Vacinação nas favelas

Lideranças comunitárias e profissionais de saúde revelam os desafios da imunização contra a Covid-19 dentro das comunidades.

A enfermeira Laís Peixoto Schimidt recebe a primeira dose da vacina na Rocinha / foto: arquivo pessoal

No Dia Estadual de Mobilização para Enfrentamento da Covid- 19 nas Favelas do Rio de Janeiro, 10 de fevereiro, foi lançada a campanha Vacina pra Favela, Já!, iniciativa de organizações e coletivos por trás do Painel Unificador Covid-19 nas Favelas, que desde julho publica dados sobre o avanço da doença nas comunidades.

O objetivo é cobrar das autoridades ações imediatas que garantam acesso às vacinas prioritariamente nas favelas. “Sugerimos acrescentar os residentes em favela como prioritárias no Plano de Vacinação, pois são os que têm mais dificuldades no acesso a serviços de saúde e que convivem em condições muito propícias para a disseminação da doença”, explica Renata Gracie, vice-coordenadora do Laboratório de Informação em Saúde (LIS/ICICT/Fiocruz).

Para o coordenador da Cooperação Social da Presidência da Fiocruz, Leonídio Sousa Santos, não é necessário priorizar a população das favelas, tendo em vista que o Plano Nacional de Imunização (PNI) já dialoga com o Sistema Único de Saúde (SUS), que é universal, ou seja, para todos, independentemente de cor, raça, moradia ou classe social.

No entanto, para ele o debate é importante para dar visibilidade à situação das favelas para além de grupos prioritários, olhando para questões mais amplas e estruturais, como a baixa expectativa de vida nesses territórios, desemprego e o acesso aos serviços de saúde, que é o que vai garantir a vacinação.

“As Clínicas da Família não conseguem ter uma cobertura de 100% de todos os territórios de favelas, por esse motivo o debate que deve ocorrer é por uma atenção especial para esses locais, que merecem do governo uma ação dirigida”.

Das 15 favelas que integram o Complexo do Lins, na Zona Norte do Rio, apenas três são atendidas pelo Programa de Saúde da Família. “Isso dificulta a vida dos idosos que precisam se deslocar até o Engenho de Dentro e Méier para se vacinarem”, diz o líder comunitário Rafael Sousa. Por conta disso, a imunização dos grupos prioritários na região tem sido muito lenta.

Em Manguinhos, a líder comunitária Candida Maria Privado diz que apesar da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) estar fechada desde janeiro, a imunização em seu território tem sido boa, com vacinação em domicílio para idosos acamados ou com dificuldade de locomoção, entre eles a sua mãe. O mesmo tem ocorrido na Rocinha, segundo William Oliveira, coordenador geral do coletivo Missão Rocinha e diretor da Federação das Associações de Favelas do Estado do Rio de Janeiro (Faferj).

Apesar do processo de imunização estar ocorrendo de forma tranquila, profissionais de saúde acham que serão necessárias novas estratégias para garantir a vacinação dos grupos não prioritários sem gerar aglomerações e sobrecarga.

“Em algum momento a vacinação será para todos e vamos ter um pouquinho de dificuldade em questão de volume populacional”, aponta a enfermeira Letícia Luz, do Centro Médico de Saúde que atende a favela do Fallet, em Santa Teresa.

A enfermeira Laís Peixoto Schimidt, que trabalha na Clínica da Família da Rocinha, ressalta que a equipe ainda não está sendo muito demandada porque o público-alvo das primeiras etapas de imunização não corresponde à maioria da população que vive na favela, composta por jovens e adultos.

Segundo dados do Painel Unificador Covid-19 nas Favelas do Rio de Janeiro, no fim de fevereiro, os óbitos nas favelas do estado já passavam de 3.200 e os casos confirmados somavam quase 31 mil.

“A gente perdeu mais de 70 pessoas na Rocinha, que já tinham passado várias situações difíceis na comunidade, como guerra, tiroteios, problema de infraestrutura, mas não sobreviveram a um vírus. Hoje, a imunização é uma esperança”, desabafa William Oliveira.

No Complexo do Lins, 100 moradores ao menos morreram por causa da Covid-19 e a expectativa para a imunização é grande. “As pessoas não veem a hora de serem vacinadas, de voltar à normalidade, porque estão passando por muita dificuldade”, diz o líder comunitário Rafael Sousa.

A ansiedade pela vacinação se assemelha à felicidade de quem foi imunizado.
“Para mim foi muito emocionante tomar essa vacina porque eu perdi uma amiga, estava sobrecarregada vendo muitas pessoas ficarem doentes e morrendo por não acreditar nesse vírus”, confessa Jacira Narciso da Silva, agente comunitária de saúde e moradora do Complexo do Lins.

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