Um café faz falta!

Créditos: Reprodução da internet

Amo café! Vocês sabiam disso?
Quando me convidam para um café, fico mais feliz do que quando me chamam para uma balada, confesso!

Que me desculpem os baladeiros, mas café me traz a sensação de poder! Poder estar acordada para ver o próximo capítulo da série, ler o próximo jornal, um novo livro, brincar de adedonha com a minha irmã, mesmo que nós duas tenhamos passado da infância.

Embora esse não seja um texto publi para uma marca de café e embora, também, eu tenha diminuído a dosagem de cafeína (já passei dos 30, meu corpo já pede pra tomar cuidado) com menos frequência, preciso dizer que tomar suco de laranja é maravilhoso, mas você já olhou o cardápio de café?

Ah! é como se perder em um parque de diversões com ingresso sem limites.

E foi uns dias, meses…Eita, já fazem anos!
Quando tudo isso, de lidar com autoestima de outras mulheres, ainda era inconsistente, me deparei com um convite de uma ‘seguidora’. Era um convite irrecusável para tomar um café.

O valor da passagem era mais caro que eu comprar um kg de cafeína, para o mês inteiro. Mas junto com o convite, teríamos horas de papo, de troca de experiência entre risadas e talvez choros.

Ela uma mulher branca e eu uma mulher negra, em um shopping da Zona Sul, compartilhando experiências de vida.
Até então eu não a conhecia pessoalmente, somente pelos comentários que fazia em meus textos do meu antigo blog. Sentamos como duas amigas de anos e foi como se o dia não fosse acabar nunca.

Na despedida, ela me deu um lencinho, desses de amarrar no cabelo como faixa. Era um símbolo da sua “cura”. A Cris* tinha câncer, ainda estava passando pelas quimioterapias e radioterapias, mas nos seus olhos havia uma força que eu jamais tinha visto nos meus próprios olhos.

Perdi meu primeiro amigo, aos 9 anos de idade. Ele morreu com leucemia, aos 21 anos, perdi minha mãe também com câncer e desde então eu simplesmente não queria mais conhecer ninguém que tivesse a doença, como uma forma de me livrar da dor da despedida. Mas aí a Cris chegou e quebrou as minhas crenças do medo. Do medo de ao menos tentar dar um novo passo, como se o amanhã não fosse chegar e eu tivesse ali, bem na minha frente, a oportunidade de construir um novo agora.

Algumas semanas após nosso primeiro contato, enquanto eu esperava um novo café que nos animasse a rir e compartilhar a vida, ela se foi para sempre e o que ficou, além das lágrimas de saudade, foi a alegria de ter tido a oportunidade de celebrar a vida com um ser cheio de medos e traumas, mas que em meio ao seu caos, me trouxe a calmaria de que a vida vale à pena ser vivida, enquanto ainda a possuímos nas mãos.

Mas Pri, estamos aqui em um portal de notícias de Favelas e você vem e nos conta uma história sobre saudade e tomar café?

Na verdade eu sigo acreditando que precisamos de uma trégua. Sim! Sempre que possível. Afinal somos bombardeados de dores a todo momento e temos esquecido de sentar, tomar um café e aproveitar nossos amigos, nossa família, pessoas que passam por nosso caminho e aproveitar principalmente a nossa própria companhia. Nos pegar pela mão, dançar e vez ou outra trocar o café pelo chá ou pelo vinho.


“ Arrumou, como pedido de favor, um pouco de café solúvel com a dona dos quartos, e, ainda como favor, pediu-lhe água fervendo, tomou tudo se lambendo e diante do espelho para nada perder de si mesma.
Encontrar-se consigo própria era um bem que ela até então não conhecia.

Acho que nunca fui tão contente na vida, pensou… Então precisava ela de condições especiais para ter encanto?” – A Hora da Estrela

Clarice Lispector



Quando li “A hora da Estrela”, me deparei com o trecho acima e me questionei se é realmente isso que nos falta. Tempo! Tempo para além das barricadas, dos intensos tiroteios, dos corpos no chão, de contar nossas dores para aparecer na televisão, no encontro com alguém famoso, que nos dê oportunidade de fala.
Veja bem, não estou dizendo que isso não seja importante para alavancar nossas bandeiras, mas é somente isso mesmo que nos resta? Já não basta os efeitos colaterais que vivenciamos dia-a-dia, pelos nossos territórios totalmente vulneráveis?

O que nos resta então, se não cuidarmos de quem somos? Cuidar da nossa mente, do nosso emocional. Olhe a sua volta, quantos dos seus amigos tomam cartelas semanais, de alguma tarja preta? Quantos dos seus, já quase surtaram ao longo dessa jornada chamada vida?

Em Maio de 2018, a OMS divulgou as mais recentes estatísticas mundiais de saúde e veja:

Uma das metas é até 2030, reduzir em um terço a mortalidade prematura por doenças crônicas não transmissíveis via prevenção e tratamento, e promover a saúde mental e o bem-estar.

• A probabilidade de morrer por diabetes, câncer, doenças cardiovasculares e doenças crônicas pulmonares entre 30 e 70 anos caiu para 18% em 2016, abaixo dos 22% em 2000. Adultos em países de baixa e baixa-média de renda enfrentaram os maiores riscos – quase o dobro da taxa para adultos em países de alta renda.

• Quase 800 mil mortes por suicídio ocorreram em 2016, no mundo!

Falo de tomar café e sentir saudade, pois é uma das coisas mais simples que eu poderia citar, para juntos entendermos o que realmente importa. Quais são os episódios que nos trarão a sutileza pra continuar emocionalmente saudável, para então militar e lutar as outras guerras que nos são impostas diariamente. Estamos em constante luto e luta e se não houver equilíbrio das nossas emoções, fatalmente não daremos conta.

É, eu sei que talvez você estivesse esperando uma pauta sobre o Cocielo, do Clipe do Nego do Borel e até mesmo da conferência da Malala no Brasil, mas sabe o que é? Antes de tudo isso, a gente realmente precisa sentar e tomar um café!

A conta por favor!