Zona de risco: Moradores de periferia enfrentam dificuldades com aplicativos de transporte

Cancelamentos são frequentes quando o destino é a periferia. (Foto: Representação).

A onda crescente de violência em Salvador, tem aumentado a sensação de insegurança e tornado cada vez mais difícil para um morador de periferia voltar para casa por meio de aplicativos de transporte. Já que, apesar dos casos recorrentes de roubos e furtos em bairros nobres, estampar os noticiários, a “Zona de Risco” é sempre as periferias da cidade.  

De acordo com o motorista por aplicativo, Eude Almeida, 25 anos, o aplicativo da Uber não mostra mais as áreas de risco. Apenas, a 99 pop. Ele, portanto, costuma identificar essas zonas mais perigosas, “através da experiência do dia a dia, e a partir das informações dos grupos que relatam sinistros naquelas regiões”.

A fotógrafa Lane Silva, 26 anos, moradora de Sussuarana conta que na saída de um trabalho, num domingo, às 19h, passou mais de 40 minutos tentando chamar  um carro e não conseguiu. “A manobra da vez foi uma carona de um amigo que estava nesse evento, me deixou na estação de metrô, peguei o metrô até o ponto de ônibus, que estava vazio e o ônibus demorou, pra finalmente conseguir chegar em casa quase 22h da noite, experiência péssima”, lembrou.

Diante dos cancelamentos constantes, os passageiros são obrigados a criar estratégias. Ao retornar da casa de um amigo, no Bairro da Paz, a advogada Isadora Dantas, 28 anos, conta que a sua única opção foi pedir um táxi, “entra e sai de qualquer lugar”, disse ela.

Situação parecida também vivenciou a jornalista Carolina Vilas Boas, 23 anos: “Já tive que ligar para uma operadora de táxi e paguei mais de quarenta reais para chegar em casa no taxímetro rodando”. 

Para o comediante Tiago Banha, 29 anos, morador de Castelo Branco, a única estratégia possível  é voltar para casa até meia-noite, meia-noite e vinte. “Dá pra pegar Uber ainda pro lado de cá nesse horário, depois já era”.

“Geralmente eu peço 3 apps diferentes ao mesmo tempo pra voltar e já tenho um texto pronto no bloco de notas avisando pra o cara não cancelar e dizendo que onde eu moro é rua direta, mesmo eu precisando descer do carro e ainda ter que descer uma ladeira enorme”, contou o jornalista Vinícius Cerqueira, 23 anos, morador de Fazenda Grande do Retiro.

Dormir na casa de um amigo é a opção acionada algumas vezes por Tiago Banha e Lane Silva. “Quando não me humilho pedindo pelo amor de Deus (risos) eu já saio de casa me programando para dormir na casa de uma amiga que mora no centro para realmente garantir minha segurança para um retorno”, contou Lane. 

Visto que, compreende o risco ao qual os motoristas se expõem, Tiago Banha afirma que já aceitou essa realidade. “Infelizmente se você é pobre, se você mora numa região muito menos favorecida financeiramente, todos os olhares para onde você mora serão sempre muito suspeitos, né? Serão carregados de desconfiança. E essa é uma realidade que infelizmente eu preciso lidar”, concluiu Tiago. 

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