinto em 2019 e retornou em 2023, após a posse do Presidente Lula.

Durante seu primeiro discurso aos congressistas, a Ministra falou sobre a importância da união dos estados no fortalecimento do ministério. “A cultura e a arte estão no DNA do povo brasileiro”, diz a ministra à frente da pasta.

A diversidade presente

Circo, fanfarras, literatura, dança, música e diversas outras expressões culturais estão representadas entre os participantes da Conferência, assim como as regiões do Brasil em suas culturas e divergências territoriais, climáticas e econômicas. Nos debates essas questões são importantes para definir as propostas que servirão de base para o Plano Nacional de Cultura (PNC), que orienta o desenvolvimento de programas e ações culturais no Brasil.

Para Pai Bia, conselheiro de cultura do estado do Maranhão, a pasta volta a ter um espaço de discussão no cenário nacional O representante da cultura afro-brasileira celebra a presença da ancestralidade no evento. “Hoje a gente volta com toda força, com toda garra para reivindicarmos esse direito tão conquistado por todos nós.”

Do Acre, a chefe de departamento de políticas culturais, Elane Cristine, 41, que está em Brasília junto com a delegação do estado, ressalta a importância da discussão de questões específicas de cada região. “Nós tivemos que chegar com quase 30 horas de antecedência. Nós não temos uma malha aérea que suporte trazer 40 pessoas de uma vez”, afirma. “Tem municípios do Amazonas e do Acre que as pessoas estão de viagem desde quarta, quinta feira.”

Questões como formação de identidade, resgate histórico, territorialidade e acesso a internet são pontuais no debate. “Tem município que quando dá apagão você não tem mais celular e isso não é algo que acontece de forma sazonal. Isso é muito comum na Amazônia”, diz Cristine.

Segundo ela, além das dificuldades para reunir o grupo de delegados por dificuldade de acesso a internet, a locomoção entre capital e municípios também agrava o nível de acessibilidade das pessoas às atividades culturais. “A cada quatro anos, troca-se gestor e equipe técnica. Você ainda tem que dizer, a cultura não é só entretenimento, a cultura é políticas públicas”, relata Cristiane.

Em um dos eixos temáticos as pautas vinculadas aos povos indígenas estão sendo discutidas de forma histórica. Do Rio de Janeiro, a colaboradora do luta indígena, Priscila Dani, 40, fala sobre a presença da representação das diversas comunidades presentes no evento. “Houve uma lacuna muito grande ao longo da história e hoje existe uma representação muito maior. Mas daqui pra frente, ainda é pouco perto do que precisa ganhar”, conclui.

O influenciador e ativista anticapacitista, Ivan Baron, que participou da cerimônia de entrega da faixa presidencial para Lula, em 2023, ressaltou que o povo brasileiro está retornando a participar de forma ativa do movimento. “É o povo LGBTQIAP+, somos nós pessoas com deficiência, o povo preto, as mulheres. Isso é diversidade”, diz. “Não é meia dúzia de homens brancos cisgêneros decidindo nosso futuro.”

“É muito importante a gente garantir o acesso às pessoas com deficiência, para que elas consigam usufruir da cultura e principalmente ocupar esse espaço”, declarou. Para Ivan, o caminho para a garantia de uma cultura inclusiva é a participação plena de pessoas que representem diversas vivências.