Vasco da Gama: do povo ou dos cartolas?

O Vasco da Gama tem mais do que uma torcida: tem uma comunidade. Literalmente. A Barreira do Vasco é uma favela da Zona Norte do Rio, bem próxima ao estádio São Januário, casa cruzmaltina e é localizada no morro que deu origem ao apelido vascaíno de “gigante da colina”. A colina teve de dar passagem às casas populares e hoje, com 120 anos de Vasco, existem projetos sociais, promovidos pelo clube, com cerca de 140 meninos e meninas contemplados, além dos 90 funcionários do Time da Virada que moram na Barreira. E já que estamos falando de história, vale lembrar que branco e preto são as cores do Vascão porque representam a miscigenação do povo.
Pois bem. Recapitulada a história, é hora de focar no presente. O Vasco da Gama passa por uma situação delicada no que diz respeito à área administrativa. A gestão de Alexandre Campello já foi alvo de várias acusações de desvio de dinheiro e, recentemente, as eleições presidenciais vascaínas foram anuladas porque, estranhamente, a urna 7 era a única a apresentar 90% dos votos para Eurico Miranda – cartola que já comandou o clube por 4 mandatos e estava se candidatando ao quinto- enquanto as outras urnas chegaram, no máximo, a 408 votos favoráveis a Eurico. Esse resultado daria a vitória ao cartola contra Júlio Brant, da chapa adversária. Os inquéritos da polícia também indicaram que boa parte dos votos destinados a Miranda eram inválidos por irregularidade dos sócios. Dentre suspeitas de fraude e polêmicas envolvendo dirigentes, o que se sabe é que o Vasco é um time do povo, mas é governado por uma elite excludente e corrupta. O torcedor gasta o dinheiro suado que consegue para acompanhar o clube no estádio e ainda tem que tolerar uma cartolagem manipuladora e mentirosa, além de resultados nada satisfatórios. O cruzmaltino ocupa hoje, 4 de outubro de 2018, a 16° posição na tabela do Brasileirão, à beira da zona de rebaixamento. E não é de hoje que o clube anda mal das pernas. Nos últimos 5 anos, o gigante da colina foi rebaixado duas vezes e, entre escândalos por falta de pagamento e outras polêmicas, emplacou um suado 7° lugar na série A no ano passado. Além disso, o time de basquete vascaíno ainda não confirmou presença na NBB por falta de recursos.
Na Barreira do Vasco, os torcedores se reúnem e assistem o gigante jogar. Onde estiver. Quando for. É claro que nem todos os moradores da comunidade são vascaínos. E está tudo bem porque ali, há respeito. Quem aparecer com camisa de outro clube pode até ser alvo de piadas e de provocações, mas terá sua integridade respeitada porque futebol é paixão, respeito e entrega. Talvez, os dirigentes do Vasco tenham que aprender com a comunidade a respeitar o clube. Porque com a paixão de uma vida inteira não se brinca. Enquanto o cartola mente, quem sofre é o torcedor.