karatecas da Favela do Lagartixa (RJ) se tornam faixas pretas

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22 de dezembro de 2021

Novos faixas pretas do Projeto Lutando por um Futuro Melhor (João, Caio e Jully): Crédito: Divulgação

No dia último dia 12 de dezembro, o Projeto Lutando por um Futuro Melhor (Associação Brasileira de Karatê Shobu-Ryu- ABKC) reuniu cerca de 100 pessoas entre alunos, mestres, parentes, amigos do projeto e moradores da Favela do Lagartixa (Complexo da Pedreira em Costa Barros).

O evento dessa vez era para graduação dos alunos Caio Nascimento (19 anos), Jully Damasceno (18 anos) e João Vitor Damasceno (16 anos) ao nível de faixas pretas.

Um dia muito esperado por todos do projeto e em especial ao Mestre Júnior Jeová Damasceno (Mestre Stallone) pai de Jully e João Vitor.

Atletas em forma na execução do hino nacional durante a abertura do evento.Ju

A cerimônia começou com a execução do hino nacional e teve a introdução do mestre de cerimônia e faixa vermelha, Michael Damasceno (médico, aluno, instrutor, parceiro do projeto e sobrinho do Mestre Stallone).

A mesa diretora e julgadora do exame teve a presença do mestre Júnior Damasceno (mestre Stallone, oitavo dan, fundador da Associação e da Federação Brasileira de Karatê de Contato Shobu Ryu e diretor do Projeto Lutando por um Futuro Melhor); mestre Sidnei Campos, (quinto dan, Karatê Shobu Dô / Associação Os Tigres de Artes Marciais do Rio de Janeiro); mestre Joseval Araújo (quinto dan, Karatê Shobu Dô) e do professor Ururaí Santos (segundo dan da Federação de Karatê Shobu Ryu Tradicional).

Atletas em forma após a execução do hino nacional.

Caio, Jully e João Vitor fizeram um exame muito forte ao clima de tensão e muita dedicação, apesar do cansaço durante o período de avaliação, todos se dedicaram ao máximo para alcançarem o objetivo da graduação com a mudança de faixas marrons para as faixas pretas.

Podemos destacar as habilidades de ambos atletas que foram examinados e cada um pôde dar o seu melhor. Observando individualmente cada um deles foi constatado: no Caio se viu muita técnica, na Jully se destacou a concentração e já no João Vitor a técnica e a força.

Da esquerda para a direita, Caio e João demonstrando algumas técnicas do karatê.

Durante o evento houve uma interrupção para atendimento da atleta Jully, devido ao extremo esforço físico, ao se recompor logo retornou ao exame, mais hidratada e focada no objetivo maior que era alcançar sua graduação. O público viu ótimas lutas e muita entrega no tatame, a perseverança com certeza foi um outro fato muito importante para esses lutadores.

Toda a atenção dos examinadores e das pessoas presentes a cada tática e golpes realizados durante todo o processo agradavam aos olhos dos que ali estavam.

Em um determinado momento das lutas um golpe que derrubou o atleta Caio assustou a todos os presentes por ele quase ter caído fora do tatame. Contudo o fato não passou de um susto. Ao final do evento após muito suor derramado e total empenho, chegou a hora da quebra de tijolos com o punho, a primeira foi Jully que recebeu um tijolo, se concentrou e cumpriu com perfeição a missão.

O segundo foi João Vitor, que recebeu dois tijolos e também executou o objetivo. O terceiro foi Caio que se concentrou, deu seu máximo e quebrou com muita técnica os dois tijolos recebidos, porém o atleta teve o punho cortado por um estilhaço de tijolo na execução do golpe, nada além da normalidade, apesar do ocorrido.

Satisfação e empenho deram aos atletas o objetivo esperado

Ao término do evento e já com as faixas pretas em suas cinturas os lutadores e novos professores da academia do projeto deram o seu depoimento em relação a conquista da graduação. “Depois de tudo que eu passei, enfrentando muito desânimo, passando por uma “montanha russa” momentos bons, momentos ruins, mais aí acabou que no final deu tudo certo, a gente chegou aonde a gente queria e o meu maior incentivo foi o mestre Stallone e a amizade com o João e a Jully”, afirmou Caio.

Troca de faixa da atleta Jully Damasceno.

Para Jully, a faixa preta é um prazer de um sonho realizado, “pra mim é uma honra estar chegando a esse nível tão alto, eu sempre almejei a faixa preta desde o meu primeiro exame, e treinar com esse mestre tão incrível é muito gratificante.

Paulo Freire tem uma frase que me comove muito e diz: “o educador se eterniza em cada ser que ele ensina” e o nosso mestre de fato está eternizado em nossos corações que nos ensina não só na arte marcial como na vida.”

Jully ainda acrescentou ao se lembrar do momento de homenagem ao seu pai e mestre. “Inicialmente eu fiquei emocionada e nervosa ao mesmo tempo, não foi difícil pra mim poder encontrar palavras pra descrever essa pessoa tão incrível em nossas vidas, não só como meu mestre, mas como meu pai, e eu quero ser pelo menos um terço do que ele é, e do que ele foi.”

Jully Damasceno, em forma após receber a faixa preta.

Já João Vitor, destacou que é muito gratificante participar desse projeto na Favela do Lagartixa, “sinto muita honra em participar dessa academia que é a ABKC, onde o atleta não aprende só a ser um ótimo lutador com muita técnica, muita força, mas também aprende pra vida, a lidar com os problemas que a vida oferece e o mestre sempre incentivando a pensar no futuro é muito bom pra mim”, João ainda acrescentou que pretende se dedicar bastante ouvindo os conselhos do seu pai e mestre até se tornar bombeiro militar.

Troca de faixa do atleta João Vitor Damasceno.

Os mestres: Stallone e Campos, também falaram da experiência de poderem participar do exame na comunidade. Stallone que é fundador e líder do Projeto Lutando por um Futuro Melhor disse, “pra mim é uma realização de um sonho, transformar esses jovens, essa comunidade, dando uma direção esportiva nos sonhos e valores, porque eu não quero apenas campeões dentro do tatame, eu quero campeões pra vida.

Para nós é uma grande vitória e eu tenho certeza que teremos grandes campeões, grandes vencedores com um bom futuro na vida”. A respeito do trabalho desenvolvido na comunidade o mestre ainda acrescentou, “ espero poder crescer cada vez mais, multiplicando esse projeto em cada coração, em cada beco dessa favela, em cada história que vivemos aqui, me sinto realizado em ver meus filhos, meus atletas e todos os alunos alcançando os seus objetivos e vencendo.

Mestre Stallone orgulhoso pela conquista de seus filhos

E agora ao final desse exame ser homenageado pelo projeto com a minha filha falando da minha história, falando de toda a dificuldade encontrada lá no início onde eu treinava com sacos de farinha de trigo bem antes de tudo foi emocionante”, finalizou o mestre Stallone.

Já o mestre Sidnei Campos afirmou, “a gente está feliz representando a Federação de Karatê Shobu Dô do Rio de Janeiro, na qual faço parte como gerente regional, e a experiência de participar foi espetacular um exame digno pra formar excelentes faixas pretas. Parabéns ao mestre Stallone e parabéns a todos os envolvidos”!

Mestre Sidnei Campos avaliando os atletas.

A dona Cirleide Nascimento, mãe do faixa preta Caio, também deu o seu depoimento a respeito do projeto que tem acrescentado bastante na vida de seu filho, “É muito gratificante eu sempre que podia acompanhava e ver ele chegar a esse nível é motivo de muita felicidade.

Ele fez várias atividades, jogou futebol e depois de conhecer o karatê ele disse: “mãe é isso que eu quero”. E eu falei: então vai, dei todo o apoio. A luta ensinou muita coisa legal pra ele, desde a educação até um futuro melhor aqui dentro da comunidade. Ele ocupava o tempo dele aqui dentro do projeto ao invés de ficar perdendo tempo em pagofunk.

Na academia foi sempre muito bem recebido, o mestre deu um caminho pra ele, o Stallone foi “o pai na fé” na vida cristã, levou ele a igreja, o Caio se batizou e se tornou uma pessoa ainda melhor, foi muito bom, fiquei muito feliz com isso e ver o mestre instruindo os nossos jovens é maravilhoso”, afirmou dona Nascimento orgulhosa.